Reitoras na UFSC

Através da APUFSC, a UFSC esteve na vanguarda do processo de aglutinação nacional do movimento docente que criou a ANDES. Recentemente, a APUFSC colocou-se novamente na linha de frente ao se desvincular do ANDES, desvirtuado e atrelado a partidos políticos. Luta atualmente pela renovação do movimento docente, apregoando uma maior e melhor participação democrática dos professores filiados.

A UFSC implantou e tem mantido um processo democrático interno que vem assegurando uma saudável autonomia decisória na escolha de seus dirigentes. Lembro que, nos primórdios da Universidade, a eleição interna, envolvendo somente os colegiados superiores, era apenas uma etapa do processo de escolha dos dirigentes. As listas sêxtuplas eram encaminhadas para Brasília onde se decidia o processo, com inevitáveis e indesejáveis intervenções político-partidárias.

Na parte acadêmica, a UFSC soube aproveitar oportunidades e, com muito esforço, conseguiu posicionar-se entre as melhores universidades brasileiras. Em diversas áreas, o reconhecido destaque já se coloca em âmbito internacional. A pós-graduação, vinculada com a pesquisa, realça sua caracterização como universidade realmente produtora de novos conhecimentos. O prestígio acadêmico da UFSC atrai alunos bem preparados e motivados que muito contribuem para elevar o nível das atividades universitárias.

Em seu meio século de existência, a UFSC ainda encontra-se nos primeiros estágios, na escala de tempo das universidades mundiais de renome. Os sucessos alcançados geram novos desafios. A sociedade catarinense ainda enfatiza bastante os vestibulares e as formaturas dos cursos de graduação. A pós-graduação e a pesquisa ainda não estão devidamente inseridas nos diferentes contextos produtivos, tanto públicos como privados. A educação continuada merece mais atenção.

A avalanche de informações propiciada por mecanismos como o Portal da CAPES e a internet ainda não está sendo convenientemente aproveitada. Os novos campi e as deficiências nos demais sistemas de ensino exigem ações interativas de maior intensidade e eficácia. A internacionalização, com especial ênfase na América Latina e nos países europeus com fortes laços de imigração, merece redobrada atenção, num mundo cada vez mais interdependente e globalizado.

A extensão, como forma de acessar os problemas da sociedade e de gerar respostas com crescente eficácia, continua sendo um grande desafio. A interdisciplinaridade, superando barreiras departamentais, está diretamente vinculada com um melhor enfrentamento dos problemas da realidade circundante. As grandes potencialidades universitárias, associadas aos múltiplos enfoques acadêmicos, não vêm sendo devidamente aproveitadas.

Nos níveis de qualidade acadêmica que a UFSC alcançou, a sociedade brasileira tem o direito de esperar uma atuação nacional mais vigorosa, como já está ocorrendo com a APUFSC. Através de mecanismos organizacionais como a ANDIFES, as universidades federais de vanguarda podem e devem assumir um papel mais proativo.  Os conhecimentos, as dimensões e a amplitude das comunidades acadêmicas das IFES podem ser mobilizados em conjunto para alavancar um processo organizado de transformação, bastante benéfico para a nação. 

As diversidades regionais precisam ser adequadamente contempladas dentro de um projeto nacional de desenvolvimento. As IFES possuem pessoal capacitado para pensar um futuro para o Brasil mais consentâneo com suas reais potencialidades materiais e humanas. Graves problemas, como as drogas e a corrupção, merecem ser devidamente enfrentados em âmbito nacional, com soluções regionalizadas.

Universidades como a UFSC estão preparadas para assumir maiores responsabilidades. A internet 2.0, com suas redes sociais colaborativas, cria um ambiente virtual propício para uma crescente interação especialmente entre as universidades públicas brasileiras. Os discentes e os ex-alunos são trunfos importantes nestes processos. A autonomia universitária, assegurada na Constituição, precisa ser mais bem utilizada.

A boa visibilidade atual do Brasil no cenário internacional precisa ser bem aproveitada com uma maior disseminação dos conhecimentos disponíveis nas suas universidades. Assim como os paulistas se beneficiaram de suas universidades estaduais para se postar como locomotiva do Brasil, os brasileiros de todos os quadrantes podem melhorar significativamente sua qualidade de vida através da agregação de valor a seus produtos e serviços. 

A destacada atuação de mulheres em postos de alta relevância no cenário nacional vem despertando excelentes expectativas e renovadas esperanças na construção de um futuro bem melhor para todos os brasileiros. 

Raul Valentim da Silva
Professor aposentado