Dignidade e coragem

Homenagem póstuma a Sílvio Coelho dos Santos

No dia 26 de outubro, domingo, faleceu, depois de prolongada enfermidade, o professor Sílvio Coelho dos Santos. Para os amigos e colegas que acompanhavam o processo não chegou a ser uma surpresa. Para os demais sim, pois Sílvio se conduziu em relação à doença com a mesma dignidade e coragem com que se conduziu ao longo de sua vida profissional, toda ela vivenciada na UFSC.

Professor assistente em 1962, ainda na antiga Faculdade Catarinense de Filosofia, Sílvio buscou logo sua formação em pós-graduação, iniciada no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Juntamente com os professores Oswaldo Rodrigues Cabral e Walter Piazza, buscou reunir um grupo de estudantes interessados na disciplina, oferecendo a possibilidade de estágios com a participação destes alunos em seminários, trabalhos de campo e laboratório. Este movimento inicial deu origem à construção do Instituto de Antropologia, que por força da reforma universitária foi transformado em Museu Universitário e, posteriormente, em Museu de Antropologia Oswaldo Rodrigues Cabral, por proposta do próprio Sílvio ao Conselho Universitário.

Fazemos esta longa descrição da fundação e início do Museu para situar o trabalho acadêmico de Sílvio enquanto diretor do Museu, função que assumiu a partir da reforma universitária. Duas preocupações fundamentais caracterizaram o seu trabalho: a consolidação do Museu de Antropologia e a pesquisa e defesa dos grupos indígenas.

A consolidação do grupo de antropologia foi um longo percurso, passando pelos estágios do Museu, pelo curso de especialização, depois mestrado de Ciências Sociais, o doutorado de Antropologia e, finalmente, a criação do Departamento de Antropologia Social.

Como pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação teve papel fundamental na integração da coleção Franklin Cascaes ao acerco do Museu, além de ter buscado e conseguido a consolidação de vários cursos de pós-graduação da UFSC, assim como a criação de novos.

Mas a importância de Sílvio enquanto pesquisador é, sem dúvida, a preocupação com os grupos indígenas. Contribuição ao conhecimento científico e de engajamento político, reconhecido internacionalmente.

Cumpre também destacar que Sílvio participou da fundação da Apufsc, em julho de 1975, em plena vigência do regime militar.

Muito mais se poderia dizer sobre o homem e o profissional Sílvio Coelho dos Santos. Deixa uma extensa e importante obra: livros, artigos e ensaios, publicados no Brasil e no exterior, em grande parte voltada para a questão e o direito dos índios, dos quais se tornou uma referência.

Não sem razão, a representante indígena presente ao velório ostentava um simples e pequeno cartaz, dizendo:

“Professor Sílvio,

Em nome da comunidade indígena a nossa eterna gratidão ao nosso mestre e defensor. Estará sempre em nossos corações. Não lamentamos a morte, agradecemos a vida.

Até breve”.

Artigo redigido a pedido da Diretoria da Apufsc