Sobre a greve nas IFES

Tenho refletido sobre a posição dos professores na UFMG e na UFSC em relação à greve proposta pela diretoria do Andes. Muitos colegas têm perguntado sobre essa greve, sem saber que nem parte do Andes fazemos mais.

Faço questão de conversar pessoalmente com cada um que liga para a Apubh perguntando se entraremos em greve e eu respondo: “Você entraria?”

Nós, professores, temos muitas razões para estarmos indignados com os salários e a enrolação da negociação sobre carreira. De fato, não temos reajuste desde julho de 2010, com inflação oficial de 5,91% em 2010 e de 6,5% em 2011 . E o governo oferece 4% em acordo assinado pelo Andes e Proifes para março de 2012. Além disso, as negociações de carreira deveriam iniciar e terminar em 2009, mas a enrolação tem durado até agora, quando o governo deu o prazo de 31 de maio para finalizar a proposta oficial. Dessa vez, sabemos que não haverá a inclusão da classe sênior, uma vitória da Apubh e da Adufrgs, quando a Apubh ainda fazia parte do Proifes.

Mas, então, por que exatamente 40 universidades estão propondo fazer greve? Porque a diretoria do Andes chamou a greve. Se a greve tivesse sido chamada no dia 1º de junho de 2012, dia seguinte ao fim marcado para as negociações, sem uma carreira digna desse nome, com equiparação com as carreiras de CEampd+T e do IPEA, tanto pelo piso quanto pelo teto, eu entenderia e apoiaria essa greve. Só que ainda faltam 14 dias para as negociações terminarem.

Além disso, por que o Andes não chamou para a greve quando todos os prazos foram desrespeitados desde 2009? Porque os professores tiveram reajustes salariais razoáveis em 2009, 2010 e 2011 e não estavam indignados como estão agora.

Greve é um instrumento legítimo de luta de todos trabalhadores, mas as consequências são graves. Afinal, no serviço público, a greve atinge a população em cheio. Os metroviários estão em greve em BH desde ontem e a população está sofrendo com o caos no trânsito. O desfecho, por essa razão, deve ser rápido, porque o poder de pressão é grande.

No nosso caso, os estudantes são penalizados, bem como nós, professores, já que temos que repor as aulas perdidas em estirões de 4 meses com um mês de intervalo entre um período e outro.  A última vez que a UFMG entrou em greve, em 2001, levamos três anos para normalizar o calendário, com consequências para a vida familiar de quem tem filhos em idade escolar, já que os intervalos não coincidiam com as férias escolares.

O poder de pressão do movimento grevista dos professores é pequeno. Para chamarmos a atenção da mídia e do governo, precisamos ficar meses em greve para as negociações darem algum resultado. Além de não haver garantia alguma de que o resultado seja satisfatório.

Como sindicato, o Andes é lastimável, como são lastimáveis as associações docentes que ficam atreladas a esse modelo falido de sindicalismo, sem independência, nem  autonomia. A Apubh tem uma lista enorme de ações judiciais em favor de seus filiados. O Andes não tem nenhuma. As únicas ações judiciais que o Andes tem na justiça são para justificar a existência de sua diretoria.

Já a Apubh, junto à Apufsc, entidades de professores estaduais e várias entidades estudantis criou o o Instituto de Pesquisas em Educação – IPE Brasil e o Instituto de Pequisas em Educação da América Latina e do Caribe – IPE-ALC.

A proposta do IPE é de financiar e fomentar pesquisas em educação que sejam a expressão da visão dos trabalhadores da educação e estudantes, os protagonistas da educação no dia a dia, para os graves problemas que assolam a educação de nosso países.

A proposta vai ao encontro da necessidade dos sindicatos e entidades estudantis terem propostas concretas para a educação de nosso país, bem como nos países da América Latina e do Caribe, sem termos que esperar que governos o façam.

Afinal, se somos pesquisadores, além de professores, temos que propor soluções, que é o que melhor sabemos fazer.

Sindicatos existem para defender os interesses da categoria que os criaram. Mas não só para isso. É preciso ir além, com propostas concretas, propondo discussões que interessam os professores no seu dia a dia.

Mas, então, como fica a situação dos professores da Apubh para reivindicar o que quer que seja? A Constituição de 1988, no seu artigo 8º, garante a participação de todo sindicato nas mesas de negociação. A Constituição não diz que o sindicato tem que ser nacional, estadual, municipal, ou de qualquer outra abrangência territorial. No entanto, o MPOG não respeita a Constituição e diz que não negocia com sindicatos, mas com “grupos” de sindicatos. E isso porque o MPOG negocia com Andes e Proifes, que não são sindicatos de abrangência nacional, mas apenas “grupo” de sindicatos.  Por isso, estamos providenciando nossa formalização enquanto “grupo”, porque a Apubh não está isolada, para garantir nossa participação em toda e qualquer negociação de interesse dos professores.

Quem decide o que quer não é o Sindicato, e sim os professores.

“Você entraria em greve?…”

José de Siqueira
Presidente da Apubh