Feder desiste do MEC após pressão de ala ideológica sobre Bolsonaro

Secretário estadual do Paraná recebeu convite para assumir a Pasta da Educação mas anunciou recusa ontem; reitor da Unoesc é um dos cotados para o cargo

Alvo de disputas de diferentes alas do governo, o Ministério da Educação segue sem um titular definido. O secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, anunciou publicamente ontem que foi convidado pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir a pasta, mas decidiu recusar.

Segundo auxiliares do presidente, a nomeação de Feder já havia sido inviabilizada pela resistência de grupos de evangélicos e olavistas. No fim de semana, Bolsonaro recebeu novas indicações para a Pasta e foi aconselhado a analisar com cautela todas as opções, como forma de diminuir resistências internas e evitar um novo constrangimento, como o da saída precoce de Carlos Alberto Decotelli, que surpreendeu o governo com informações falsas em seu currículo acadêmico e ficou apenas cinco dias no cargo.

Reitor da Unoesc é um dos cotados para o cargo

Ainda assim, o objetivo do presidente é definir um novo titular nesta semana. Entrou na lista de cotados um nome que chegou às mãos de Bolsonaro no sábado: o reitor da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), Aristides Cimadon. Em viagem para sobrevoar áreas atingidas por um ciclone, o presidente recebeu a indicação via integrantes da bancada catarinense. Ele deve ir ao Palácio do Planalto nesta semana para uma audiência com o presidente.

Outro grupo envolvido na disputa sobre o futuro do MEC é formado pelos seguidores do guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho, que tentam encampar um nome alinhado a políticas que eram conduzidas pelo ex-ministro Abraham Weintraub, demitido após declarações de afronta a integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF). Uma das sugestões levada por esta ala ao presidente é optar por uma solução interna, com a elevação de um dos atuais secretários da pasta ao cargo de ministro. Bolsonaro já avaliou esta possibilidade no início das discussões e ela não está descartada.

Entre os nomes apontados estão o do secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, e o da secretária de Educação Básica, Ilona Becskeházy, ambos simpatizantes de Olavo de Carvalho. O advogado Sérgio Sant’Ana, que já foi assessor no MEC e chegou a ser recebido por Bolsonaro antes da escolha de Decotelli, também segue na lista.

A tentativa de retirar de todos os postos importantes do MEC os escolhidos na última gestão, aliás, foi um dos motivos pelos quais o reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Anderson Ribeiro Correia, perdeu força na disputa ao comando da pasta. Ele teria pedido carta branca ao presidente para formar sua equipe, mas Bolsonaro quer manter cargos de relevância com a ala ideológica.

Outro grupo envolvido na disputa para indicação é formado por ministros militares e oficiais de alta patente, que já haviam indicado Decotelli. Mesmo diante do revés, o presidente não descarta escolher outro nome levado por esta ala, que vem defendendo a necessidade de afastar o MEC de polêmicas no campo ideológico. Isso só seria viável, segundo os militares, com uma reviravolta no modus operandi dos dois últimos titulares da pasta, Weintraub e Ricardo Vélez.

Interlocutores do presidente acreditam que o anúncio da preferência por Feder, na sexta-feira, foi uma estratégia para identificar pontos de resistência interna. A tática deverá ser adotada novamente nos próximos dias com outros cotados. O foco em promessas de resultados práticos e de inovação à frente da pasta chamava atenção de auxiliares e do próprio presidente no discurso de Feder, por isso o nome foi considerado favorito. Ele já havia sido cotado antes da escolha de Decotelli.

Com a demissão precoce, tentou se cacifar novamente a partir de sua influência no meio empresarial, como proprietário da empresa de produtos de tecnologia Multilaser, e dos contatos no meio político, com apoio de integrantes do Centrão, do governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), e do ministro das Comunicações, Fabio Faria (PSD).

Bolsonaro estava disposto a desconsiderar o fato de Feder ter doado R$ 120 mil ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), quando concorreu à prefeitura da capital paulista, em 2016, pois entendia que a ligação com seu inimigo político estava no passado. Ao indicar que escolheria Feder, no entanto, o presidente se viu diante da reação de olavistas e integrantes da comunidade evangélica, que militam por um titular que comungue de valores cristãos e conservadores.

A aliados, Feder confidenciou que o presidente pediu que ele não se manifestasse sobre o convite antes do próprio Bolsonaro fazer o anúncio. Mesmo respeitando a orientação, foi alvo de reações de grupos do governo. Irritado com a falta de ação do presidente, decidiu fazer, ontem, o anúncio de sua desistência para evitar desgaste e constrangimento.

Valor Econômico