Embaixada da China repudia tuíte irônico de Weintraub: ‘cunho fortemente racista’

Ministro insinuou que China sairá “fortalecida” da crise atual e, em live com Eduardo Bolsonaro, afirmou que nova epidemia deve surgir no país asiático

A Embaixada da China no Brasil se manifestou, na madrugada desta segunda-feira, 6, contra uma publicação do ministro da Educação, Abraham Weintraub. Em sua conta oficial no Twitter, o ministro insinuou que a China vai sair “fortalecida” da crise atual causada pelo novo coronavírus, apoiada por seus “aliados no Brasil”, associando a origem da covid-19 ao país asiático.

“Deliberadamente elaboradas, tais declarações são completamente absurdas e desprezíveis, que têm cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil”, diz a nota divulgada no Twitter da Embaixada. O comunicado afirma ainda que “o lado chinês manifesta forte indignação e repúdio a esse tipo de atitude”.

No sábado, Weintraub usou uma imagem do Cebolinha, personagem da Turma da Mônica, na Muralha da China e, substituindo o “r” pelo “l”, fez referência ao modo de falar do personagem, para insinuar que se tratava dos chineses.

“Geopoliticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?”, escreveu o ministro. A publicação não está mais disponível.

A nota da Embaixada reforçou que a pandemia do novo coronavírus trouxe um desafio que nenhum país consegue enfrentar sozinho. “A maior urgência neste momento é unir todos os países numa proativa cooperação para acabar com a pandemia com a maior brevidade possível.”

Por fim, o comunicado destaca que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a comunidade internacional se opõem explicitamente à associação de vírus a um certo país ou uma certa região, combatendo a estigmatização sobre qualquer pretexto. “Instamos que alguns indivíduos do Brasil corrijam imediatamente os seus erros cometidos e parem com acusações infundadas contra a China”, finalizou a nota.

Weintraub sugere que nova epidemia irá surgir na China nos próximos anos

Convidado em uma live nas redes sociais do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o ministro da educação disse ontem (5) que considera alta a probabilidade de uma nova epidemia surgir na China, durante os próximos dez anos, porque os chineses comem “tudo o que o sol ilumina” e não são como os brasileiros, que “criam porco no chiqueiro”.

Nas últimas semanas, Eduardo esteve em um entrave diplomático com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanmin, por ter chamado o novo coronavírus de “vírus chinês”. O embaixador cobrou um pedido de desculpas e afirmou que o deputado brasileiro tinha contraído um “vírus mental”.

“Eu discordo de você que este é o vírus chinês. É um vírus chinês”, comentou Weintraub com o filho do presidente. Segundo ele, nos últimos anos, foram quatro epidemias – e todas vindas da China. “Eu até fui estudar isso no passado porque afeta o mercado financeiro”.

Segundo o ministro, isso acontece porque, na China, os animais ficariam mais expostos e em contato com humanos. “Porco, aqui [no Brasil], a gente cria no chiqueiro. A população está quase toda urbanizada. Não cria frango e porco em casa”, comparou.

“Nos próximos dez anos vem outra doença dessas da China?”, perguntou o ministro, para responder imediatamente em seguida: “A probabilidade é bem alta. Eles não vão mudar os hábitos deles”.

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Conforme publicação da Folha de S. Paulo, a agência de notícias chinesa Xinhua realizou levantamento com 13 correspondentes na América Latina. São cerca de 30 mil casos de coronavírus na região, com mais de um terço no Brasil.

Na rede CCTV, ressaltaram que “três epidemias estão para acontecer ao mesmo tempo no Brasil”, considerando dengue e gripe. Já o diário Xin Jing Bao, de Pequim, entrevista uma chinesa em São Paulo que conta como o país foi “lento” ao reagir e até agora, por exemplo, “poucos usam máscaras”

Fontes: Estadão Conteúdo/O Valor