Congresso quer ouvir novo ministro da Educação sobre declarações polêmicas

Além de defender o castigo físico como forma de educação, Milton Ribeiro disse que universidades “ensinam sexo sem medida” e que o homem deve ser o líder em casa

As declarações do novo ministro da Educação, o pastor presbiteriano Milton Ribeiro, sobre crianças, mulheres e sexualidade, que ganharam as redes desde ontem, repercutiram mal no Congresso entre parlamentares ligados à área educacional. Deputados querem saber se ele levará para o ministério posições que expressou até recentemente nos púlpitos religiosos. A Frente Parlamentar Mista da Educação e a Comissão de Educação da Câmara querem ouvir esclarecimentos do ministro a respeito dessas posições e seus planos para a pasta. Os dois grupos pretendem fazer o convite na próxima semana.

Em vídeos de pregação religiosa, Milton defendeu o castigo físico como uma forma de pais educarem os filhos, disse que universidades “ensinam sexo sem medida” e que o homem deve ser o líder em casa.

“Circula uma série de informações sobre posições assumidas por ele no passado que é muito preocupante. A visão da legitimidade, da propriedade dos castigos físicos na educação, está superada secularmente. Isso é um retrocesso inacreditável e intolerável”, disse ao Congresso em Foco a presidente da Frente Parlamentar da Educação, deputada Margarida Salomão (PT-MG), ex-reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A cúpula da Comissão de Educação em 2019, que não foi instalada este ano por causa da pandemia, pretende encaminhar um convite ao novo ministro.

Desconfiança

Margarida diz que é preciso saber do ministro se ele ainda tem as mesmas convicções. Ela ressalta que não há qualquer problema em ele ser pastor. “Poderia ser padre, budista. Todos têm direito a professar sua fé religiosa. O que não pode é transferir essas convicções da esfera privada para a pública, isso compromete o exercício da função pública”, declarou a deputada.

“Ele tem todo direito de ter mudado de pensamento. Precisamos ouvi-lo. Mas no contexto de uma gestão desastrosa da educação, como temos tido, esses vídeos aumentam nossa desconfiança”, acrescentou.

Para Margarida, o novo ministro ainda é uma incógnita por ser pouco conhecido da comunidade acadêmica e por não ter experiência em gestão pública. Milton foi vice-reitor da Universidade Mackenzie, ligada à Igreja Presbiteriana, da qual faz parte.

Segundo a deputada, o nome do reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Anderson Ribeiro Correia, que era dado como favorito para o ministério, teria sido recebido com maior naturalidade, devido à gestão feita por ele na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em 2019, e à importância da instituição que comanda.

Castigo a crianças

Em uma pregação de 2016, Milton Ribeiro diz que “um tapa de um homem ou uma cintada de uma mulher podem ser muito mais fortes que uma criança pode suportar”. “Não estou aqui dando uma aula de espancamento infantil, mas a vara da disciplina não pode ser afastada da nossa casa”, acrescentou. Para ele, as crianças devem sentir dor para entender. “Talvez uma porcentagem de crianças muito pequenas, de criança precoce, superdotada, é que vai entender o seu argumento. Deve haver rigor, desculpe, severidade. E vou dar um passo a mais, talvez algumas mães até fiquem com raiva de mim: devem sentir dor”.

Sexo sem limites

O pastor também afirmou que as universidades estimulam a “prática sexual sem limites”. “Para contribuir para uma prática sexual sem limites do sexo, veio a questão filosófica do existencialismo em que é o momento o que importa. Não importa se é A, B, se é homem, se é mulher, se é esse, se é aquele, se é velho ou se é novo. Não interessa. O que interessa é o momento”, afirmou. “Depois daquilo que chamam de revolução sexual dos anos 60, com a chegada da pílula e de uma liberdade maior nessa área sexual, o mundo perdeu a referência do que é certo e do que é errado em termos de conduta sexual”, acrescentou.

Paixão louca

Em 2013 o novo ministro disse que um homem de 33 anos que matou uma adolescente de 17 “confundiu paixão com amor”. “Acho que esse homem foi acometido de uma loucura mesmo e confundiu paixão com amor. São coisas totalmente diferentes. Ele, naturalmente movido por paixão, paixão é louca mesmo, ele então entrou, cometeu esse ato louco, marcando a vida dele, marcando a vida de toda família. Triste”, disse.

Homem à frente

Em outra gravação, o novo ministro da Educação defende que o homem deve apontar os rumos da família. Do contrário, ela será atacada por inimigos. “Quando o pai é ausente dentro da casa, o inimigo ataca. Quando o pai não impõe —impõe, essa é a palavra, me desculpe, é a palavra usada— a direção que a família vai tomar… Não é que ele é o mandatário que sabe tudo, não. Mas ele, o pai, o homem, dentro da casa, segundo a Bíblia é o cabeça do lar, ele aponta o caminho que a família vai tomar”, afirmou.

Casamento gay

No governo Dilma, Milton Ribeiro também criticou em culto o Bolsa Família, dizendo que o cidadão “usa com tudo menos comida”. Na mesma ocasião também condenou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. “Quando eu vejo a massa de orientação daqueles que ensinam nossos filhos nas escolas. Tem escolas que não tem Dia das Mães e Dia dos Pais. Em algumas escolas se fala até de casamento gay com os meninos, com as crianças. Aqueles que deveriam defender os princípios éticos são os mesmos que atacam a nossa nação”, criticou.

Fonte: Congresso em Foco