Bolsonaro nomeia indicado do PL, partido do centrão, para diretoria de fundo bilionário da Educação

Garigham Amarante Pinto é nome de confiança de Waldemar Costa Neto; nomeação contraria Weintraub

Em mais um gesto de aproximação com os partidos do Centrão da Câmara dos Deputados, o presidente Jair Bolsonaro nomeou ontem o chefe de gabinete da liderança do PL na Câmara dos Deputados e advogado Garigham Amarante Pinto como diretor de ações educacionais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

A diretoria é uma das seis do bilionário FNDE, fundo de R$ 29,9 bilhões responsável por grande parte dos investimentos do Ministério da Educação – e que, por decisão do Congresso no ano passado, ganhou autonomia orçamentária em relação ao ministro Abraham Weintraub. A diretoria cedida agora cuida de ações como o Programa Nacional de Alimentação Escolar, a distribuição de livros didáticos e recursos para transporte escolar.

Weintraub é um dos ministros mais resistentes a nomear indicados do centrão. Segundo líderes partidários na Câmara, o ministro ficou tão contrariado com a obrigação de ceder a presidência e diretorias do órgão que sugeriu ao ministro Walter Braga Netto  (Casa Civil) que assumisse o órgão em sua pasta. Braga Netto, no entanto, teria recusado a oferta.

O Planalto, então, colocou Weintraub na parede. Sob a ameaça de ser exonerado, o ministro cedeu. Em reuniões coletivas e individuais, Bolsonaro avisou que suas indicações deverão ser respeitadas ou ele poderá substituir a equipe.

Desde então, Weintraub diz a pessoas próximas que criará filtros de gestão na pasta para garantir qualidade. ​Apesar de gerenciar programas importantes dentro do FNDE, a diretoria de Ações Educacionais trabalha com um orçamento com baixa discricionariedade de execução.

Quem é o novo diretor do FNDE

Advogado, Garigham trabalhava há anos na liderança do PL na Câmara, onde atuou na assessoria das votações em plenário e chegou a chefia de gabinete. Ganhou a confiança dos parlamentares e em especial do ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP), que teve o mandato cassado e saiu oficialmente da presidência do partido após ser preso por envolvimento no mensalão do PT, mas continua a dar as cartas na legenda. Atualmente, o agora diretor do FNDE era assessor direto do líder Wellington Roberto (PB) – que apoiou o PT na eleição e foi contra a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como adversários de Bolsonaro nos partidos de direita fizeram questão de relembrar ontem.

Entre os políticos, a expectativa é de que um indicado pelo PP assuma o comando do órgão nos próximos dias. O ministro vinha resistindo às investidas do Centrão e tentava manter Karine Santos, funcionária de carreira do FNDE que foi nomeada por ele em dezembro para o lugar de Rodrigo Dias, aliado do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que assumiu em agosto, após a aprovação da reforma da Previdência.

As nomeações para o FNDE somam-se a outras encampadas por PP, PL e Republicanos nas últimas semanas em troca de apoio ao governo no Congresso e, em especial, para barrar as tentativas de impeachment do presidente. Esse grupo já recebeu, nessa aliança mais recente, o comando do Departamento Nacional de Combate as Secas (Dnocs), indicado por um consórcio entre PP e Avante, e a Secretaria Nacional de Mobilidade do Ministério do Desenvolvimento Regional, cargo de responsabilidade do Republicanos, com os postos nos Estados compartilhados também com o nanico PSC.

O grupo ainda espera nomeações para chefias de bancos públicos, como o Banco do Nordeste, prometido ao líder do PL, e outras secretarias de ministérios, como o da Agricultura, do Desenvolvimento Regional e na Saúde. O deputado Ricardo Barros (PP-PB), ex-ministro da Saúde, estaria se movimentando para voltar ao cargo, mas não contaria com apoio da cúpula do PP.

Além desse grupo, o PSD também negocia cargos no Fundo Nacional da Saúde (Funasa) e o DEM e o MDB, que dizem não estarem negociando cargos, tiveram no fim de semana a recondução de dois ex-deputados para o conselho de administração de Itaipu Binacional.


Folha de São Paulo

Valor Econômico