Para economistas, pacote de Guedes vai acentuar desigualdade

Especialistas comparam proposta do governo às medidas adotadas no Chile, que levaram a uma convulsão social

A economista Monica de Bolle, diretora de estudos-latino americanos e mercados emergentes da universidade americana Johns Hopkins, foi uma das maiores críticas das políticas econômicas de Dilma Rousseff. Na última terça-feira (5), depois do anúncio do pacote econômico de Paulo Guedes para enxugar o estado, ela publicou no Twitter: “está na hora de o ministro sair dos anos 60 e 70”. 

Em entrevista ao site da Exame, De Bolle detalhou sua avaliação e disse que o estado mínimo proposto por Paulo Guedes não vai funcionar. “Seu foco, desde a campanha, é de transformar o Brasil numa espécie de estado mínimo tupiniquim. Mas não dá muito para imaginar como isso cabe em nossa Constituição de 88, que prega um estado de bem estar social”, afirmou. 

Segundo ela, a estratégia do governo de promover reformar por meio de  Propostas de Emenda Constitucional (PECs) fere as normas democráticas. “Ele fala em novo pacto federativo, mas não ouve a população. No limite, esse tipo de discussão deveria ser feita em uma assembleia constituinte.”

Questionada sobre a situação do Chile, ela diz que as manifestações no país vizinho dão uma ideia do “tamanho do problema” que teremos aqui. “No Brasil, com pobreza extrema, é ainda pior. Não se atenua a pobreza e a desigualdade sem um estado atuante. É preciso ter redes de proteção social fortes. O mercado não resolve sozinho, como já foi mostrado de todo jeito. O Paulo Guedes está preso nos anos 70 do Chile e dos Chicago boys”, disse. O país vizinho, segundo ela,  passa por uma convulsão justamente pela ausência de bem estar social, mesmo após todas as reformas. Bolle ressalta que o ministro brasileiro não entende de políticas públicas e do impacto delas na vida das pessoas.  

Sobre a necessidade de reformas, De Bolle defende mudanças, por considerar o estado pesado e ineficiente. “Mas não dá para o estado brasileiro ser reduzido a ponto de só oferecer o básico do básico. O pensamento macroeconômico moderno, que tem sido construído mundo afora, é o estado precisa mirar as tensões sociais”, afirma. “Ser liberal não pressupõe só estado mínimo, mas sim um estado de tamanho ótimo. Na visão liberal, o estado pode, sim, atacar problemas sociais e dar ao mercado as condições de fazer outras coisas. Não há nada de heterodoxo nisso.” 

Em sua coluna no UOL, o jornalista e economista José Paulo Kupfer também fez críticas a intenção do ministro Paulo Guedes de reduzir o Estado a menor dimensão possível e fez referências à experiência chilena. “No Chile, um país de pequena dimensão territorial, com uma população total menor do que a da Grande São Paulo, a aplicação do modelo que, na essência, se tenta agora replicar no Brasil, promoveu crescimento econômico. Mas, ao mesmo tempo, produziu profundas desigualdades de renda e riqueza”, diz o economista. “Num país como o Brasil, de dimensões continentais e população acima de 200 milhões de pessoas, com péssima distribuição de renda e alarmantes índices de pobreza, as reformas agora propostas parecem não listar entre as prioridades o necessário aumento de bem-estar das camadas mais pobres” 

Leia na íntegra a coluna de José Paulo Kupfer neste link