Crise do CNPq ameaça eventos e publicações da SBF

A 23ª edição do Simpósio Nacional de Ensino de Física (SNEF), o maior encontro de professores, pesquisadores e alunos de Física do Brasil, corre o risco de ter suas atividades prejudicadas, caso se confirme a falta de recursos solicitados ao CNPq. A falta de recursos da agência federal também pode impactar a Revista Brasileira de Ensino de Física (RBEF), principal publicação científica nacional da área.

Pela primeira vez em 48 anos, desde a primeira edição do SNEF, o CNPq negou o pedido da SBF de apoio à realização do simpósio. O SNEF é o maior evento da SBF e o mais importante na área de Ensino de Física. Congrega estudantes, docentes, pesquisadores nacionais e estrangeiros, da Educação Básica ao Ensino Superior, interessados em debater questões relacionadas às pesquisas sobre ensino e aprendizagem, novas estratégias e metodologias, a formação profissional dos docentes, as políticas públicas, bem como a relação da Física e seu ensino com a sociedade em geral. É o evento da SBF que mais atrai docentes da Educação Básica (24% dos participantes).

Em 2019, o SNEF será realizado em Salvador, Bahia, entre os dias 27 de janeiro e 01 de fevereiro, organizado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA). Foram estabelecidas parcerias com secretarias de educação municipais e estaduais para incentivar a participação de seus docentes no evento. O público estimado é de aproximadamente 2000 pessoas, sendo a maioria de estudantes (62%, de acordo com dados de eventos anteriores). Sem os recursos do CNPq, porém, a organização do 23ª SNEF não terá como garantir a programação prevista e a presença de todos os palestrantes convidados.

Também pela primeira vez, a Revista Brasileira de Ensino de Física (RBEF) teve seu pedido de auxílio ao CNPq indeferido. Publicada trimestralmente desde 1979, a RBEF se consolidou como o principal periódico de acesso aberto e revisado por pares da área no país, apresentando trabalhos de referência em ensino e divulgação científica. Entre outubro de 2017 e outubro de 2018, os artigos da revista publicados online na plataforma de acesso aberto Scielo receberam um total 1.142.763 acessos. Em maio de 2018, a RBEF ultrapassou a barreira de 100.000 acessos mensais. A publicação está indexada nas bases de dados bibliográficos internacionais Scielo, Scopus e Web of Science, não apenas em Física, mas em 22 áreas distintas de conhecimento. “Seus artigos têm a função de disseminação do conhecimento entre professores, estudantes (e também o público em geral) e o uso do seu conteúdo em salas de aula e laboratórios no aprimoramento de práticas pedagógicas”, conclui Peter Schulz, físico da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), em artigo publicado em setembro na RBEF, em que apresenta dados comprovando o impacto crescente da publicação. Sem o auxílio do CNPq, entretanto, a SBF não terá recursos para a publicação da revista ano que vêm.

A redução do orçamento da agência federal nos últimos anos ameaça seriamente a continuidade das principais atividades organizadas pela SBF. “Sempre recebemos auxílio do CNPq para a realização de todos os nossos encontros, escolas e para a publicação de nossos periódicos científicos”, lembra Marcos Pimenta, físico da UFMG e presidente da SBF. “O CNPq também financia a realização das Olimpíadas de Física, cujos orçamentos caíram muito nos últimos anos. Se continuar assim, não teremos condições de oferecer provas experimentais para os alunos, o que será um desastre.”

A SBF solicitou ao CNPq a reconsideração de suas decisões e aguarda resposta.

Fonte: Sociedade Brasileira de Física