Um evento de R$ 10 milhões

Já acenderam as luzes de alerta para o dinheiro público investido na realização da 9ª Conferência Global do WTTC (World Travel Eampd+ Tourism Council), em Florianópolis, nos dias 15 e 16 de maio. Trata-se de um evento privado, sem a chancela de organismos internacionais, que reunirá quatro centenas de convidados nacionais e internacionais.

Já ultrapassam em R$ 10 milhões os gastos com o evento. Serão R$ 2,5 milhões da Embratur, R$ 5 milhões do governo catarinense e mais de R$ 2 milhões do Fundo de Turismo e Cultura do Estado e da Prefeitura de Florianópolis.

O pior de tudo é o superdimensionamento do evento, que é apresentado como divisor de águas do turismo catarinense. Existe, também, a ideia de que um desses 100 CEO’s internacionais, que terão passagem relâmpago por Florianópolis, resolva investir localmente, justificando os investimentos feitos.

Uma tentativa anterior dos organizadores, de vender a realização do WTTC no Brasil, foi afastada por correspondência da então ministra do Turismo, Marta Suplicy, que considerou o investimento de retorno nulo para o país.

Segundo especialistas do turismo português, o evento similar em Lisboa custou um terço do gasto nesta edição, ressuscitada pela presidente da Embratur, Jeanine Pires, que é catarinense, e os dirigentes daquele estado que, aliás, tem no seu primeiro escalão, como presidente da Fundação de Cultura, Anita Pires, mãe da presidente da Embratur e braço direito do secretário de Turismo e Cultura, Gilmar Knaesel, o responsável pelos gastos do milionário Fundo Estadual de Turismo e Cultura.

Nesta história, entra o bem-intencionado governador Luiz Henrique, que, achando estar fazendo grande negócio para o futuro do estado, passou a criar oportunidade de gastos escancarados para os colaboradores, com contratações milionárias de empresas e a construção de arena de eventos, alugada com recursos do Fundo de Turismo.

Trata-se de evento privado e fechado, que reunirá menos de 500 pessoas. A Feira das Américas e o Congresso da Abav, que anualmente reúne 16 mil participantes com exposição de 30 mil m², custa aos organizadores pouco mais de R$ 4,5 milhões. É pelo menos a metade do gasto em Santa Catarina.

A Embratur resolveu destinar os R$ 2,5 milhões no apagar das luzes de 2008. O convênio com o Convention Bureau de Florianópolis (7022/2008), referente ao processo 72100001373/2008-46, foi publicado no Diário Oficial de 30 de dezembro de 2008. Segundo a entidade, os recursos já foram pagos. Solicitamos ao Convention Bureu a cópia do plano de trabalho e até o fechamento da edição não havia sido enviado.

Os investimentos de R$ 5 milhões do governo do estado foram informados pelo assessor de imprensa do governador, no Uruguai, quando acompanhava o lançamento do evento na capital do país vizinho.

Os recursos do Fundo de Turismo serão usados para eventos paralelos ao WTTC, como um festival de manifestações culturais catarinenses, no Centro de Eventos, que será um minissalão de turismo, com todas as regiões turísticas do estado, e a reunião do Fórum Nacional de Secretários de Turismo (Fornatur), que se reunirá na mesma data.

Contrariando a previsão do governo, os executivos internacionais no Fórum não terão tempo para visitar o estado, devido a uma agenda bate-e-volta. O trade turístico estará alijado do evento, que será super-restrito, e quem não for convidado do presidente da República, do governador, do ministro do Turismo e do próprio Conselho, terá de pagar US$ 5 mil. Em termos de agregar conhecimento para a área acadêmica e aos profissionais catarinenses, a contribuição do Fórum será nula.

Contrariando a nebulosidade dos gastos do WTTC, será necessário que a Embratur e o governo do estado prestem contas de cada centavo gasto. Não é a primeira vez que o turismo é usado como bandeira de investimentos milionários e inócuos. Em diversos blogs locais surgem denúncias também ao secretário Gilmar Knaesel, que passa a ficar na mira do Ministério Público. Uma das acusações é a construção da Arena Jurerê, em uma outra mistura do público e privado. Existe também a denúncia do jornalista Cesar Valente, que afirma que “a dispensa de licitação que contemplou com R$ 1,4 milhão a IBI Asia-Pacific, para atrair turistas para Santa Catarina. É empresa coligada a uma certa IBI Americas. E no site aparece, como endereço no Brasil, a R. Frei Lucínio Korte 244, sala 202, na Vila Nova, em Blumenau”, que é a cidade da região da base política de Knaesel.

Depois da cassação dos governadores da Paraíba e do Maranhão, o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique, é um dos próximos a ser julgados, o que tem aguçado a velocidade de projetos milionários no estado, na área de turismo. A imprensa de quase todo o estado, que está na mão de um único grupo empresarial, tem recebido verba de publicidade, como é o caso do WTTC, que envolve a construção de uma cortina de grandiosidade para acobertar os gastos para o evento.

Apuração urgente

É necessário apurar o empenho pessoal da presidente da Embratur, a catarinense Jeanine Pires, em ressuscitar evento descartado pela sua ex-chefe, a ministra Marta. De analisar um possível conflito ético por sua mãe ser o braço direito de Gilmar Knaesel, secretário de Turismo e Cultura de Santa Catarina, que foi o órgão beneficiado com os efeitos do convênio de R$ 2,5 milhões. Apurar a prestação de contas dos gastos em nome do WTTC pelo governo do estado e Prefeitura de Florianópolisd+ o envolvimento da Federação dos Conventions Bureaus de Santa Catarina em outros convênios visando o WTTCd+ a participação do Fundo no aluguel da Arena do Costão do Santinhod+ e analisar as propostas que fazem parte da licitação obrigatória do convênio da Embratur.

* Cláudio Magnavita é presidente da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo, membro do Conselho Nacional de Turismo e diretor do Jornal de Turismo