EM DEFESA DO CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS – PARTE II

Desde quando tornei público o artigo anterior (publicado em 12.03.2013 na página da Apufsc) algumas coisas aconteceram e outras não aconteceram. Explico-me. O curso de relações internacionais foi visitado pela Comissão de Reconhecimento do MEC, entre os dias 11 e 12 de março. E o referido curso formou sua primeira turma no dia 04 de abril. Mas, desafortunadamente, até o dia 22.04.2013 nenhuma resposta formal nos foi dada a respeito das perguntas feitas à Administração Central da UFSC por conta do não recebimento de vagas REUNI, no segundo semestre de 2012, para o Departamento de Economia e Relações Internacionais. Nenhuma resposta até o dia 22.04.2013!

Pois é, temos Francisco como Papa, mas não temos respostas. Por que insistem nesse silêncio, nesse desrespeito institucional? Afinal, penso que é obrigação das autoridades fazer o mínimo: responder ofícios, requerimentos e memorandos . Sequer estou discutindo o mérito das respostas! Ora, uma “gestão republicana” deveria se guiar por esse princípio básico e não discriminar um departamento e um curso. E depois ficam falando por aí que são defensores do diálogo…

O projeto político pedagógico do curso (documento que estava na adesão do CSE ao REUNI), aprovado pela Câmara de Graduação da UFSC, diz textualmente: “Departamento de Ciências Econômicas manifesta intenção de aumentar as vagas na educação superior pública, através da criação do Curso de Relações Internacionais, na forma que segue: 80 vagas anuais, sendo 40 para o primeiro semestre e 40 para o segundo semestre. Para isso, solicitamos o que segue: 1. 15 professores d+ 2. 02 técnicos de nível superior e 02 técnicos de nível médio [segue a listagem de 22 demandas, páginas 314 e 315 do processo]”. O parecer final foi aprovado por unanimidade na reunião da referida câmara, ocorrida em 08.12.2009, da lavra do relator Professor Jonny Carlos da Silva (folhas 331 a 333 do processo). Ora, está claro que a demanda do departamento, reconhecida na ocasião, era de 15 professores. E outros departamentos, como já mencionei no artigo anterior, receberam acertadamente  vagas de concurso. Como já fartamente documentado, e até hoje não contestado pela PROGRAD, diga-se de passagem, ainda faltam 04 vagas para nosso departamento .

Dada a decisão política de não conceder vagas ao Departamento, agimos institucionalmente requerendo manifestação formal da administração ao respeito do pactuado e não cumprido pela atual gestão. Simples assim. Ora, se tivesse havido o mínimo de bom senso institucional, a Administração Central já teria respondido ao que foi reiteradamente perguntado, justificando para nós suas escolhas e se comprometendo (como deve ser em uma gestão que se diz “transparente”, “democrática” e “republicana”) em buscar e garantir mais vagas para concursos para o departamento em ocasiões futuras.

Por isso, reafirmo o que já levantei no texto anterior: – somente motivações que não podem ser reveladas ou que não podem ser assumidas, é que explicam o silêncio sepulcral até hoje vigente. Continuo com minha hipótese: – para que a profecia autorrealizada dos inimigos do REUNI se concretize, é preciso atacar o curso de relações internacionais. E qual era a profecia? Que o REUNI era o começo do fim da universidade pública, que o REUNI significava uma expansão irresponsável, que o REUNI era um programa destinado ao fracasso, um plano do imperialismo ianque, etc.

Para tristeza dessas pessoas, que foram alçadas a cargos de gestão na atual administração, o curso de relações internacionais foi bem avaliado pela comissão de reconhecimento do MEC, tendo recebido nota máxima , apesar de todas as dificuldades que enfrentamos. Mas a própria comissão descreveu, em seu relatório, que o quadro de docentes “atende parcialmente ” as demandas do curso. E até hoje não houve nenhuma manifestação da PROGRAD a respeito desse relatório, nenhum comentário sobre o teor do documento até o momento, em especial a respeito do que ainda precisa ser garantido para a manutenção do padrão de qualidade do curso.  Apenas uma mensagem eletrônica  de parabéns do Diretor Técnico de Ensino que, mesmo sendo correta, coerente e gentil, é insuficiente para o adequado e isonômico tratamento institucional que a comunidade das relações internacionais exige  e merece.

Ora, não é pelo fato de ter sido bem avaliado que o curso não precisa de mais professores. Aliás, é provável que alguns gestores passem a usar isso como argumento para não cumprirem o acordado no passado… Pois não se trata de dizer, como a pró-reitora de graduação, que “o curso de relações internacionais não tem problemas de professores ” (frase dita para a comissão do MEC em 11.03.2013), porque não é esse o ponto. Mesmo porque tal afirmação não é verdadeira! No atual semestre, por exemplo, o CNM cancelou uma disciplina por falta de professor junto ao curso e deixou de oferecer três optativas CNM na grade curricular.  Tais disciplinas são fundamentais para os estudantes do curso, que precisam fazer pelo menos 06 optativas código CNM para integralizar o currículo. Como temos uma pró-reitora que não nos ouve (e parece não querer ouvir!), que também não dialoga e, portanto, não responde documentos a respeito de indagações sobre vagas REUNI, a mesma acaba tirando conclusões precipitadas a respeito de uma realidade que não conhece minimamente.  Por agir desse modo, fica-se com a impressão que nossa universidade tem uma pró-reitora de graduação que não está fazendo seu dever de casa.

Assim, apesar do reconhecimento oficial por parte do MEC de que a construção coletiva que iniciamos em 2008 esteja sendo bem sucedida, não me surpreenderão tentativas futuras, por parte de alguns gestores, em prejudicar o curso e, principalmente, não reconhecer o que está documentado. Aliás, aproveito a oportunidade para comentar o tratamento “isonômico” que recebemos da AGECOM recentemente: as primeiras formaturas de cursos novos foram devidamente mencionadas na página oficial da UFSC (www.ufsc.br). A nossa, ocorrida em 04.04.2013 não foi objeto de matéria institucional. Nenhuma linha mencionando nossa formatura! Que comunicação é essa, c laramente discriminatória?

É preciso insistir, para ver se pela repetição certos gestores compreendem: havia um compromisso institucional com a concessão de 15 vagas de concurso para professores . Não se trata de dizer que o curso de relações internacionais tem menos problemas do que outros cursos, como alardeado pela PROGRAD . Não é esse o ponto! O fundamental é que o departamento tem direito a essas vagas, inclusive para fazer seus ajustes internos. Inventar novos critérios, negar o pactuado, desconsiderar o esforço até agora feito pelos departamentos envolvidos, principalmente pelo Departamento de Economia e Relações Internacionais, são todas formas de manifestação de uma única e decisiva questão: a atual administração não tem boas intenções para com o curso de relações internacionais.

É uma pena que misturem alhos com bugalhos e coloquem suas antipatias pessoais e políticas à frente do que é institucional. Ainda não percebem e não tem a dignidade em reconhecer que o sucesso de um curso como o de Relações Internacionais é o sucesso institucional da UFSC. É o nome da nossa universidade que está em jogo. Quando um curso recebe nota máxima no MEC, em seu processo de reconhecimento, é sinal de que a UFSC fez algo correto. De que os departamentos envolvidos no curso atuaram positivamente! E, em particular,   nós, do Departamento de Economia e Relações Internacionais, também somos UFSC. Parece óbvio, não? E é triste ter que ficar dizendo o óbvio em tempos de aparente “republicanismo”.

E por que não atuam institucionalmente , sinalizando para os atores envolvidos em tal curso, que a administração apoiará e agirá para que tal curso mantenha seu padrão? Isso começa (e aqui parece que é preciso ensinar o Pai Nosso para esses católicos) pelo simples cumprimento do dever: – responder o que foi perguntado em memorandos e requerimentos. Depois, pela reafirmação de compromissos institucionalmente assumidos no passado.

Assim, pelo visto, teremos que trocar os sofás de tanto que esperaremos sentados para obter alguma simples resposta para perguntas elementares. Um certo pensador revolucionário alemão escreveu certa vez que a prática é o critério da verdade. Eis a prática, até aqui, dos que discursam em defesa da institucionalidade  e do diálogo. Diálogo que só vale quando eles discursam… Infelizmente, para eles, nós não somos estátuas.

*Helton Ricardo Ouriques

Depto de Economia e Relações Internacionais UFSC