Sem Senso de Bom Senso

No dia 7 de maio, a administração central da UFSC inaugurou uma nova forma de comunicação com a comunidade universitária através de um meio impresso intitulado “Notas da Gestão” (NÚmero 1, Ano 1) É, sem dÚvida, uma forma inovadora que, no entanto, deve ser devidamente escrutinizada por quem deseja compreender o que está sendo exposto.

A nota prioriza a questão da segurança, mas a trata unicamente no âmbito da questão da iluminação, e de ações de monitoramento e integração envolvendo o pessoal da DESEG, o órgão encarregado da segurança do campus, como se percebe do seguinte trecho da nota,

“A UFSC possui 1117 câmeras de segurança e 265 centrais de alarme monitoradas na base de seu Departamento de Segurança Física e Patrimonial. O monitoramento permite acompanhar o que ocorre nos campi, coibindo ações criminosas. A equipe do DESEG faz rondas táticas no campus de Forianópolis diariamente – inclusive nos finais de semana e feriados – e aciona a Polícia Civil, Militar ou Federal quando um crime é praticado na instituição”.

A nota esclarece a forma como é feita a segurança, mas não mostra a sua eficácia. Por exemplo, é dito que as “rondas táticas” são feitas pelo pessoal do DESEG que acionam a polícia quando um crime é praticado na instituição. Ora, mas se a polícia é acionada apenas quando um crime já ocorreu, no que isso aumentaria a segurança? Isso dá a entender que o campus continuará sem o policiamento ostensivo da polícia militar, que é a Única forma efetiva de se aumentar a segurança. Com efeito, como os seguranças do DESEG atuam desarmados, diferente da ação de um policial, eles não têm meios efetivos de agir de forma preventiva antecipando-se e evitando que o crime seja consumado. Na prática, o DESEG atuaria mais na proteção do patrimônio da instituição desempenhando o mesmo papel que uma Guarda Municipal desarmada, não estando capacitado para cuidar da segurança das pessoas. Já para quem acha que as 1117 câmeras espalhadas pelo campus dão conta de algo, isso é facilmente refutado pelo fato delas não inibirem as rotineiras pichações nos prédios do campus. Quanto à questão da iluminação, embora importante, não é apenas isso que resolverá o problema, pois se a questão da segurança se reduzisse a uma mera questão de boa iluminação seríamos obrigados a aceitar que em lugar algum ocorreriam delitos sob a luz do sol, o que também é falso. Ora, a verdade é que a insistência em proibir o policiamento do campus pela PM tem mais a ver com condicionantes ideológicos do que com razões técnicas.

A nota da administração central também não faz qualquer menção aos pontos levantados pelos alunos que no dia 28 de março saíram em protesto contra a retirada da bandeira nacional do campus. Na ocasião, eles se reuniram com a reitora e vice-reitora e foi solicitado, entre outras coisas, o policiamento ostensivo do campus pela PM. Assim, em relação à demanda desses alunos, a administração central, ao que parece, continua em débito. De nada adianta comissões executivas do PROPLAN, PROAD e PRAE apresentarem seus relatórios sobre a questão da segurança do campus se nenhum deles tiver sequer contemplado os pontos solicitados por aquele grupo majoritário de estudantes que defendem a presença da PM no campusd+ insistir nisso é voltar ao mesmo patamar de outrora apostando que esses estudantes se desmobilizarão. Será??

A nota da administração central menciona também que o CUn

“aprovou moção contra qualquer forma de violência, ainda mais em um espaço público e vocacionado para a formação humana como é o Campus Universitário”.

Mas, que ambiguidade! Que violência é essa a que a nota do CUn se refere? A de um segmento minoritário de professores, servidores e estudantes da UFSC que confrontaram policiais federais, depredaram viaturas da UFSC, e que só foi contido pela intervenção da polícia militar? Não creio, pois o CUn só se manifestou sobre o ocorrido por solicitação de um de seus conselheiros que, conforme noticiado, teve participação nos eventos e está sendo indiciado pela polícia federal. Ora, se administração central não fomentou nenhuma ação de resistência ou de violência contra a ação da polícia então, para o bem da UFSC, já está na hora de deixar que cada um assuma seus atos e resolva por si suas pendências com a lei. A insistência da administração central em criminalizar a ação da polícia, tomando partido, ainda que indiretamente, de um dos lados do conflito, só serve para desgastá-la ainda mais.

Enfim, a administração central erra ao perder o senso do bom senso. Talvez, influenciada por grupos com os quais conjuga ideologias comuns, fica a impressão que em alguns casos a administração central mostra “solidariedade” a grupos e a questões que pouco se identificam com o que se espera de uma instituição acadêmica. E foi assim que a administração central resolveu compartilhar a versão daquele segmento minoritário que envergonhou, violou e mediocrizou a instituição, fazendo a UFSC aparecer diante da opinião pública não pelo que ela produz academicamente, mas sim pela violência, a desordem e o desrespeito com que um segmento minoritário confrontou a polícia.

Perfeito! é um direito da administração central comunicar-se com as pessoas como bem entender, e de fazer a leitura que bem desejar dos eventos. Assim, concordo inteiramente quando ela afirma que “para além de qualquer gestão, o que precisamos preservar é a UFSC”, contudo, em alguns casos, não reconheço isso nas ações da administração central. Com efeito, quando a administração central opta por criminalizar de forma inapropriada e injusta a legítima ação da polícia federal, talvez para não ter que contrariar um segmento minoritário e barulhento que parece detestar a polícia, quem realmente preserva a instituição são exatamente aqueles que estão para além de qualquer gestão e que não tem nenhuma ambição política dentro da universidade, e, portanto, não almejam cargos na administração central, nem as posições (bem concorridas) para conselheiros do CUn, ou de chefia de centro. São estas pessoas que realmente preservam a instituição, pois não são movidas por interesses e ambições pessoais, mas sim pelo ideal acadêmico. Cabem a essas pessoas resgatar a dignidade e o espírito da instituição, e isso será feito. O bom combate já está em curso, vamos a ele.

Marcelo Carvalho
*Professor do Departameto de Matemática da UFSC