Quarentena deve impulsionar modelo híbrido nas escolas

Professores da educação básica tiveram que se adaptar às plataformas virtuais

Professores e estudantes tiveram que se adaptar no susto ao uso de recursos digitais para que a ligação com a escola não fosse interrompida durante o período de distanciamento social.

Se essa experiência ampliou desigualdades, também criou oportunidades para a inovação. No pós-pandemia, espera-se que haja uma aceleração da educação híbrida, que combina interação presencial e online.

“Estamos caminhando para o ensino híbrido. Não vai ser com tudo que a boa prática demanda, mas a gente está construindo um processo de aprender na crise”, afirma Claudia Costin, ex-diretora de educação do Banco Mundial. “A resposta educacional obrigou os professores a entrarem em um processo de dor, porque eles não foram preparados para desenvolver competências digitais. Mas, de alguma maneira, eles aprenderam”, completa.

Assim que as aulas foram interrompidas, em março, a professora Marcia Cristina Bacic, 46, que leciona biologia, química e ciências na rede estadual em Jacupiranga (interior de São Paulo), criou canais para não perder o vínculo com os estudantes.

Ela usou uma página no Facebook para passar atividades. Sua ideia foi propor trabalhos que aproveitassem o fato de os alunos estarem em casa. Marcia pediu, por exemplo, que eles desenhassem uma planta da residência, distribuindo tomadas e aparelhos elétricos. Os alunos também fizeram experimentos com reações químicas —alguns até gravaram vídeos com as explicações, como se estivessem num programa de culinária.

“Foi bem rica essa experiência, eles tiveram ideias muito criativas”, afirma ela. Para o ensino médio, a professora criou salas de aula virtuais no Google Classroom. Já para os alunos da zona rural, que não têm acesso a internet, a única solução foi o envio de materiais impressos.

Para que essa experiência transformadora gere resultados na educação serão necessárias políticas públicas nesse sentido, diz Claudia Costin. “É preciso olhar para a formação de professores e investir em infraestrutura para garantir internet banda larga.”

E, mais do que uma junção do online com o presencial, o ensino híbrido requer uma nova mentalidade, diz Lilian Bacich, diretora da consultoria Tríade Educacional. “Se você pega uma aula expositiva, que já não é o melhor dos mundos no presencial, e leva igualzinha para o digital, você não aproveita o melhor do online e ainda piora o presencial”, diz.

Segundo ela, é preciso aproveitar a experiência vivida agora para colocar os estudantes no centro do seu processo de aprendizagem, fazendo com que busquem ativamente o conhecimento em vez de só recebê-lo do professor. “Se não fizermos isso, não vamos ter aproveitado nada deste período tão trágico.”

Leia na íntegra: Folha