A missão da universidade aqui e agora (5ª parte)

Os fundamentos da autonomia: O ser humano vive numa realidade enigmática, mas, no entanto, as coisas os outros seres humanos, tem um conteúdo (sentido,) e uma forma (informação).

A realidade como verdade real, não é uma construção de nossa mente, realidade e mente são co-atuais, e existe uma retroalimentação continua entre as duas. A mente se observa arrastada pelo poder da realidade a qual deseja dominar. Mas, as coisas, os outros seres humanos y animais, são reais, mas não “a realidade”, não são a realidade última. Elas são realidades parciais e contingentes.  Assim, a lógica e a matemática nos levam a conclusão, do grande matemático: Cantor, deve existir uma realidade infinita Absoluta o Deus.

O problema de Deus não é arbitrário, nem extrínseco, nem pura teoria, nem um problema do além, é um problema intrínseco que se experimenta em nossa constituição pessoal. Precisamente, Viktor Frankl (1905-1997) que tem sido o prisioneiro n°  119.104 em Daschau,  demonstrou que existe um inconsciente espiritual, que não é impulsivo, mas propositivo, ao qual o ser humano pode aceitar, negar ou ignorar.

Frankl afirma que o homem é uma unidade e totalidade, na qual o eu espiritual se contrapõe ao físico, instintivo, que eu denomino o eu reptilico. O espírito e a dimensão da solidariedade, da arte, da ciência, do amor, o eu reptilico é egoísta, individualista, violento, de domínio, agressivo mas necessário para a vida. Entre eles existe um antagonismo psiconoético. Enquanto a relação espirito-instintos é obrigatória, o antagonismo é facultativo, sempre é uma possibilidade de puro poder. Que dimensão domina a qual. No mundo atual as pessoas estão dominadas claramente pelo eu o ego reptilico,

Esse poder está limitado pela realidade (=verdade), segundo as possibilidades que brinda, no processo histórico-social, as pessoas. A realidade é dinâmica, evolutiva, onde o contexto histórico do corpo social apresenta a pessoa condicionamentos e possibilidades.

O processo histórico que supõe um processo de “liberação progressiva” de todo tipo: material, social e político. Este processo não oferece garantias de que triunfara, pois, na realidade histórica está o princípio de possibilidade de liberação, como também de possibilidade de opressão e alienação

No processo de liberação aparecem os direitos humanos. Mas, pensar nestes direitos somente como “subjetivos” ou “Morales”, seria um grave reducionismo, dada sua complexidade. Por isto Ignácio Ellacuria,” mártir” no Salvador das forças militares que apoiaram um regímen totalitário e explorador, enumera uma serie de conceitos para a compreensão dos direitos humanos.

O primeiro e que são uma necessidade de convivência social e política, sem estes direitos se tornas inviável a esfera sociopolítica, na qual, os humanos se devem desenvolver. O segundo conceito e que são exigências físicas e morais da natureza humana e do conjunto da humanidade. De aqui a “Declaração Universal de Direitos Humanos” da ONU o 10 de dezembro de 1948 assinadas por todos os países de diferentes culturas e regimes de governo.

O tecer conceito é que são produto histórico, são o resultado de uma práxis histórica determinada pela vontade coletiva, como orientadora da conduta pública. O quarto é que os diretivos humanos são como aspirações, pois como partes da realidade histórica, são abertos e estão em constante mudança. O quinto conceito é que são prescrições éticas, pois humanizam ou desumanizam indivíduos, povos, culturas segundo seu comprimento ou não cumprimento.

Precisamente a Declaração Universal de Direitos Humanos reconhece a liberdade do ser humano e seu direito a educação. Precisamente as funções de pesquisa da verdade e seu ensino, exigem que elas estejam subordinadas somente a realidade (=verdade) sem nenhum condicionante estatal, ideológico, religioso, econômico, ou de qualquer outro tipo. Para isto é necessária a Autonomia universitária, que somente deve estar subordinada a verdade e a desenvolver a nação para benefício de todos seus cidadãos sem distinções, mas iniciando pelos mais necessitados.

Devemos lembrar que a universidade, desde sua origem, teve que lutar pela sua autonomia frente a diversos poderes que desejam someter a verdade a seus interesses de “poder”, seja econômico, político, religioso etc. Assim observamos na 2dfa parte as grandes greves dos estudantes n universidade de Paris em 1229 e 1231 nas quais muitos sacrificaram sua vida pela liberdade de procurar a verdade.

A luta pela autonomia, visava basicamente a redução dos controles eclesiásticos sobre a escolha dos dirigentes, a liberdade de conceder graus e liberdade de pensar. No entanto, a ironia é que, a parte sangrenta dos embates, ocorreu quase sempre, segundo Jacques Le Golf (“Os intelectuais na Idade Média” Brasiliense 4ta ed., SP 1985 pg. 65) nas disputas por espaço entre a corporação universitária e os burgueses locais.

A burguesia em formação, tanto como a Igreja, alimentava a intenção de apropriar-se dos conhecimentos da universidade para expandir sua influência. No entanto a universidade que era uma comunidade de mestres e aprendizes, cultivava uma natural capacidade de se insurgir, ante qualquer tentativa de limitar seu próprio ofício, “procurar a verdade”. Assim, a universidade foi ampliando sua influência como uma instituição social única a qual cabe a responsabilidade de elaborar a cultura de seu tempo.

Isto, demonstra que em nossas interpretações, sempre existe uma simplificação, no “poder real” existe sempre uma mistura de política, economia e religião, salientamos somente qual predomina e esquecemos dos outros fatores relacionados. Na universidade Brasileira atual aparece o poder econômico como principal fator do ataque as universidades, mas existe igualmente um poder político-cultural (estrangeiro) e religioso (seitas pentecostais) que estão muito relacionados, e não podemos simplificar muito, esta complexidade para não errar completamente o diagnostico

Conclusão: 1º) a luta pela autonomia é fundamental para conservar a instituição universitária, que não pode estar subordinada a outro interesse que não seja a procura total e absoluta da verdade

                     2º) em nossa luta, devemos ter presente sempre que existe no poder que ataca a universidade uma mistura de interesses econômicos, políticos e religiosos que não podem ser separados 

Professor Aposentado