Andes: tradição, realidade, traição

Plabo Milanés, emblemático músico da revolução cubana, recentemente afirmou: “Eu já não confio em nenhum dirigente cubano que tenha mais de 75 anos porque todos viveram seus momentos de glória (…) este socialismo já estancou. (…) nossos dirigentes já não são capazes. Suas idéias revolucionárias de outrora se tornaram reacionárias.”

Estamos aprendendo a fazer sindicalismo de forma nova, não a partir da cúpula, mas do diálogo com a categoria.

Isto é difícil num contexto marcado pela implosão da Andes, pelo acirramento de antigas feridas dentro do “movimento” docente, e pela força dos fatores emocionais e não racionais. Há os que são devotos da Andes, há os que a rejeitam.

Hoje a Andes é conduzida sem olhar a frente, mirando apenas pelo retrovisor das glórias passadas.

Muitos militantes são como samurais japoneses que 50 anos após o fim da segunda guerra mundial seguiam lutando contra imaginários soldados americanos. Ou seja: agem como se ainda estivéssemos na ditadura militar, consideram o governo inimigo e que apenas COM LUTAS se pode organizar e vencer. Ao avaliar o Proifes como heresia, não debatem idéias nem identificam sua origem, apenas combatem o demônio.

Se vivermos fixados num passado, nossa organização ficará obsoleta e anacrônica. Se ficarmos prisioneiros do passado, mesmo os outrora revolucionários virarão reacionários. Precisamos das raízes, dos mitos históricos, para nos inspirar e impulsionar, mas não para nos mumificar e empobrecer. 

Entretanto, desonram a nobre história da Andes o aventurismo vanguardista dos oportunistas, que a partidarizam estreitamente, desprezando os laços com a maioria dos docentes e levando-a ao isolamento e irrelevância.

Afinal, quem defende a tradição e a história da Andes?

Estes que num raio romperam com a CUT, e a entregaram a Conlutas? Quem tornou a Andes uma plataforma de ação partidária, uma política de aparelho, de “guerrilha”? Quem, por puro sectarismo, despreza a ampla articulação política no Congresso Nacional e não dialoga com o maior número possível de congressistas? Quem rejeitou e combateu o Reuni, o maior programa de expansão da história recente das IFES, apoiando invasões de reitorias? Qual o custo disto para a nação?

Para conhecer a Andes real, não precisa ir a um Congresso da mesma e escutar o ideólogo da corrente hegemônica afirmar messianicamente que “o papel do Andes é organizar a classe trabalhadora” (R. Leher, 3º Congresso Extraordinário, setembro/2008), ou ouvir que “não é uma tragédia a Andes perder a carta sindical, pois isto é um instrumento burguês”. Basta ir na página da Andes e ver que o 28º Congresso (Pelotas, fevereiro/2009) deliberou que a Andes deve “1. fortalecer a luta por uma sociedade socialista e radicalmente democrática, cuja construção requer a derrota do imperialismo, por meio da unidade internacional dos trabalhadores, visando à independência nacional dos povos oprimidos e à expropriação do capital pelos trabalhadores”. 

Aliás, o Congresso de Pelotas unanimemente rejeitou realizar um plebiscito para consultar a base se a Andes deve abrir mão de representar os docentes das particulares, o que permitiria reaver o registro sindical.

A ausência de uma efetiva representação da base docente gerou uma vanguarda autista sem retaguarda, meras meias-dúzias.

O problema não é a alienação dos professores: eles foram alijados dos processos de decisão!

A Andes real é a da astuta e inoportuna filiação ao Conlutas, verdadeiro divisor de águas em nosso “sindicato”, pois feita a revelia da categoria. É a Andes que bloqueia as ferramentas tecnológicas de comunicação e decisão digitais, potencializadoras da inteligência coletiva .

A Andes atual é a Andes controlada por uma tendência, Andes-AD, gerando a pseudo-democracia, onde nos Congressos e Conads o delegado vota levantando o braço n vezes em decisões já tomadas. 

Estas práticas, e a incapacidade de perceber a realidade, solaparam o movimento docente, pois ignora que não somos operários e a absorvente condição de pesquisador característica dos docentes das universidades federais. Este quadro ameaça a sobrevivência da Apufsc e de todas as ADs.