Stemmer e a nossa pós-graduação

A UFSC iniciou seu primeiro mestrado em 1969. Estamos, portanto, comemorando o cinquentenário da nossa pós-graduação. O curso da Escola de Engenharia Industrial foi pioneiro no Brasil fora do eixo Rio, São Paulo, Belo Horizonte.

Na cerimônia comemorativa realizada em 08 de abril, falando como primeiro coordenador (integrador) daquele mestrado, levantei um questionamento sobre o efetivo início da pós-graduação na UFSC. Uma resposta institucional válida seria a data da criação pelo Diretor da Escola, professor Stemmer, da comissão encarregada de elaborar o projeto do curso para obtenção dos recursos necessários, que tive a satisfação de coordenar. Faziam parte da mesma os professores Arno Blass, Carlos Alfredo Clezar, João José Espindola, Nelson Back e Paulo Corsetti.

No entanto, estou convencido de que várias precondições foram indispensáveis para que esse pioneirismo fosse realmente concretizado. Considero que foi fundamental para este protagonismo a destacada atuação dos professores Stemmer e Ferreira Lima.

Caspar Erich Stemmer, filho de imigrantes alemães, prestou vestibular para Engenharia na UFRGS em 1949 tendo sido classificado nas provas escritas e orais em segundo lugar, com média 9,25. O primeiro classificado, Ernesto Bruni Cossi, com média 9,29, foi mais tarde o primeiro diretor da Escola de Engenharia da UFSC. 

Depois de concluir sua graduação na UFRGS em Engenharias Civil, Elétrica e Mecânica, Stemmer conseguiu uma bolsa de Rotary para realizar estudos avançados em Aachen, na Alemanha, por um ano. Nesta especialização deparou-se com uma universidade bastante diferente daquela existente em Porto Alegre. Ao invés de profissionais que davam aulas em tempo parcial, Stemmer vivenciou uma intensa interação entre a universidade e o sistema produtivo em engenharia.

Retornando em 1958, passou a ser professor do curso de Engenharia Mecânica da UFRGS. Tentou então implantar o modelo universitário alemão na UFRGS, mas pouco conseguiu fazer. Por insistência dos seus alunos, acabou se envolvendo na criação de uma empresa na frente da Escola de Engenharia. Convidado para ser Diretor da Escola de Engenharia da UFSC, Stemmer viu a oportunidade de implantar no Brasil partes do sistema alemão de ensino e pesquisa.

Contando com o decisivo apoio do Reitor Ferreira Lima, Stemmer introduziu, a partir de 1965, várias inovações no curso de graduação em Engenharia Mecânica. Os professores passaram a ser contratados para lecionar duas disciplinas, como uma forma de adoção do regime de tempo integral. Desta forma, os docentes passaram a ter condições de se afastar para realizar cursos de pós-graduação.

Também em 1965 foi aprovado o parecer Sucupira que regulamentou os cursos de mestrado e o doutorado no Brasil. Aproveitando estas circunstâncias, a Escola de Engenharia Industrial passou a enviar seus professores para fazer o mestrado na PUCRJ e na UFRJ. Em 1966, como forma de viabilizar a implantação do curso de graduação em Engenharia Elétrica, Stemmer criou a Fundação do Ensino da Engenharia (FEESC).

Com o retorno dos seis primeiros mestres e tomando conhecimento da criação do programa FUNTEC no BNDE para apoio financeiro à pós-graduação, Stemmer constitui em 1968 a comissão acima referida para elaborar o projeto de criação do primeiro curso de mestrado da UFSC. Os professores Alberto Luiz Coimbra da UFRJ e Lynaldo Cavalcante da UFPB ajudaram bastante na aprovação deste projeto.

Com a Reforma Universitária, o regime docente de dedicação exclusiva foi introduzido, facilitando o deslocamento de professores da UFSC para realização, dentro e fora da UFSC, de cursos de pós-graduação. O apoio do Reitor Ferreira Lima continuou sendo decisivo para viabilizar estes afastamentos.

No atual ranking nacional das universidades brasileiras, divulgado pelo jornal Folha de São Paulo (RUF 19), a UFSC ocupa um destacado 6º lugar, ficando atrás apenas da USP, UFRJ, UFMG, Unicamp e UFRGS. As paulistas, além da localização em São Paulo, recebem um generoso apoio da FAPESP e a três maiores federais estão em cidades e estados com potenciais bem maiores do que os UFSC.

Certamente este posicionamento destacado da UFSC no cenário universitário brasileiro tem muito a ver com o nível avançado da pós-graduação que oferece. Um início vanguardeiro e bem estruturado deve ser colocado como um importante componente deste sucesso institucional. A passagem do professor Stemmer pela Alemanha e seu empenho em realizar um trabalho bem qualificado merecem um amplo reconhecimento.

A FEESC que desempenhou no passado importante papel na gestão dos projetos FUNTEC e FINEP de apoio á implantação de cursos de pós-graduação, passou a partir de 2018 a ser denominada de Fundação Stemmer para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, como homenagem póstuma ao seu emérito criador.

Professor Aposentado