Anúncios de Dilma para o Estado dividem opinões

Furb deve entrar no projeto da UFSC, mas a criação de institutos federais fica abaixo do previstoO lançamento de instituições de educação, como parte do Plano Nacional de Expansão do Ensino Superior, ontem, pela presidente Dilma Rousseff, trouxe algumas surpresas – positivas e negativas – para Santa Catarina.

Foram confirmados apenas três novas unidades de institutos federais, em São Bento do Sul, Brusque e Tubarão. O Estado contava com a aprovação para Imbituba, Biguaçu e Navegantes, que já possuem orçamento aprovado, mas ainda não contam com verba para pessoal e equipamentos.

Por outro lado, veio a confirmação da implantação de um campus da Universidade Federal de SC (UFSC) em Blumenau. Mas a desejada federalização foi descartada.Uma comitiva catarinense garantiu ontem aval do governo para discutir o uso da Furb como embrião. Um esboço da parceria será entregue ao Ministério da Educação (MEC) em 30 dias. Em vez de federalizar a instituição, o governo admite adotar a estrutura e os servidores da universidade municipal.

A presidente Dilma Rousseff tem rechaçado a hipótese da federalização para evitar uma corrida de estabelecimentos de ensino falidos a Brasília. Ao final do encontro de uma hora e meia com o secretário nacional de Ensino Superior, Luiz Claudio Costa, o prefeito de Blumenau, João Paulo Kleinübing, demonstrou otimismo.

– O governo aceita que a expansão da UFSC nasça da Furb, mas ainda há vários passos a serem dados.

Nas próximas semanas, prefeitura, da Furb e da UFSC irão se debruçar sobre os obstáculos, entre eles, a situação dos servidores e professores, que não podem ser absorvidos pela União. Uma das possibilidades é a prefeitura ceder os profissionais até que sejam realizados concursos.

Na conversa preliminar desta terça-feira, que foi marcada pela ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, o MEC advertiu que se recusa a assumir passivos da Furb. Kleinübing garantiu que a prefeitura arcará com eventuais débitos.

– Poderemos ter alunos da Furb estudando na federal já no segundo semestre do ano que vem – afirmou o reitor da UFSC, Alvaro Prata.

Com o sinal verde do MEC, o séquito de Blumenau irá ao Planalto nesta manhã para pressionar Ideli. O grupo quer que a ministra coloque o pleito catarinense sobre a mesa de Dilma, na medida em que a palavra final sobre a incorporação caberá à presidente.

Estudantes da Furb fazem comemoração

Logo após a reunião entre o MEC e representantes da comitiva blumenauense, em Brasília, integrantes do Comitê Pró-federalização da Furb repassavam informações aos acadêmicos em frente à Biblioteca Central do Campus 1. Com faixas, apitos e instrumentos musicais, alunos gritavam o lema: Furb federal, prioridade regional. O entusiasmo se deve ao fato de o comitê acreditar que, com a UFSC instalada dentro da Furb, ela pode ser a tutora para uma futura federalização. Representantes destacavam a todo o momento a força do movimento. Nesta semana, o comitê ultrapassou a quantia de 27 mil seguidores no movimento Sou pela Furb Federal, no Facebook.

– Vamos continuar a luta. Voltamos para o jogo. Não podemos assumir o papel de derrotados – encorajou o membro do comitê Tulio Vidor.

Uma reunião do comitê, marcada para sexta-feira, às 18h, deve discutir mais profundamente as propostas do grupo de trabalho e o rumo do movimento. A maioria dos acadêmicos votou em fazer uma passeata na terça-feira, às 18h30min.

– Tragam mãe, pai e cachorro. Precisamos mostrar que o movimento é grande e que a federalização é desejo da comunidade.

Vidor destacou ainda que a UFSC apoia a federalização da Furb e que o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da universidade da Capital vai fazer uma manifestação hoje, em Florianópolis, em defesa da causa.

Entidades defendem a federalização

Mesmo com o anúncio de que Blumenau terá um campus da UFSC, entidades civis organizadas do município ainda esperam maiores definições sobre como será a incorporação da Furb no projeto. O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Paulo Cesar Lopes, diz que a notícia é boa, mas credita que precisaria ir além:

– A notícia é extremamente importante para a cidade. Vai trazer uma movimentação grande de pessoas que vão querer estudar em Blumenau. Beneficiará o comércio e todos os segmentos da região. O ideal é que tenhamos a federalização da Furb neste processo, por tudo que ela já faz pela nossa comunidade e representa.

Pensamento semelhante tem a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Têxteis de Blumenau, Gaspar e Indaial (Sintrafite), Vivian Bertoldi:

– Para nós, o campus, de uma certa forma, vai ajudar. Mas não colabora para aquilo que nós precisamos aqui para a cidade. A federalização seria o melhor caminho, por tudo o que ela já construiu e da forma como é autônoma. Nós estamos desenvolvidos o suficiente para receber uma universidade federal – avalia Vivian.

A causa da incorporação da Furb pela UFSC não deve ser bandeira partidária, defende o presidente da Associação Empresarial de Blumenau (Acib), Ronaldo Baumgarten Jr.

Institutos ficam fora da lista

Contrariando o esperado, o Ministério da Educação (MEC) apresentou uma lista com apenas três nomes de novas unidades de institutos federais. São Bento do Sul poderá ganhar uma unidade do Instituto Federal Catarinense (IFC) ou do Instituto Federal de Santa Catarina (IF-SC). Brusque, ficará sob os cuidados do IFC. Apenas Tubarão é apontado como unidade certa do IF-SC.

O reitor do IF-SC, Jesué Graciliano da Silva, contava com a aprovação também dos institutos das cidades de Imbituba, Biguaçu e Navegantes. Segundo ele, havia expectativa na região para a construção dessas unidades, já que todas estão com orçamento aprovado pelo governo federal desde o mês passado.

– Lançarmos esses novos institutos sem aprovação do MEC é uma irresponsabilidade, porque não temos verba para equipamentos e para contratar os professores e técnicos administrativos – lamenta o reitor.

Silva informou que vai continuar negociando em Brasília hoje para trazer os outros três institutos para o Estado. Ele informou que está confiante, mas que planeja alternativas, como parcerias com as prefeituras, para viabilizar ao menos unidades com menor capacidade de atuação.

De acordo com o MEC, para este pacote de Expansão III, foram selecionadas unidades que respeitam critérios sociais, econômicos e de desenvolvimento regional. Segundo o diretor de expansão do IF-SC, Caio Monti, os reitores das instituições federais do Estado devem se reunir, na próxima semana, para estabelecer localização e diretrizes das novas unidades. O anúncio da criação do IFC de Brusque superou as expectativas:

– Achamos que não seríamos contemplados – comemora o reitor substituto do IFC, Antônio Alir Dias Raitani Júnior.

As obras dos novos institutos devem começar no início de 2012. A definição dos cursos será feita depois de audiências públicas e encontros com a comunidade, para identificar demandas por profissionais.

– A universidade federal é um sonho antigo de Blumenau. Mas para que o projeto se consolide, precisamos que essa causa seja abraçada pelo representantes de maneira apartidária, deixando a politicagem de lado para beneficiar a nossa comunidade – defende Baumgarten.

O presidente do Sindicato dos Servidores Públicos do Ensino Superior de Blumenau, Tulio Vidor, acredita que os próximos passos é que vão definir se o anúncio foi positivo.

– Este projeto diferenciado é o que tem que ser considerado para a implantação, seja de uma nova universidade federal, seja através da UFSC.

Qualificação vai garantir empregos

A iniciativa do governo federal para a criação de institutos federais foi vista como positiva pelo mercado. O presidente da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), Rui Luiz Gonçalves, diz que qualquer atitude para formar profissionais é bem-vinda. Para ele, falta mão de obra especializada na área tecnológica – foco de muitos cursos dos IFs.

– Só em Florianópolis existem 500 vagas abertas, na área de tecnologia porque faltam profissionais capacitados – informa.

Ele destaca que a formação em tecnologia, seja em curso técnico ou superior, atualmente, é garantia de contratação e que as escolas técnicas federais são bem vistas pelas empresas. Para ele, o aumento dos institutos pode trazer benefícios para a economia do Estado.

É o que acredita também o reitor substituto do IFC, Antônio Raitani Júnior, que prevê desenvolvimento para as regiões que receberão unidades dos institutos.

– A área de Brusque é desenvolvida na área do vestuário e profissionais capacitados poderão contribuir para esse desenvolvimento – prevê.

Mesmo assim, para o presidente da Acate, a criação dos institutos anunciados não será o suficiente para cobrir toda a defasagem do mercado não apenas na área de tecnologia como em todas as áreas.

– A quantidade de profissionais formados nestes cursos ainda é muito pequena. Precisamos de iniciativas para aumentar muito esse número – acredita Gonçalves.

Foco principal no mercado

Os institutos federais são a opção para a formação com enfoque no mercado de trabalho. Os cursos técnicos oferecidos capacitam o aluno com conhecimentos teóricos e práticos e são divididos em três tipos. No integrado, o estudante faz o ensino médio e a formação técnica e o único pré-requisito é ter concluído o ensino fundamental. Já o subsequente é para quem tem ensino médio e busca qualificação ou outra profissão. No concomitante, o estudante que faz o ensino médio em outra instituição e a formação técnica no instituto.

Além desses, os institutos promovem cursos de graduação, mais focada nas aplicações dos conhecimentos a processos, produtos e serviços, dividindo-se nas áreas de tecnologia, licenciatura e bacharelado.

São oferecidos ainda cursos de pós-graduação e ensino à distância, sempre profissionalizantes. Os processos seletivos variam conforme o nível do curso. O processo seletivo pode ir de análise socioeconômica a vestibulares tradicionais, considerando-se, inclusive, a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).