Somos todos responsáveis do caos universitário e nacional

A ultima eleição na UFSC demonstrou com toda claridade que em lugar de formar verdadeiros cidadãos, pessoas qualificadas e responsáveis estamos formando meros “recursos humanos”, parafusos de um sistema que morre lentamente,  porque não é um sistema logico nem humano.

A universidade não é um país onde todos somos cidadãos e temos os mesmos direitos, responsabilidades e deveres. Cada cidadão deve trabalhar em incontáveis tarefas licitas, cumprir com a lei que é igual para todos, pagar seus impostos e assim ganhar seu direito de escolher as autoridades, para o qual deve analisar detidamente as propostas que procurem um pais melhor: mas justo e mais fraterno.

A universidade possui funções especificas com responsabilidades, direitos e deveres completamente diferentes para cada integrante de sua comunidade.. Os professores têm a grave responsabilidade da pesquisa da VERDADE, pesquisas que exigem atualização permanente, e sua transmissão aos alunos e a sociedade, estes tem a obrigação de apreender fundamentalmente a pensar e de  serem pessoas qualificadas, e os funcionários a facilitar estas funções fundamentais.  Atualmente com o método  de apuração eleitoral determinado pelo CUN, os três segmentos são iguais, têm a mesmas responsabilidades, direitos e deveres?  Isto é uma grande inverdade e por isso uma forma camuflada de opressão.  É um tipo de igualitarismo  irracional e retrógado.

Assim, resulta um Reitor eleito por um segmento, deixando fora os dois segmentos que são o núcleo da vida universitária. E isto despeitando a Lei Universitárias Nacional n° 9.192 de dezembro de 1995 que determina no art.16 III:  que na consulta prévia a comunidade universitária deve prevalecer a votação uninominal e o peso de setenta por cento para a manifestação de pessoal docente em relação as demais categorias. Empregando o 70% de peso para professores, 15% para estudantes e 15% para funcionários o resultado seria não 47,43% vs. 46,07%, mas 41,97% vs. 52,33% a favor da chapa 84. Esta é a verdade de uma universidade que deve ser “laica”, submetida totalmente a lei justa e a verdade, e não a interesse de grupos altamente organizados por interesses políticos, religiosos ou de qualquer outro tipo.

Aparecem homens de direito, despeitando o próprio direito: o claríssimo art. l6 III da lei.  Assim, como cidadãos, como pessoas qualificadas que devemos pensar, não podemos exigir absolutamente nada a nossas autoridades porque estamos ensinando a desrespeitar as leis. E os procuradores que agora são da AGU, ao serviço da nação, não da universidade, igualmente aceitam violar a lei?  E a APUFSC que solicitou seja respeitada a lei universitária não é respeitada pelos seus próprios associados? Esperamos uma definição de suas autoridades. Os professores, temos perdido toda autoridade moral ganhada na luta por uma “verdadeira” democracia.

Estamos como no tango de Discepolo “Cambalache=cambalacho”  escrito em 1934, mas profético : “Hoje resulta que é o mesmo ser direito que traidor, ignorante, sábio ou ladrão, generoso ou estafador ”!Tudo é igual! ! Nada é melhor! O mesmo um burro que um grande professor”. Recomendo ler este tango completo que explica nossa realidade atual.

Não existe qualquer universidade, dentre as qualificadas como as melhores do mundo, por qualquer sistema de avaliação, sejam de Estados Unidos, Inglaterra, China, Rússia, França etc. que acredite neste tipo de eleição. Podemos ser originais, mas não contra os princípios da logica. AS universidades paulistas, que são as melhores do país, não empregam este sistema que tem fracassado.

Com esta deformação da logica, de exemplo de desrespeito pela lei: como podemos esperar que em nosso país não existissem, nada menos que 33 partidos políticos e com a possibilidade de outros mais, como não observar que um bispo de um grupo religioso seja presidente de um partido politico retornando assim a idade medieval onde religião e politica estavam misturadas, como não esperar que exista evasão de impostos por aproximadamente 18 bilhões de reais, como não esperar a carência de patriotismo dos gerenciadores da Petrobras, como não esperar que sigamos ensinando os velhos paradigmas científicos, como não esperar estar completamente atrasados em ciência e tecnologia?

Não podemos deixar de observar, que ainda que muitos não o desejem, que  “somos, de alguma medida, responsáveis pelo caos econômico, politico e institucional que vive nosso país” Onde se formaram muitos dos atuais dirigentes de nosso país? Nas universidades camufladas de democracia, mas plenas de demagogia. São meros! Recursos humanos! Ao serviço de um sistema tristemente injusto e carente de humanidade porque não está centrado no ser humano, mas na ganância e na idolatria do dinheiro e do consumo.

Como podemos estimular a nosso alunos a lutar por um país e um mundo melhor, se continuamos empregando na escolha de nossa autoridade máxima normas elaboradas como consequência de sair de uma ditadura. Mas, já passaram quase 30 anos de esse evento e devemos mudar para um sistema mais logico, que considere as obrigações da universidade com a sociedade, com a criação de ciência e tecnologia e isso não se consegue violando as leis justas do país, nem a logica das responsabilidades.  A Lei Universitária pode ser melhorada, mas não representa uma lei de opressão. Esta eleição e de clara opressão aos professores e alunos pelos funcionários.

Tudo na vida o tempo cobra.  Se não reagirmos a esta situação o futuro que nos espera será cada dia mais amargo.

 

*Rosendo A. Yunes

Professor Aposentado