Previdência, um direito de todos

Os atuais servidores serão provavelmente os mais atingidos. Ou optam pelo novo regime, no caso terão direito a obter como aposentadoria apenas o teto da previdência, ou, passarão a fazer parte de uma carreira em extinção, sujeitos à toda sorte de interferências por todo seu longo, espero, tempo de aposentadoria.

Na contramão da história, colocamos o bem estar na velhice de milhões de brasileiros nas mãos das instituições financeiras, as grandes interessadas em “tapar o buraco das finanças públicas do Pais”. Vejam a ironia. O valor que desfrutaremos em nossas aposentadorias dependerá das flutuações da bolsa de valores. Faz sentido isto?

Enquanto o governo propaga aos quatro ventos a ascensão social de milhões de brasileiros que cruzaram a linha da miséria, testemunhamos este mesmo governo promover uma desarticulação geral do serviço público.

O Projeto de Lei 1.992 de 2007 em tramitação em regime de urgência-urgentíssima (há algo que justifique a pressa?) atinge um dos alicerces da carreira pública: a aposentadoria integral, o outro sendo a estabilidade de emprego.

Tudo sob o pretexto de combater um suposto déficit na previdência. Não me deterei aqui nos pormenores da questão, mas dependendo da análise econômica que se faça, a previdência pública em 2011 tanto pode ter sido deficitária em R$ 58 bilhões como superavitária em R$ 20 bilhões.

A securidade é um dever social do Estado, uma conquista dos trabalhadores do princípio do século XX. Preconizar a redução salarial dos trabalhadores para quando eles deixarem de ser economicamente produtivos é uma regressão à barbárie do início do capitalismo, quando a jornada de trabalho se estendia por 16 horas e não havia direito a férias, nem à aposentadoria…

Já se cometeu igual injustiça para com os trabalhadores da iniciativa privada ao se instituir um teto para a previdência geral. Uma verdadeira reforma da previdência que fosse proposta pelos trabalhadores, e não pelas elites que não vivem de salários, começaria por erradicar esta deformação.

Infelizmente, caminhamos no sentido inverso, impondo o teto para os servidores públicos, esquecendo-se todas as particularidades e restrições a que estão submetidos os trabalhadores dotados de fé pública, que cumprem uma missão de zelar e prestar serviços à sociedade.

Querer minar a resistência dos trabalhadores, alegando-se, com ética duvidosa, que tais medidas não atingirão os atuais servidores, só tendo efeito para os que ingressarem após a criação da FUNPRESP (Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal), é tripudiar da consciência dos trabalhadores.

Os atuais servidores serão provavelmente os mais atingidos. Ficarão entre a cruz e a espada. Ou optam pelo novo regime, no caso terão direito a obter como aposentadoria apenas o teto da previdência, ou, passarão a fazer parte de uma carreira em extinção, sujeitos à toda sorte de interferências por todo seu longo, espero, tempo de aposentadoria.

Que tal medida seja patrocinada por um governo que supostamente deveria ter mais sensibilidade e afinidade para com os interesses da classe na qual foram forjados como lideranças revela com mais clareza o quanto as políticas do Estado brasileiro são ditadas pelas forças privadas  responsáveis pela grande crise financeira que abala o mundo desde 2008.

Na contramão da história, colocamos o bem estar na velhice de milhões de brasileiros nas mãos das instituições financeiras, as grandes interessadas em “tapar o buraco das finanças públicas do Pais”.  Vejam a ironia. O valor que desfrutaremos em nossas aposentadorias dependerá das flutuações da bolsa de valores. Faz sentido isto?

A sociedade civil organizada fará sua parte e nos dias 28 e 29, nós que fazemos o Fórum Estadual em Defesa da Previdência Pública juntamente com trabalhadores de todo o Brasil, estaremos em peso em Brasília, pressionando junto aos deputados para que o Projeto não seja votado neste dia, e para que estes se pronunciem contrários à proposta, sepultando mais uma ameaça aos direitos dos trabalhadores.

Marcelino Pequeno

Presidente do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará