Mitos I: O Valor da Verdade!

Pode alguém justificar racionalmente que sindicatos devam ser alinhados com princípios da esquerda? Do contrário, isso não passa de uma crença de que a esquerda é a única ideologia capaz de promover a justiça social. Analisando a dinâmica sindical temos vários contraexemplos. O sindicato polonês Solidariedade, na defesa da democracia, foi capaz de derrubar um regime opressor de esquerda e, desta forma, não pode ser visto como sindicato de esquerda. Já na América Latina, é evidente que os sindicatos se tornaram um bom negócio servindo aos interesses de partidos de esquerda e à ambição pessoal de oportunistas que veem na atividade sindical um trampolim para uma carreira política de melhor remuneração, de modo que, agindo assim, também não servem aos interesses dos trabalhadores. Já nos países (ditos) democráticos europeus temos os sindicatos que organizam manifestações tanto contra governos ditos de direita, de centro, ou de esquerda. Basta ver as manifestações de ruas na Grécia, iniciadas ainda no governo do “socialista” Papandreou, que privatizou companhias estatais, reduziu benefícios e salários etc. Situação semelhante ocorreu com os “socialistas” em Portugal, Espanha etc. (Obs.: “socialista” europeu = social democratas). Ora, se esses sindicatos se opõem a governos de diferentes ideologias é óbvio que não podem ser classificados nem como sindicatos de esquerda, de centro, ou de direita. Concluímos destes exemplos que os interesses dos trabalhadores não são defendidos necessariamente por sindicatos de esquerda.

Um segundo mito se apresenta sob a dualidade “esquerda x direita” que, do ponto de vista econômico, está relacionada à outra dualidade: “socialismo x liberalismo”. Tal oposição é ilusória, pois os grandes financistas se utilizam tanto do liberalismo quanto do socialismo para instrumentalizar seu domínio. Isso fica evidente dos escritos de Integralistas como, Plínio Salgado, Gustavo Barroso, Miguel Reale, entre outros, já nos anos 30. Vejamos a análise de um trecho do texto “Duplicidade e Transação” de Plínio Salgado: “Desde o manifesto de Marx, em 1848, os trabalhadores de todo o mundo começaram a adquirir consciência de classe e a unir-se. Diante do crescimento das organizações sindicais e da larga propaganda anticapitalista, a burguesia, sempre acomodatícia, tratou de aderir ao movimento e de dirigi-lo. Era mais uma transação, ao qual deu resultados, pois o socialismo materialista, ou melhor, o socialismo de Marx, passou a ser dirigido e chefiado pelos políticos burgueses. Uma parte da burguesia (a que não afastara ainda de si a fé religiosa) não acompanhou a onda, mantendo suas posições nos partidos agnósticos, sustentando os princípios do liberalismo e da democracia política. Ao separar-se o revolucionarismo socialista (III Internacional) do evolucionismo socialista (II Internacional), a opinião pública do mundo ficou assim dividida: (1) Corrente materialista dogmática: comunismo, socialismod+ (2) Corrente agnóstica: democracia política liberald+ (3) Corrente espiritualista: democracia cristã. Sob variadas formas de governo, as correntes do pensamento político no mundo ocidental e nas regiões por ele influenciadas eram essas”. Ao reinterpretar a dualidade capitalismo x socialismo no sentido de que ambos convergem para o mesmo objetivo (os interesses do grande capital e seus agentes) esse texto nos induz a pensar em uma nova forma de organização econômica que seja uma alternativa aos modelos liberal e socialista. Talvez as ideias de G.K. Chesterton e Hillaire Belloc basedas na Doutrina Social da Igreja e sintetizadas sob o termo “Distributism” sejam um bom ponto de partida. O texto também oferece uma compreensão da origem dos capitalistas da Rússia de agora que, junto ao Brasil, a China, e a Índia, é considerada um dos países que reúne condições objetivas para um crescimento econômico vigoroso. Ora, tal crescimento presume a existência de uma classe empreendedora e com razoável acúmulo de capital. Contudo, não faz muito tempo, a Rússia, sob a denominação de URSS, reinava absoluta em boa parte do globo encarnando o regime socialista, portanto, seria de se esperar que tal acúmulo de capitais estivesse nas mãos do Estado. Como então, repentinamente, surgiram esses grandes “capitalistas” russos, capazes de tornar a ex-URSS uma potência emergente? Talvez a resposta esteja em que esses grandes capitalistas russos já existiam durante os anos da ditadura soviética. Para uma investigação nesta direção talvez seja útil a leitura dos documentos do livro de Anthony Sutton: “Wall Street and the Bolshevik Revolution”.

Um terceiro mito se apresenta sob a forma de material de propaganda doutrinária descompromissado com a verdade e que tem por objetivo corromper a consciência das pessoas, legitimando algo ruim e perverso sob a aparência de algo virtuoso.  Analisemos, por exemplo, o vídeo de “hip-hop” revolucionário de autoria de um estudante de serviço-social da UFSC chamado Davi Perez (http://www.youtube.com/watch?v=Ld7BWSqkdVcEampd+feature=relmfu). O vídeo tem a única pretensão de enaltecer o comunismo, por isso não serve para formar uma visão realista do que foi a prática do comunismo (ver os documentários: “The Soviet Story” e “Heaven on Earth: The Rise and Fall of Socialism”). Mesmo como obra de propaganda, este vídeo de Davi Perez fica apenas na superfície, apresentando um conteúdo intelectualmente rasteiro ao conter inverdades da qual analisarei apenas uma, expressa na frase: “Somos a insurreição em Moscou e Petrogrado. O poder da maioria finalmente consolidado”. Poder da maioria??? A fantasia desta assertiva é denunciada pela própria história. Vejamos este trecho do “Livro Negro do Comunismo” pag. 66: “[…] A estratégia de Lenin mostrou-se correta: diante de um fato já consumado, os socialistas moderados, após denunciarem “a conspiração militar organizada pelas costas dos sovietes”, abandonaram o II Congresso dos Sovietes. Os bolcheviques, a partir de então mais numerosos ao lado de seus únicos aliados – os membros do pequeno grupo socialista-revolucionário de esquerda-, ratificaram o seu golpe de estado junto aos deputados ainda presentes no Congresso, votando um texto redigido por Lenin, que atribuía “todo o poder aos sovietes”. Essa resolução puramente formal fez com que os bolcheviques tornassem credível uma ficção que iria iludir várias gerações de crédulos: eles governavam em nome do povo no “país dos sovietes”. Rapidamente, multiplicaram-se os equívocos e os conflitos entre o novo poder e os movimentos sociais, que haviam agido de maneira autônoma, como forças corrosivas da antiga ordem política, econômica e social.” Tendo mostrado, desta análise, a inverdade do conteúdo do vídeo, não creio que ele seja uma sátira ao comunismo, afinal, o próprio autor se identifica como comunista. Também, não pode ser considerado uma fábula, já que apresenta fatos reais. Só restam então duas possibilidades: o vídeo é fantasioso como consequência da ignorância do autor sobre fatos históricos bem conhecidos, ou evidenciaria certa desonestidade intelectual do autor que, neste caso, estaria deliberadamente omitindo a verdade. Acreditando que este último caso não se aplique, fica a dúvida de como é possível um estudante universitário, convertido ao comunismo, ignorar fatos históricos de que deveria estar ciente? A única explicação plausível para este dilema é que o conceito de “verdade” dos fasci-comunistas é uma fantasia que eles mesmos constroem para justificar suas ações. Neste caso, Davi Perez e seu vídeo apologético da infame e abjeta doutrina comunista nos dá uma prova contundente do que consiste a moral fasci-comunista: “a verdade é somente aquilo que leva ao comunismo (fascismo)”. Neste sentido, nenhuma ação que leve ao comunismo (fascismo) é criminosa. Deste pragmatismo moral se entende o porque do fasci-comunismo ser insuperável no genocídio de milhões de pessoas, e de como materiais do tipo produzido por Goebbels, Davi Perez, entre outros propagandistas fasci-nazi-comunistas, quando não tem por finalidade distorcer os fatos para manobrar o povo, são usados para intimidar e propagar ódio contra os que tem uma opinião divergente, como mostra um outro vídeo de um homônimo de Davi Perez (http://www.youtube.com/watch?v=9zWtRG3Z3acEampd+feature=related).

Há algo de surreal na propaganda dos fasci-nazi-comunistas. Todos acreditam dotados de uma condição superior que os tornam diferenciados em relação aos demais, predestinados assim a transformar a História, não percebendo que são geneticamente iguais quanto à perversidade de sua ideologia.  Eis o mito que precisa ser combatido. Que ele se origine muitas vezes entre estudantes lança dúvidas sobre qual o valor da verdade no meio acadêmico.

Marcelo Carvalho
Professor do Departamento de Matemática