Disputa pelo MEC expõe fissura entre base e militares

Deputados do PSL que devem migrar para o Aliança pelo Brasil dizem ver sua influência sobre o governo minguar

A indefinição em torno do novo titular do Ministério da Educação reabriu uma ferida antiga, mas que já parecia cicatrizada, na relação entre bolsonaristas raiz no Congresso e ala militar do governo – personificada nos ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Walter Souza Braga Netto (Casa Civil).

Depois de um período de relativa calmaria, parlamentares da tropa de choque do presidente Jair Bolsonaro na Câmara voltaram a se queixar nos bastidores da atuação dos dois generais, que despacham no Palácio do Planalto.

Ramos e Braga Netto, por sua vez, enxergam nas críticas dos parlamentares uma insatisfação com a perda de espaço de radicais na esplanada dos ministérios, em detrimento do aumento da influência do Centrão sobre o governo.

O MEC, por exemplo, era um antigo feudo dos radicais, mas dificilmente terá um titular tão ideológico quanto Abraham Weintraub – demitido por pressão do Legislativo e do Judiciário após ter defendido a prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a quem chamou de “bandidos”.

Entre os principais cotados, estão nomes indicados pelos militares, como o reitor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), além de Anderson Correia, o pastor Milton Ribeiro, ex-vice-reitor da universidade Mackenzie; e o professor da Unb (Universidade de Brasília) Ricardo Caldas.

Os militares também atribuem a irritação dos bolsonaristas ao comportamento mais moderado do presidente nas últimas semanas, aconselhado por eles para distensionar o clima entre os Poderes.

As queixas partem de deputados do PSL que devem migrar para o Aliança pelo Brasil assim que o novo partido for criado. Falando sob anonimato, sete deles dizem ver sua influência sobre o governo minguar e demonstram irritação com os generais ministros.

Nas conversas, apontaram o dedo para Ramos, que teria sido incapaz de construir uma base para o governo no Congresso com negociações e concessões. Esse comportamento, acreditam, forçou o governo a abrir espaço em cargos para contemplar novos aliados.

Ramos, afirma, deu muito poder ao Centrão, que agora interfere em escolhas pesadas como a do ministro da Educação. Esses aliados tradicionais de Bolsonaro estão se sentindo pouco contemplados, pouco ouvidos, por conta do que veem como deficiência na articulação política do Planalto.

Quanto a Braga Netto, as principais reclamações são relacionadas à falta de ajuda em projetos específicos que afetam diferentes ministérios. Os deputados afirmam que raramente sabem como proceder nessas votações devido à falta de orientação da Casa Civil, responsável pela articulação entre os vários setores do governo.

Ramos e Braga Netto percebem o incômodo dessa parte da base, segundo interlocutores. Mas também acreditam que, apesar disso, é preciso angariar apoio mais numeroso no Parlamento para que projetos de interesse do governo sejam aprovados. São 34 os deputados bolsonaristas do PSL, enquanto o chamado Centrão conta com mais de 200 parlamentares.

De acordo com fontes do Planalto e no Congresso, Bolsonaro pretende escolher o novo ministro da Educação até o fim desta semana.

Valor Econômico