Autoridade e poder

Um agradecimento a Sinésio Stefano Dubiela Ostroski.

Na próxima semana nosso colega Sinésio, do Dpto. de Administração, aposenta-se, rendendo-se à norma legal do limite dos 70 anos. Todavia, jovial, disposto e altivo, tem muita vontade de continuar a contribuir com a UFSC, o que provavelmente fará agora com outro vínculo.

 

Por ter ingressado na UFSC em 2 de julho de 1965, inicialmente como Técnico-Administrativo, e depois como Docente, aqui trabalhou continuamente por 50 anos, quatro meses e três semanas (na data da jubilação). Tal longevidade de trabalho em nossa instituição é, talvez, inédita, e por si só justifica nossa homenagem e reflexão. Sinésio conosco colaborou das mais diversas formas, seja como fundador e membro das duas primeiras diretorias da FEPESE de 1977 a 1981, seja exercendo a Chefia Departamental e outros cargos, como o de Coordenador de Programação Financeira do MEC em Brasília por três anos.

 

Mas, face ao perfil do Sinésio, e a este raro momento, é propício resgatar a conhecida diferença entre poder e autoridade. Toda instituição tem seus poderes estabelecidos. A nossa, chefias, diretores, reitord+ colegiados e conselhos. É sabido que muitas vezes há poder concentrado, mas falta autoridade. O divórcio entre poder e autoridade é fatal e perigoso para qualquer instituição, especialmente nos tempos atuais extremamente velozes.

 

Para atravessá-los é necessário mais do que a simples atenção aos marcos legais, à ordem institucional e aos jogos de poder. Para não naufragar neste turbilhão, carecemos de âncoras emocionais e morais, virtudes e valores, de referências que nos deem a direção a ser buscada. Sem elas, perdemos o rumo e o sentido, e nos fragilizamos.

 

As instituições aprendem e evoluem, é a lição básica de qualquer teoria da organização. Ela é ainda mais válida no presente mundo das redes organizacionais, onde o fluxo de informações não se dá mais de forma radiofônica ou em mão única. Nas redes observamos o fenômeno da emergência, sistemas que se auto-organizam e nos quais os padrões hierárquicos puros não são eficazes, pois a eficiência exige cada vez mais transparência e legitimidade, do que força e rigidez burocrática. Ou seja, mais autoridade que poder.

 

Ocorre que a autoridade brota do exercício de virtudes, as quais não se aprendem em livros, mas com exemplos. O progresso coletivo exige uma comunidade organizada para contar com relações continuadas e experiências acumuladas. Se isto não se opera, há um imenso déficit estrutural na forma de baixo nível de lealdade institucional, diminuição da confiança e enfraquecimento do conhecimento organizacional, gerando ineficiências e desperdícios.

 

O aprendizado é acumulativo, ou não é. Uma instituição que desdenha da experiência acumulada é uma instituição fraca, que, ao se recusar a aprender, não acumula conhecimento, não evolui e progride, pelo contrário. Nas universidades isto é absolutamente decisivo. Não por acaso, o decanato é uma práxis relevante e comum nas melhores universidades. Ou seja, “velho não significa obsoleto. Quantas verdades elementares só se tornam verdades quando já se é suficientemente velho para reconhece-las, e suficientemente desprendido para enuncia-las?”[1] Todavia, em nossa universidade não tem nenhum status… Aqui, ao contrário, a norma que regula a condição de “voluntário” em alguns aspectos humilha e dificulta aos mais antigos aqui permanecer dando preciosas contribuições.

 

Para além de exaltarmos neste momento o caráter do Sinésio, transparente na sua liberdade e generosidade, seu permanente compromisso com esta universidade, seu constante bom humor, sua capacidade de sempre se renovar, e de publicamente reconhecer sua inestimável autoridade, esta homenagem é uma oportunidade para que a UFSC reveja a forma como se organiza de modo a valorizar seu capital social, a experiência de sua gente, condição para que avancemos para patamares acadêmicos muito maiores do que os já alcançados.

 

Obrigado, Sinésio, por todas estas lições.

 

*Armando de Melo Lisboa

Professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais 

 


[1] Wanderley G. dos Santos. “Ordem burguesa e liberalismo político”. São Paulo: Duas Cidades, 1978, p. 13.