“Sem apuração profunda no Enem, não se sabe quem errou nem como corrigir o erro”, diz pesquisador da USP

Leia entrevista de Ocimar Alavarse, um dos maiores especialistas em avaliações educacionais do País

Ocimar Alavarse é um dos principais especialistas em avaliações educacionais do país. Na Universidade de São Paulo (USP), ele leciona e coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional (Gepave) e se tornou uma das vozes mais críticas à gestão do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que parecia balançar no cargo até alguns dias atrás.

Nas últimas duas semanas, o ministério ficou em destaque por conta de uma série de falhas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), maior prova do país para ingressar em universidades públicas e pleitear bolsas nas privadas, com repercussão no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que distribui as vagas como base na performance dodos alunos. Ao menos 5.974 candidatos tiveram problemas de correções em suas provas, que acabaram sendo corrigidas, conforme o MEC.

O caso parou na Justiça, que por dois dias impediu a divulgação dos resultados da seleção. Mas a liminar acabou sendo derrubada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). A gestão Jair Bolsonaro alegou no Judiciário que as universidades tinham um cronograma de seleção de seus calouros e que ele seria comprometido caso a restrição da divulgação dos resultados se mantivesse. “O Governo tentou ganhar um tempo que comprometeu a fidedignidade, a precisão do exame, assim como a credibilidade do Enem”, pondera Alavarse. Leia trechos da entrevista:

Em sua opinião, qual foi a maior falha nesse processo no Enem?

Diante das dúvidas que os estudantes levantaram, você tinha de parar o processo e fazer uma auditoria. Porque pode ter sido um erro isolado ou erro sistêmico.

Como seria esse erro sistêmico?

Por exemplo, um problema no conjunto do processamento, em instruções que foram contaminando os resultados. De qualquer forma, só se pode saber isso se fizer uma auditoria.

Mas, em tese, o Inep já não teria um corpo qualificado para analisar esses problemas?

Sim, tem. Porém, dada a posição social e política do Enem, é preciso fazer uma auditoria com pessoas de fora para que não paire nenhuma dúvida.

Há exemplos de auditoria que foram feitas em exames diferentes?

Aqui em São Paulo teve um problema de processamento na prova São Paulo, da rede municipal. Na época, era a gestão [Gilberto] Kassab. O problema era parecido com o do Enem de agora, apareceram resultados diferentes do que deveriam ser. A Prefeitura autorizou a contratação de especialistas que fizeram a varredura e encontraram o problema. Era um problema sistêmico. A maneira como se processa as provas interfere no resultado e isso foi resolvido.

Nesse caso, resolveria um problema desse tamanho?

 Dependendo do contrato que se faça, pode-se resolver isso em poucos dias. Menos de uma semana, eu diria. A resolução depende, na verdade, dos problemas que se detectam.

Acha possível a realização de um novo Enem?

Essa hipótese não está afastada. Nem que seja uma avaliação parcial. Há uns cinco anos teve um vazamento de um pré-teste do Enem em Fortaleza (CE) e os alunos de uma escola foram beneficiados com esse vazamento. Aqueles alunos não foram excluídos do processo. Tiveram de fazer uma nova prova.

Leia na íntegra: El País