Nicolelis: Estamos numa guerra e inverno será o pico para outras infecções

“É essencial que os governadores tenham as informações que a ciência pode fornecer para eles tomarem decisões que vão afetar a vida de milhões de pessoas”, diz o cientista

Médico e premiado neurocientista brasileiro, Miguel Nicolelis é um dos coordenadores do comitê científico montado pelo Consórcio Nordeste, que congrega os  nove governadores da região, para orientá-los a tomar medidas no combate ao coronavírus em seus estados. Em entrevista ao UOL, ele afirmou que o isolamento social é a prioridade absoluta nesse momento e que ainda é muito cedo para repensar a medida.

Pós-doutor em fisiologia e biofísica e professor e codiretor do Centro de Neuroengenharia da Universidade Duke, nos Estados Unidos, Nicolelis disse ainda que “estamos numa guerra” e que, com a chegada do inverno, o país terá ainda mais problemas, devido à confluência de doenças como influenza, dengue e Chikungunya com a covid-19.

O trabalho de Nicolelis ganhou destaque na mídia durante a abertura da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, quando um exoesqueleto criado por ele possibilitou ao paraplégico Juliano Pinto dar um chute leve numa bola.

Inverno será “tempestade perfeita”

Nicolelis afirmou que inverno deve coincidir com momento da epidemia da covid-19, o que deve gerar um cenário problemático na rede pública de saúde.

“É preciso lembrar que estamos entrando no outono e vamos entrar no inverno, período de pico para infecções. E vamos ter uma tempestade perfeita para a confluência dessas doenças com o coronavírus. Doenças como a influenza, dengue e Chikungunya – essas duas últimas não são endêmicas na Europa e nos Estados Unidos”, observou.

“Nosso problema aqui pode ser cumulativo, porque os casos de coronavírus podem ocorrer junto com outras doenças ao mesmo tempo, e o sistema de saúde, ser completamente inundado de pacientes.”

O cientista explicou que o ciclo da gripe no Brasil é medido pelo começo em Fortaleza. “Um dos pesquisadores de lá nos informou que, no Brasil, ela começa a aparecer quando surgem os primeiros casos no Ceará. E já começaram a aparecer. É como se tivesse um alerta inicial para o Brasil. Podemos ter a confluência de todas essas moléstias infecciosas”, relatou.

“Isolamento social é essencial”

O neurocientista elogiou a decisão dos governadores de contratar cientistas para embasar as decisões e disse que o modelo deve ser seguido por todos. Além dele, o comitê científico do Nordeste é coordenado pelo físico e ex-ministro Sérgio Rezende.

“É essencial que os governadores tenham as informações que a ciência pode fornecer para eles tomarem decisões que vão afetar a vida de milhões de pessoas. Nós vamos criando redes de contatos com todos os profissionais como médicos, tecnólogos, cientistas, epidemiólogos, médicos, sanitaristas, cientistas da computação dos estados do Nordeste e de outros estados, para poder suprir os governadores com informações e propostas em múltiplas áreas. Essa pandemia tem de ser atacada de maneira multidirecional. Os problemas são múltiplos”, relatou.

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