Sindicato: para quê e para quem?

O cotidiano da categoria docente, especialmente os que trabalham no interior das IFES, tem sido marcado por profundas transformações que ocorreram ao longo das últimas duas décadas. A Revolução Tecnológicad+ os avanços no processo de ensino e aprendizagemd+ as mudanças na organização do trabalho oriundas da reorganização do espaço de produçãod+ os câmbios ocorridos na divisão do trabalho, conseqüência direta do aprofundamento da interação entre o Capital e o trabalho, criaram um ambiente em que se formaram vários “perfis” de professores que, em tese, formam uma mesma categoria.

Se for verdade que a categoria é de professores, e se é também verdade que estamos submetidos à lógica de reprodução ampliada do sistema, mesmo de forma indireta, é verdade que a forma como se deu a penetração do Capital na esfera universitária, especialmente nas duas últimas décadas, aprofundaram as diferentes percepções de como se deve olhar a universidade em si e para a sociedade. Essa percepção, que já está construída pela própria origem social dos professores, se amplia pelo grau de inter-relação que existe entre a ciência e o Capital em determinada área do conhecimento.

Ensino, pesquisa e extensão, o tripé básico da universidade, sofreu o impacto das transformações econômicas e sociais, e há diversos questionamentos sobre como essa relação tem produzido o Saber e não apenas Produtos. Nesse debate a categoria, espalhada pela própria estrutura física da universidaded+ esfacelada pela dinâmica imposta pela necessidade de reprodução individual, que o impulsiona à ação no seu cotidiano acadêmico, necessitaria de um elemento que unificasse pelo menos suas demandas mais gerais e imediatas, e possibilitasse a construção de ações que minimizasse o processo de transformação pelo qual passam as IFES.

É nessa conjuntura, complexa e marcada por uma dinamicidade que modifica e re-modifica a realidade que se apresenta para o indivíduo. E o sindicato, como instância de agregação dos interesses econômicos, na essência, da categoria não aparece, aos olhos dos professores, como esse elemento articulador. O sindicato é encarado como uma esfera em que sobressai a contenda medíocre entre correntes, pela preservação de nichos de poder que na realidade se formam dentro de um espaço reduzido e sem influência externa. O sindicato dobrou-se sobre si, serve a si mesmo, e os efeitos dessa luta autofágica são sentidos na categoria pela não-presença daquele nas questões cotidianas da categoria.

A degeneração ou o definhamento político do sindicato, como esfera de representação foi provocado, em parte, pela luta fratricida entre essas correntes, que se arvoram como depositárias de uma legitimidade representativa, que, entretanto só pertence a elas. A invocação dessa pseudo-representação impulsiona a formação de uma casta dirigente entorpecida pela certeza de que são a “verdadeira” corrente que detém essa “legitimidade”, e disso decorre a automática exclusão de quaisquer corrente que se apareça como uma “ameaça” à sua eternização no poder.

Estando o sindicato preso nessa lógica perversa de contenda excludente e sem possibilidade de formulação de uma estratégia e tática geral, a categoria abandona os discursos vazios e desconectados com a realidade e toma três posições básicas: afasta-se definitivamente de qualquer forma de organização coletiva e volta-se para o seu “fazer cotidiano”d+ aceita o status quo, mas fica alheia à participação “escolhendo” os contendores e dando-lhe “apoio passivo”d+ entra no movimento e passa, talvez por falta de opção, a fazer parte do “mundo sindical”.

A ultrapassagem dessa forma pouco racional de se construir um movimento sindical, não se dará a partir dessas correntes e/ou dessas castas dirigentes, que carregam dentro de si uma “lógica” de fazer política, ossificada numa percepção anacrônica e ultrapassada que supõe o sindicato voltado para si mesmo. O que chamo de “parasitismo sindical”, alimenta-se do discurso de “mobilização permanente” ou de ode às “novas formas de representação”, deve ser ultrapassado. As “oligarquias sindicais”, eficientes em mobilizar para usufruto dos seus próprios interesses, e os “grupos democráticos”, que se dizem “novos”, mas cuja proposta de reorganização do movimento, obedece à lógica da matriz que abominam, não está à altura de responder às transformações efetivas que ocorrem no espaço de trabalho dos professores.

Ultrapassar significa construir uma nova organização, horizontal, descentralizada, efetivamente plural, que permita o convívio entre as diversas opiniões, que construa novas formas de interação política com a categoria, que dê mais atenção às demandas saídas dos locais de trabalho, que convivam com os partidos e com a sociedade, sem, no entanto assumirem o já desgastado papel de caixa de ressonância dos partidos. Não há dúvida de que, nesse ambiente em permanente transformação, a federação nacional de sindicatos de professores das IFES é a organização que melhor pode iniciar o processo de re-aproximação com a categoria.