Direitização X Esquerdização da UFSC: isso realmente existe?

Professor Rampinelli em seu artigo “A direitização na UFSC e a função do CFH” publicado no Boletim da Apufsc # 701, afirma que ocorre um proceso de direitização na UFSC. Minha intenção é responder a duas perguntas que me ocorreram e que podem ser questionamentos de outros professores, a saber: (1) No que consiste este processo de direitização? e (2) Este processo é algo bom ou ruim? Para simplificar, usarei a sigla PDRamp como uma forma abreviada de “processo de direitização segundo o professor Rampinelli”.

A tese do professor Rampinelli se baseia na análise de alguns casos específicos e, citando apenas alguns, vão desde a não aprovação para publicação de um livro pelo comitê de avaliação da EdUFSC, passando pela criminalização de estudantes  (provavelmente se refere aos episódios de ocupação da reitoria e ao impedimento dos conselheiros de deixarem a sala do CUn), até uma suposta interferência da reitoria nos rumos da Apufsc.

Devemos então considerar o PDRamp como o conjunto desses eventos? Se considerarmos, temos então respondida a questão (1). Já a resposta à segunda questão certamente dependerá do ponto de vista e da análise de cada caso que aponta para o PDRamp. Vejamos. Sem entrar no mérito das reivindicações dos estudantes, é inegável que a ocupação da reitoria da UFSC e o consequente cerceamento do direito de ir e vir das pessoas foi violado pelos estudantes. Embora o professor Rampinelli não mencione, lembro que a UFSC está sendo rotineiramente submetida a abusos como a perpetrada por alguns integrantes do Sintufsc que em 2007 fecharam arbitrariamente os acessos da universidade e bateram tambores próximo as salas de aulas violando o direito de alunos e professores que desejavam ter suas aulas. Se há direitos, também há deveres, e quem desrespeita as regras do bom convívio deve prestar contas do que faz. Seguindo a lógica do professor Rampinelli de associar a reação a estes acontecimentos como um processo de direitização da UFSC seríamos levados, inversamente, a classificar os eventos em si como um processo de esquerdização da UFSC. Isso é bom ou ruim? Depende do discernimento que cada um faz do que é certo ou errado.

No que concerne a suposta interferência da reitoria nos rumos tomados pela Apufsc, professor Rampinelli critica a direção do seu centro por “…não assumir uma posição pública em defesa da autonomia dos sindicatos dentro da UFSC, hoje tomados pela administração central, com auxílio direto do staff da instituição”, para mais adiante completar dizendo “…enquanto a direção do CFH adota um comportamento politicamente correto, o chefe de gabinete do reitor não apenas assina uma lista solicitando uma assembléia para desfiliar a Apufsc do Andes-SN, como atua politicamente, por dentro da instituição, para tornar tal fato vitorioso”. Por fim, no que acredito ser a síntese do pensamento do professor Rampinelli quanto ao PDRamp, ele afirma: “Enganam-se também aqueles que fazem a luta por um sindicato de docentes independente, classista e na busca por uma sociedade mais justa e mais igualitária, fechando os olhos diante da atuação de chefes de departamento, de diretores de centro e de pró-reitores que realizam o jogo institucional do avanço da direitização na UFSC. Aliás, tudo indica que se as oposições tivessem eleito o seu candidato a reitor não se daria a ruptura da Apufsc e a direitização do Sintufsc. Todos aqueles que votaram contra o candidato que representava as forças progressistas, ou se abstiveram, cooperaram de alguma maneira para que tudo isso acontecesse em nossos sindicatos.“

Fica óbvio que o professor Rampinelli está incomodado com os eventos que levaram a Apufsc a se desligar do Andes e a constituir um sindicato de abrangência estadual.  Fica tão incomodado a ponto de ver isto como a consumação do PDRamp. Sem problemas, é um direito dele afirmar o que bem entender. É preciso, no entanto, distinguir algo que provavelmente é dito entre amigos em um café ou numa entidade recém formada que pretende ser uma seção sindical do Andes na UFSC, daquilo que é dito publicamente em um boletim de amplo acesso. Assim, é necessário que se esclareça: Qual a base que o professor Rampinelli tem para afirmar que os sindicatos dentro da UFSC foram tomados pela administração central? Qual a base que professor Rampinelli tem para insinuar que a ruptura da Apufsc é devida a ação da atual reitoria? Quais são os fatos concretos que apontam para isso? Pelo que escreve, o único indício que o professor Rampinelli aponta é o fato do chefe do gabinete do reitor ter assinado a lista solicitando a assembléia de desfiliação. Mas, há algo no regimento da Apufsc que impeça o chefe do gabinete, na condição de associado, de participar de seu sindicato? Mas, vamos direto ao ponto: No que isto influenciaria a decisão dos outros professores? Ou seja, ou o professor Rampinelli sabe de fatos que nós desconhecemos, ou o professor Rampinelli tenta criar um fato inexistente para explicar as causas que levaram a criação da Apufsc-Sindical, o que é compreensível, afinal, a outra opção seria reconhecer que a Apufsc-Sindical se originou do direito democrático que os associados tem de mudar sua associação. Mas, não é surpreendente que o professor Rampinelli crie ou omita fatos ao seu bel-prazer,  afinal ele demonstrou isso ao escrever sobre os “fantásticos” (?) avanços dos 50 anos da revolução cubana ao mesmo tempo em que omitiu os custos em vidas humanas que a repressão comunista se utilizou para chegar a estes supostos avanços. O que surpreende mesmo, como bem atesta a minha crítica, é ve-lo defendendo ideais tão nobres como a busca por uma sociedade mais justa e igualitária quando, implicitamente, não parece ver problemas nos meios usados para se chegar a estes objetivos.

Quanto as críticas que o professor Rampinelli faz ao comportamento politicamente correto da direção do CFH em relação a administração central, fica uma dúvida pertubadora. Será que o professor Rampinelli estende essas críticas aos professores sem cargos administrativos que apoiaram o desligamento da Apufsc ao Andes? Afinal, pelo que está escrito, parece que o professor Rampinelli vê como progressistas apenas aqueles que compartilham sua ideologia e militam na defesa das mesmas causas. Neste sentido, aqueles professores que insistem em manter uma seção sindical do Andes na UFSC se apropriando indevidamente do nome Apufsc são progressistas enquanto que todos nós, que continuamos na Apufsc, passamos a condição de não-progressistas. Se for isso mesmo, quem o professor Rampinelli julga ser para fazer tal juízo das pessoas?

Resumindo, será mesmo que está em curso um processo de direitização da UFSC? Ou será isso apenas um artifício usado para reanimar a militância? O curioso é que ainda que se admita a existência do PDRamp, teríamos que analisá-lo como uma reação a uma provável esquerdização da UFSC. E, neste caso, a questão (2) continua em aberto. Enfim, professor Rampinelli, em nome da honestidade intelectual que deve permear toda discussão na academia você deve expor de forma concreta os fatos que demonstram a participação da reitoria na ruptura da Apufsc ao Andes. E, por favor, me poupe de citações de terceiros afinal os fatos concretos que eu estou te cobrando não serão encontrados em Welch (?), Therborn (?), Cueva (?), Marx (?), Lenin (?) etc. Se o que você afirma é uma mera opinião, então, dada a seriedade do que você coloca e a relutância em reconhecer a ruptura como consequência da decisão democrática dos associados, seria mais prudente que você mantivesse opiniões dessa natureza entre seus amigos.