Pela revitalização política da Apufsc

Nesta sexta-feira, dia 19, estamos sendo convidados pelo Prof. Armando Lisboa, primeiro Presidente da Apufsc-Sindical, para discutirmos a Apufsc e o processo sucessório. Trata-se de um convite à uma reunião que se realizará às 16h na sala Drummond do prédio novo do CCE.

O convite é extensivo a todos os associados da Apufsc, incluindo os seus atuais dirigentes.

Quais as razões para esta reunião?

A primeira razão é a discussão dos rumos da Apufsc, desde quando ela se desvinculou da Andes e se tornou Sindicato. Precisamos fazer a Apufsc retomar o seu papel político na UFSC e a sua liderança no âmbito nacional na busca da independência e da autonomia dos sindicatos locais dos professores como forma de reaproximar a representação sindical de suas bases (nós).

Há muito o que falar e mais ainda o que fazer neste esforço. Este é um campo onde a independência e a autonomia encontram a barreira das centrais sindicais e dos partidos políticos e movimentos sociais que por ele transitam. Este é o caso da relação entre a CUT, o PT e de alguns partidos da base governista e o Proifes e também é o caso da relação entre a Andes, a Conlutas e os partidos e movimentos da esquerda radical.

E nada disto nos convém.

Mas atenho-me neste texto às questões locais e, em particular, ao papel da comunicação em uma associação de professores de universidade.

Estamos diante de um turbilhão de acontecimentos em nossa universidade e não temos um boletim impresso onde possamos colocar a nossa opinião seja sobre a recente proposta de resolução de pesquisa, seja sobre a bolsa permanência e a política de cotas da UFSC e do governo federal, entre outros assuntos que nos afetam diretamente.

O boletim impresso semanal com limites generosos de caracteres sempre foi, historicamente, um instrumento de opinião política dos professores. Todavia, nossa opinião está hoje restrita à página eletrônica da Apufsc, que poucos acessam.

O boletim, agora mensal, virou um folhetim para a divulgação de notícias e ações da Diretoria. Deixou de ser um instrumento do professor (e aqui não me refiro apenas ao associado) e virou um instrumento de publicização das atividades da Diretoria.

Há que se elogiar o Márcio Campos e os seus companheiros de gestão em suas ações visando a defesa de nossas causas trabalhistas e junto aos novos campi, com a implantação de sedes nestes campi e dando visibilidade aos problemas do dia-a-dia de nossos colegas, a começar pela falta de institucionalização destas unidades e tendo em vista as suas precárias condições de trabalho.

Mas vejo aqui um erro de conceito da atual gestão. Não somos um sindicato de motoristas de ônibus ou de metalÚrgicos. Nossas grandes armas são a opinião, a ideia e o argumento. O Boletim sempre foi um espaço de debate político e de confronto entre posições contrárias, algo que é a essência do espírito do professor universitário. Daí precisarmos de um instrumento que dê visibilidade a estas opiniões e de um press-releasing eficiente. De outra forma seremos vítimas da inoperância de uma entidade que só existe para defender os nossos interesses.

A recente criação da NewsLetter é, sem dÚvida, uma boa iniciativa. Da mesma forma a recente série de palestras e debates sobre assuntos de interesse dos professores, como resultado, ao meu conhecimento, das iniciativas da Profa. Edinice Mei Silva, empossada em dezembro de 2013 como Diretora de Promoções Sociais, Culturais e Científicas.

Infelizmente, todas estas inciativas só foram tomadas ao final desta gestão, algumas semanas antes das eleições. Um pouco como aconteceu ao final da gestão Prata, quando, em plena campanha do Paraná, o RU servia camarão nos almoços. Trata-se aqui de uma saudável mudança de atitude ou de uma campanha pré-

leitoral?…

A segunda razão é que queremos sair desta reunião com uma Única chapa e não com duas. Nada contra duas ou, mesmo, mais chapas concorrendo à Diretoria. Mas se o programa de ambas for o mesmo (e espero que sejam), não vejo qualquer sentido em duas chapas com o mesmo programa, divididas apenas por questões de promoção pessoal, afinidades, simpatias ou vetos.

A condição que impomos para o nosso apoio é que esta chapa (que, insisto, esperamos, seja Única) busque a revitalização política da entidade tanto a nível local quanto nacional, dentro da linha do manifesto abaixo, escrito a várias mãos e já divulgado em nossas listas de discussão.

Pela retomada dos rumos da APUFSC-Sindical

A recente história do movimento sindical dos professores das universidades federais teve, há pouco mais de cinco anos, uma vitória que significou o inicio de um novo rumo na organização da categoria.

Esta conquista resultou de uma árdua batalha contra velhas práticas sindicais, burocratizadas, afastadas da maioria dos professores, que não mais satisfaziam os anseios e necessidades da categoria docente. Práticas essas que se norteavam fundamentalmente por posições e interesses ideológicos. Desde o início deixamos claro que a luta era contra a concepção centralizadora, burocrática e pouco representativa, que divorciava a entidade das bases sindicais, isto é, dos professores. Era tal o afastamento, que a credibilidade e legitimidade das instâncias sindicais e de seus encaminhamentos resultavam comprometidos. Foram tais práticas que levaram a um grande descrédito do ANDES. A insatisfação com tudo isso impulsionou a constituição do movimento NOVA APUFSC, que culminou com a maior assembleia geral fora de greve que esta universidade já teve. A resposta foi imediata: desfiliação do Andes e a transformação da APUFSC em um sindicato autônomo, independente e democrático.

Este processo trouxe ainda um amadurecimento significativo da visão sindical de um grupo de professores que estavam afastados das lides próprias de um sindicato e que não mais se sentiam representados por aquela lógica de fazer política sindical. Um importante passo foi a busca da Carta Sindical, instrumento legal que assegura constitucionalmente a existência do sindicato representativo da categoria docente. A APUFSC foi o primeiro sindicato dos professores federais a receber a carta sindical e a agir de pleno direito em função de sua base territorial. Hoje busca construir uma representação nacional que lhe permita sentar nas mesas de negociação federais, a Federação Nacional de Sindicatos autônomos (MDIA) e se fazer presente nos vários campi da UFSC.

Todavia, após este período de conquistas, de reorganização e de afirmação de novos valores sindicais, a APUFSC atualmente passa por um grande marasmo político nas suas atividades e uma quase paralisia de suas instâncias sindicais.

Isto tem levado à uma evidente perda em nossa identidade de luta, do justo e democrático debate de ideias, do enfrentamento dos problemas da universidade e da categoria. Podemos ver isso em diferentes situações, talvez a mais emblemática seja o Boletim que, além de esporádico, não se fortalece como espaço de debate político e de circulação de ideias e do confronto entre posições contrárias, algo que é o próprio espírito do professor universitário.

Portanto, tal distanciamento dos professores da sua entidade representativa e do sindicato com os temas mais relevantes da universidade precisa ser enfrentado e resolvido.

Neste sentido, preocupa também o comportamento inerte da própria diretoria, que só faz crescer o descontentamento e o distanciamento entre a estrutura sindical e os problemas e interesses dos professores. Por consequência, acaba fortalecendo a gestão burocrática e assistencial e compromete a representatividade e o espírito de luta que fundou o nosso movimento.

é bom lembrar que em todos os momentos de crise e de perda de rumos do nosso sindicato, os professores souberam dar a resposta à altura. Agora, mais uma vez, consideramos que o momento presente, não só da entidade, mas da nossa Universidade, está a nos exigir clareza, altivez, humildade, coragem e, sobretudo mobilização, pois precisamos reafirmar e reavivar nossos valores, os objetivos traçados quando de nosso grito por uma Nova APUFSC.

Além disto, não há como conceber um sindicato de professores de universidade divorciado da instituição universitária. Os objetivos do sindicato compreendem os de proteger o professor em suas atividades, lutando por salários justos que deem dignidade à profissão e por condições de trabalho adequadas à estas atividades. Um e outro são requisitos essenciais para a qualidade acadêmica da instituição universitária. Em sentido inverso, a qualidade acadêmica da universidade dignifica a nossa profissão e o nosso papel como agentes de transformação e nos valoriza diante da sociedade que nos paga.

Necessitamos, pois, recolocar a entidade no caminho da construção de um futuro melhor para a Universidade e para nós professores. Nosso convite é para todos aqueles que creem neste ideal e para aqueles que estiveram desde o começo nesta caminhada. Um convite à união para reforçar a vida sindical e os valores fundantes de um sindicato universitário vibrante, autônomo e de lutas.

*Paulo Cesar Philippi
Professor do Departamento de Engenharia Mecânica