Professores universitários que ganham o teto são minoria

Chamados pelo Ministro da Educação de ‘Zebras gordas’, docentes recebem em média R$ 11.109 por mês​

 

Os professores universitários foram tratados diretamente por Weintraub como ‘zebras gordas’ em evento realizado há duas semanas em São Paulo. Para uma plateia de dirigentes de instituições privadas de ensino superior, ele afirmou que, para recompor o orçamento do Ministério da Educação (MEC), vai atrás “do professor de uma federal, com dedicação exclusiva, que dá oito horas de aulas por semana e ganha de R$ 15 mil a R$ 20 mil por mês”.

Procurado, o MEC não se manifestou sobre o tema e não respondeu quantos profissionais estão nesse patamar — pediu para que O GLOBO procurasse cada universidade. Na Unifesp, onde Weintraub dava aula até assumir a Educação, somente um terço dos professores recebe a partir de R$ 15 mil — de acordo com dados da folha de pagamento de agosto de 2019, publicados após pedido via Lei de Acesso à Informação. O mais alto chega a R$ 30 mil.

Márcio Markendof, de 38 anos, é doutor com dedicação exclusiva da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Com sete anos de casa, ainda não está no patamar salarial criticado por Weintraub. No entanto, publicou na internet o texto “Como me tornei uma zebra gorda” que viralizou entre docentes:

“Assumi nesse semestre, a coordenação de pós-graduação em Literatura. Vou ter mais trabalho sem ganhar nada por isso, pois não recebemos por orientação.”

Um professor com dedicação exclusiva, como Márcio, não pode trabalhar em outro lugar além da universidade, onde dedica 40 horas semanais de atividades. Dessas, dá um mínimo de oito horas de aulas. O restante é dividido para três grupos de atividades: pesquisa, projetos de extensão e funções administrativas (como a participação de comitês ou a produção de pareceres).

Nos últimos dez anos, o Brasil viveu uma expansão do ensino superior aliada à qualificação dos docentes, e a combinação desses fatores acarretou em um aumento de 77% da folha de pagamento de pessoal do MEC.

O número de alunos da rede federal cresceu 52% no mesmo período, o de professores de ensino superior da rede pública subiu 55% e o de docentes com doutorado, 125%.

“O problema fiscal do Brasil não é por conta dos salários. O que causou impacto na folha de pagamento foi o crescimento do número de federais. Aí o país deveria ter sido mais cauteloso”, aponta Cláudia Costin, professora da FGV e diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais.

Sem cargos de comissão ou bolsas de pesquisa, apenas professores com doutorado, dedicação exclusiva e 16 anos de carreira conseguem chegar ao patamar salarial mais alto na Educação pública superior. Ou seja, são pelo menos 27 anos de qualificação somando o tempo na graduação, no mestrado e no doutorado.

“Se os salários não forem atrativos, as universidades não conseguirão bons professores. Estamos falando de profissionais altamente qualificados para os quais o mercado de trabalho oferece postos bem remunerados”, argumenta o professor Paulo Gomes.

A carreira de docente aparece em relatório da área econômica como a que provoca maior impacto nos gastos públicos. Isso se dá menos pelo valor do salário e mais pela quantidade de servidores federais dessa categoria profissional. Segundo relatórios divulgados pelo Ministério da Economia, o contingente de docentes é de 146 mil pessoas. 

A remuneração média de um professor federal, ligado ao Ministério da Educação, foi de R$ 11.109 em junho de 2018, de acordo com os dados do Ministério da Economia. Nesse mesmo mês, as carreiras jurídicas do Poder Executivo federal receberam, em média, R$ 24.025, mais alta remuneração média entre as categorias que mais pesam no Orçamento da União. 

 

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