Ponto eletrônico na UFSC

“As leis são como teias de aranhas. Os pequenos insetos caem nelas. Os grandes atravessam-nas” (Honoré de Balzac)

A Reitoria da UFSC vai implantar o ponto eletrônico como modo de controlar a assiduidade dos servidores desta universidade. Isentos deste controle estarão os técnico-administrativos com função gratificada acima de CD3, bem como os professores do nível superior. Porém, esta medida atingirá os docentes do 1º e 2º grau (NDI e Colégio de Aplicação).

As máquinas controladoras surgem porque os gestores (que ganham bônus por exercício de função de direção) não querem o ônus da responsabilização pelo registro das freqüências. A implantação do ponto eletrônico é uma conseqüência da ausência da responsabilidade de comando e direção, com conseqüente falta de diálogo e de transparência entre os gestores e os técnico-administrativos.  A adoção desta ferramenta os isentam deste controle.

Estas máquinas custaram cerca de R$ 400 mil, mas poderiam ser substituídas por simples boletins de freqüência (virtual ou físico), sem custo e sob a responsabilidade dos diretores e chefias. A adoção do ponto eletrônico apenas para alguns é uma decisão preconceituosa e discriminatória, pois ignora que o controle de assiduidade é para todos. A implantação do ponto eletrônico apenas para parcelas das categorias nos remete ao tempo onde tínhamos cidadãos e escravos.

Infelizmente, o ponto eletrônico não privilegia quem trabalha, mas legitima os preguiçosos, pois não diferencia os ausentes dos presentes: pode-se registrar o ponto às 8 horas, desaparecer às 8h10 e retornar para registrar a saída às 12 horas e assim sucessivamente.

Como não há diálogo, não sabemos se haverá banco de horas e como será a compensação. Advinda sem discussão com a comunidade universitária sobre suas repercussões e conseqüências, a implantação do ponto eletrônico vai acirrar os conflitos entre servidoresd+ de técnico-administrativos contra chefiasd+ técnico-administrativos versus docentes e docentes versus docentes (vide docentes de 1º e 2º graus). O governo federal não determinou a adoção do ponto eletrônico, mas simplesmente questionou a forma como era realizada o controle de assiduidade na UFSC. Esta decisão reflete desconhecimento da nossa realidade por parte de uma estrutura gerencial amadora que a cada dois anos troca de chefia acadêmica, a cada 4 anos troca Reitor e Diretores, gerando descontinuidade administrativa nociva a uma verdadeira gerência universitária.

Pelo exposto acima, sou favorável a uma ferramenta de controle de assiduidade, mas em nossa universidade o ponto eletrônico é um meio inadequado. A UFSC está entre as melhores universidades da América Latina e seus servidores técnico-administrativos são partes desta alta produtividade acadêmica. Há maus exemplos nas duas categorias que merecem ser isonomicamente combatidos. As distorções não serão corrigidas com um ponto eletrônico discriminatório, mas com dirigentes competentes, éticos e responsáveis, capacitados para as tomadas de decisões.