Eleição para reitor: a experiência administrativa como obstáculo à mudança

 

Em “A armadilha das urnas: 20 anos de eleições diretas e de continuísmo na UFSC”[1], procuramos na história da UFSC  a resposta para a seguinte pergunta: Por que as eleições diretas para reitor, que deveriam permitir a chegada à Reitoria das forças políticas anti-ditatoriais, acabaram consolidando as posições dos partidários do regime militar? 

Quando escrevemos aquele texto, não percebemos que além dos requisitos formais, o reitor escolhido, além de ser do gênero masculino, sempre atendeu uma exigência não escrita: compor o grupo que dirigia a UFSC no momento da escolha. A exigência de ter passado pela Administração Central da UFSC não foi violada, nem mesmo em 1992 com a eleição do professor Diomário de Queiroz, que havia sido pró-reitor na gestão do professor Rodolfo. Naquela eleição, não chegou ao 2º turno o professor Luiz Fernando Scheibe, que não cumpria o requisito de ter passado por uma espécie de iniciação à Reitoria, como pode ser interpretada a experiência de fazer parte da Alta Administração. 

Como sabemos, o professor. Diomário não conseguiu eleger sua sucessora, a professora. Nilcéa Pelandré, com o que retornaram à Reitoria as forças que vinham comandando a UFSC desde 1961. 

Como procuramos mostrar no artigo mencionado, na eleição da atual administração estas forças se reciclaram ao aliar-se com novas lideranças cuja influência se sustenta em práticas universitárias empresariais e no controle sobre os recursos das fundações. A aliança, pelo menos no que diz respeito à Reitoria, parece não ter dado os resultados esperados, pois o reitor e seu vice não são candidatos. Esta situação curiosa e inusitada não tem sido objeto de reflexões abertas na comunidade universitária, o que não significa que ela não seja intrigante e importante. Algo muito sério deve estar acontecendo para que os dois naturais candidatos não estejam disputando a reeleição. 

Embora tenham sido inscritas três chapas, apenas duas estão de fato concorrendo à Reitoria: a chapa formada pelos professores. Prata e Paraná, que atende o preceito de ter passado pela Alta Administração e a chapa composta pelos professores Nildo e Maurício, que não tiveram esta experiência e são criticados por isso. 

Diante do que argumentamos acima, cabe perguntar: o que significa experiência na Alta Administração? Entre outras possibilidades, significa conhecer como a UFSC tem sido administrada, concordar com as práticas adotadas e se comprometer com a sua continuidade, pelo menos no essencial. E quais as práticas que a candidatura experiente vai defender? Ora, as que vêm sendo adotadas há várias décadas e que não podem ser defendidas por quem no momento é responsável por elas. Em outras palavras, a continuidade de tais práticas parece exigir que o reitor e o vice não sejam candidatos. 

 Esta missão caberá a dois professores com experiência, porque a falta dela significa a entrada na Reitoria de pessoas e grupos não comprometidos com práticas e concepções de universidade que estão sendo fortemente questionadas, pela comunidade universitária e pelo Ministério Publico e pelas quais o professor. Lúcio não é o único responsável, até porque não se iniciaram na atual gestão. Vem de muito tempo a omissão do reitor e sua equipe em questões internas (a crescente desigualdade, a segurança no campus, a indefinição de uma política clara para a Educação a Distancia, a falta de transparência das fundações, o visível desprestígio da graduação, entre outras) e externas (a participação do governo estadual no financiamento da pesquisa, a política educacional do governo federal, a intervenção da UFSC em SC e na discussão dos grandes dilemas nacionais e mundiais). Nesta perspectiva, a atual gestão, com grande experiência, apenas seguiu o padrão estabelecido anteriormente, que se revelou completamente anacrônico e incapaz de responder aos desafios que se colocam para nossa Universidade. 

A necessidade de uma mudança neste estado de coisas e no que pensamos que deve fazer um reitor, parece imprescindível para revitalizar nossa Universidade. Exatamente por isso, mais do que em qualquer outro momento, o continuísmo, travestido de experiência, é tão perigoso. 

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[1] Publicado em Rampinelli, W. (org) “O preço do voto: os bastidores de uma eleição para Reitor”, Florianópolis: Insular, 2004.