Greve da UnB abre divergências

A greve dos professores da Universidade de Brasília permanece até, pelo menos, sexta-feira. A continuidade da paralisação não é mais consenso na categoria. Durante assembleia geral na manhã de ontem, 233 votaram a favor da greve, 40 contra e sete se abstiveram. Ficou definido que até sexta, data do próximo encontro, os departamentos acadêmicos devem se reunir para demonstrar seus posicionamentos sobre a paralisação.

Um dos argumentos mais fortes para a manutenção da greve foi o de que a unidade com os técnicos-administrativos é fundamental. A professora Patrícia Pinheiro, do curso de serviço social, salientou que é preciso pensar no coletivo para se tomar decisões acertadas. A coordenadora do curso de pedagogia, Cláudia Dansa, cobra uma posição mais firme da reitoria. “O reitor precisa comprar a ideia da crise de maneira mais ativa e fazer um confronto do que é a verdadeira autonomia universitária.” A educadora também defende que o Conselho Universitário (Consuni) tenha uma base mais mobilizada para unir todos os segmentos da universidade.

Em contrapartida, muitos docentes estão desacreditados. Segundo a professora de engenharia mecânica Aida Alves Fadel, há um movimento para o retorno das atividades nos cursos de engenharia, matemática e geologia. “Os docentes não estão vendo efetividade no movimento de greve”, explica.

“Se sairmos da greve e abandonarmos os funcionários, a universidade estará fadada à barbárie institucional”, acredita a professora Marcela Soares, de serviço social. O professor Claus Akira, de matemática, alerta para que os olhares se voltem para a crise institucional que se instalará após o término da greve. “Os funcionários vão perder um terço dos salários. É ilusão achar que a UnB continuará funcionando normalmente.” A discussão de questões futuras e a construção de uma agenda para administrar a crise que vem pela frente é o que prega o professor Antônio Seiben, da biologia.

Técnicos

No caso dos servidores, não há indicativo de fim da greve. Eles também se reuniram ontem em assembleia geral, mas uma nova convocação ficou marcada para amanhã, às 9h, na Praça Chico Mendes, da UnB. “Não houve tempo para discutirmos direito a nossa situação. Vamos avaliar tudo o que está acontecendo para definir os rumos da greve. Os advogados também devem esclarecer melhor como será a questão judicial”, afirma Cosmo Balbino, coordenador-geral do Sindicato dos Técnicos-Administrativos da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub).

Balbino conta que a assessoria jurídica adiantou que recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF) para evitar o corte salarial da categoria. O coordenador sindical adianta que os servidores buscarão apoio de parlamentares para fortalecer a luta pela manutenção dos salários. As assembleias de ontem terminaram com uma nova carreata até a sede provisória da Presidência da República, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Com faixas de protesto e apitaço, professores e servidores aguardaram por quase três horas que uma comissão do comando de greve unificado fosse atendida pelo assessor Manoel Messias, da Secretaria-Geral da Presidência. Hoje, às 10h, estudantes e professores farão ato contra a inauguração do câmpus do Gama sem a finalização da obra.

Reabertas as negociações

Os manifestantes conseguiram retomar o diálogo com o governo federal. Após o protesto que reuniu cerca de 100 pessoas diante do Centro Cultural Banco do Brasil, sede provisória do Executivo, o grupo foi recebido pelo assessor da Secretaria-Geral da Presidência da República, Manoel Messias. Ele se comprometeu a promover uma nova reunião, que deverá ocorrer ainda esta semana, para rediscutir o pagamento da URP aos funcionários técnicos-administrativos da Universidade de Brasília.

O encontro deverá contar com integrantes do Ministério do Planejamento, da Advogacia-Geral da União, dos sindicatos das categorias, da reitoria da UnB e com representantes da Secretaria-Geral da Presidência. Por meio da assessoria de imprensa, Manoel Messias informou que os contatos estão sendo feitos, mas ainda não é possível divulgar a data do encontro. Mas garantiu que será o mais rápido possível.

A greve da UnB completa hoje 57 dias. Paulo César Marques, assessor da Reitoria, garantiu que não há risco de cancelamento do semestre. “O calendário está suspenso enquanto durar o movimento, como sempre ocorreu”, disse. No entanto, ele adiantou que a tendência é que a universidade tenha que suspender o semestre de verão oferecido em janeiro e fevereiro. “Em função da greve, o segundo semestre vai se estender até o começo de 2011. Por isso, a administração vai propor ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão que suspenda o curso de verão de 2011”.

Crise institucional

Voltar às aulas sem o retorno dos técnicos administrativos ao trabalho pode ser bastante complicado. Os funcionários é que fazem laboratórios, biblioteca e restaurante universitário funcionarem. Outro setor que também ficou prejudicado com a greve é o Hospital Universitário de Brasília, onde o atendimento está restrito a 30% dos funcionários. De acordo com a auxiliar de enfermagem Isaura Dias, a procura continua grande, mas a emergência da maternidade trabalha apenas com um enfermeiro e dois auxiliares de enfermagem. Normalmente, sete pessoas comporiam a equipe. Os laboratórios e a rediologia também estão com as equipes reduzidas.

Enquanto isso, os alunos da UnB ficam sem aulas. “É um saco estar de greve. O semestre vai ser horrível”, observa a estudante de farmácia Luiza Geraldis, 17 anos. “Todo mundo sai prejudicado com a greve”, destaca Nahari Terena, 18, do curso de estatística. O colega dela, Felipe Duarte, 17, afirma que aceitaria ficar sem aulas por, no máximo, mais duas semanas. Coordenador do Diretório Central dos Estudantes, Pedro Piccolo lamenta a baixa participação estudantil no movimento grevista. “Conseguimos uma mobilização no início, mas, conforme o tempo foi passando, foi diminuindo”, constata. “Muitos não estão sentindo que o movimento diz respeito diretamente a eles, mas o DCE discorda.”