Resposta aos profs. Nilton Branco e Gerônimo Machado

Em reação ao meu texto, “Primazia da Verdade: Em Defesa do Direita São Paulo”, dois professores teceram comentários que aproveito para responder e colocar mais alguns fatos.

Prof. Nilton Branco escreve  

“Alguns fatos:

http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,coronel-ustra-e-condenado-por-morte-de-jornalista-na-ditadura

 

http://www.viomundo.com.br/denuncias/amelinha-teles-e-preciso-botar-um-fim-na-impunidade-dos-torturadores-da-ditadura-militar.html

 

Como avalio em meu comentário anterior, o apoio a tortura, seja em que escala for ou para qualquer fim, é o que coloca o cidadão na (aparente confortável) seara da barbárie. É o que separa o humano do selvagem.”

 

Inicialmente, não vou conjecturar aqui as razões que levaram o prof. Nilton a escrever  algo como “(aparente confortável) seara da barbárie”, já que me parece razoável que uma pessoa normal não se sentiria nem aparentemente nem concretamente confortável na barbárie.

 

O breve comentário do Prof. Nilton, talvez não intencionalmente, repete  uma estratégia intelectualmente desonesta muito comum na esquerda que é o de evitar o debate pela estigmatização da argumentação contrária. Analisemos como isso se dá (embora não posso afirmar que prof. Nilton tenha tido deliberadamente esta intenção). Primeiro, ele tenta induzir o leitor a aceitar que

(A) o cel. Ustra foi torturador,

para em seguida, sem nenhuma elaboração, afirmar que

(B) quem apóia tortura se coloca na  (aparente confortável ) seara da barbárie.

Ora, há alguma conexão lógica entre essas duas assertivas A e B ? Afinal, é a falta de conexão lógica entre A e B que soa como algo intelectualmente desonesto, caso tenha sido deliberadamente intencionado e, mais ainda, inferir que haja tal conexão revela um erro metodológico de raciocínio, como pretendo mostrar. Na verdade, há um elo faltando entre A e B que completaria o raciocínio que seria este:

“Se Ustra é torturador então quem enaltece Ustra apóia a tortura” (*)

 

sendo esta a forma na qual eu assumo a colocação do prof. Nilton, do contrário, considerando apenas as assertivas A e B sem a conexão causal entre elas, ele estaria fazendo uma livre concatenação de palavras sem nenhum sentido, algo como afirmar que “ser homem ou mulher é uma construção social” (mas, isso é assunto pra outra ocasião).

Assim, se o prof. Nilton valida (*), a questão que surge é se o prof. Nilton assume como princípio geral o fato de

 

“X ter provavelmente feito uma ação ruim invalida todas as outras ações de X?” (**)

Seguindo a tênue linha de raciocínio do prof. Nilton, façamos uma reversão da argumentação aplicando-a ao próprio prof. Nilton, mas tomando X como outro protagonista. Segundo consta nos arquivos do Exército, descritos nos livros “Projeto Orvil” e a “Verdade Sufocada”, Dilma Roussef fez parte do COLINA,  um grupo terrorista que pretendia tornar o Brasil uma ditadura comunista, como se conclui da leitura dos documentos desse grupo coligidas no livro “Imagens da Revolução”, no entanto, ciente ou não desse fato, parece que o prof. Nilton votou em Dilma Roussef. Como explicar isso? Uma vez que votando em Dilma ele não aplicou (**) a si mesmo, a única alternativa que resta é acreditar que talvez ele tenha aplicado a si mesmo o fato de que

“X ter provavelmente feito uma ação ruim não invalida todas as outras ações de X” (***)

ou, talvez ele simplesmente não acredite que Dilma fez parte de um grupo terrorista, ou que se fez, não cometeu ações terroristas. Ora, mas trocando a menção ao terrorismo por tortura nessas duas últimas alegações, vemos que essas são exatamente as mesmas razões que se empregam  na defesa dos órgãos do regime, por exemplo, DOI, CODI, DOPS e das ações de seus agentes na sua luta contra o comunismo, isto é, de que se houve tortura elas foram casos isolados e não uma prática sistemática que se estenderia a todos os agentes na missão de defesa do Brasil contra a ameaça comunista. Daí, concluímos que a injustificada conexão causal que o prof. Nilton faz entre A e B acaba por levar a justificação daquilo que ele mesmo critica. Ou seja, demonstramos que realmente há um erro metodológico na argumentação do prof. Nilton. QED.

 

Há ainda uma aparente contradição em (**) e (***), pois quem quer que  utilize tais assertivas sugere que “quando o que se atribui a X é a tortura então tudo mais está invalidado”, mas “quando o que se atribui a X é o terrorismo então tudo mais está validado”, ou seja, será que a seara da barbárie é tão seletiva ou confortável (?) a ponto de incluir a tortura deixando de fora o terrorismo? Certamente que não! Tais absurdos obviamente se originam da suposição de que (*) é correta, ou seja, mostramos definitivamente que é um erro assumir (*) como base de argumentação.

 

Faço aqui uma defesa do cel. Ustra em algo que considero injusto. Em todos os processos citados pelo prof. Nilton não se encontra nenhuma prova documental ou evidências objetivas de que o cel. Ustra torturou alguém. O que se tem são provas testemunhais e, testemunho por testemunho, o próprio cel. Ustra escreveu dois livros onde refuta as acusações que lhe foram feitas [1], uma delas tão irreal que foi facilmente desacreditada por ele, já que no dia em que se afirma que houve tortura, ele sequer estava presente, encontrando-se internado num hospital. O fato é que provas testemunhais que servem meramente para declarar que X torturou não provam objetivamente que X torturou, ainda mais quando se faz a contradição do testemunho, e estamos aqui diante de um novo paradigma na justiça brasileira onde na ausência de provas documentais ou de indícios objetivos comprobatórios da acusação a presunção de inocência de quem é acusado deixa de valer.

Prof. Gerônimo escreve

“Esse professor Marcelo carvalho é apenas e irritantemente um DEFENSOR EXPLICITO DO FASCISMO, DAS DITADURAS E DOS REGIMES DE TORTURA SISTEMÁTICA, como o que ocorreu no Brasil, em SP, no DOI-CODI, DOPS, ETC., e com as práticas sistemáticas e explicitas de Fleury, Ustra e muitos outros policiais e militares do regime ditatorial, civil e militar brasileiro, sobretudo, entre 1968 e 1978…”

 

Uma vez que o prof. Gerônimo não é capaz de definir o que seja fascismo, eu assumo que ele provavelmente aplica o termo para todo aquele que pensa diferente dele. Contudo, me parece sem sentido, embora previsível vindo de alguém como o prof. Gerônimo, que ela tenha mencionado práticas sistemáticas de tortura no Brasil sem dar evidências que apontem para isso, confiando em coisas que existem apenas na cabeça dele e que talvez sejam decorrentes de uma senilidade hiper-avançada que já começa a se manifestar (o “hiper” é digno de distinção, já que é um fato que muitos idosos mantêm sua capacidade cognitiva). Mas, enfrentemos os fatos, prof. Gerônimo! Como podemos acreditar na sua versão de que houve tortura sistemática pelo regime militar diante de fatos objetivos que apontam para um saldo de poucos mortos em 20 anos de regime, e também das características um tanto brandas do regime militar no Brasil, principalmente se comparadas aos brutais regimes comunistas que você tanto admira? Ora, é logicamente e empiricamente razoável que o grau de brutalidade de um regime seja diretamente proporcional ao número de mortes de seus cidadãos bem como da percepção negativa de quem viveu a época, assim, como explicar que em 1970, em plena vigência do AI5, isto é, durante a fase mais dura do regime, o partido ARENA que apoiava o regime militar tenha tido uma vitória avassaladora contra a oposição do MDB ? Sim, acreditem, embora tivéssemos um exercício democrático limitado, o povo podia escolher seus representantes no Congresso e usar a ocasião pra expressar seu apoio ou rejeição ao regime, e assim fizeram em 1970, o que demonstra que havia uma percepção positiva do regime, algo difícil de se encontrar nas ditaduras comunistas onde não existe  oposição, e tampouco tem o indivíduo  a liberdade de se deixar o país.

Vemos então que no Brasil, esta narrativa de regime brutal e sanguinário não se sustenta, ainda mais quando sabemos que ela é fruto da doutrinação marxista na mídia e nas universidades algo que ocorreu durante e após o regime militar, e cabe aqui mais uma indagação de que se o regime militar foi  mesmo brutal, como ele permitiu que seus detratores tivessem tanta liberdade para fazer suas críticas?  

Da mesma forma, qual a credibilidade de uma narrativa contada por uma comissão nacional da (meia)verdade (?) que de forma tendenciosa sequer se dispôs a reconstituir a verdade sobre os cerca dos 120 mortos pelos terroristas de esquerda, atitude vergonhosa que relega ao esquecimento casos de tortura e morte de tantas pessoas,  por exemplo, o tenente Mendes, o pobre João Pereira, de Ximbioá, citando apenas dois deles, este último morto em 29/06/1972 por integrantes do PCdoB, evento que apresenta versões conflitantes e que precisam ser esclarecidos [2]. Lamentavelmente, a preferência da dita comissão da (meia)verdade e de grande parte da mídia e de tantos outros meios parece se concentrar no que ocorreu aos cidadãos mais proeminentes e que tem muitos porta-vozes e defensores nesses meios, por exemplo, Vladimir Herzog e Rubens Paiva, esquecendo outros tantos simplórios e humildes brasileiros quase sempre desconhecidos e vítimas de ações de terroristas de esquerda.

Também, qual a credibilidade da narrativa de setores ligados a igreja católica (CEB”s, CNBB), que corrompidos até a medula pela teologia da libertação patrocinam grupos obscuros como o “Tortura Nunca Mais” que ignora solenemente os crimes praticados pelos terroristas de esquerda já que o nome de nenhum dos 120 mortos pelos terroristas parece constar na lista do Tortura Nunca Mais, um “esquecimento” no mínimo pouco caridoso para uma igreja que se gaba de ser “preferencialmente a favor dos pobres”. 

 

Felizmente, está em curso um revisionismo histórico objetivo do regime militar que põe em cheque a narrativa subjetiva e os vários mitos da esquerda [3]. E isso vai seguir seu curso independentemente da contrariedade que isso causa em quem não consegue refutar com argumentos.


Marcelo Carvalho

Professor do Departamento de Matemática

 

Notas

 

[1] “Rompendo o Silêncio”, e “A Verdade Sufocada: A história que a esquerda não que o Brasil Conheça”.

 

[2] Transcrevo a seguir o relato desse crime hediondo e abjeto conforme descrito no livro “A Verdade Sufocada” e que mostra a completa inutilidade do contribuinte ter mantido uma comissão da (meia)verdade que deixou de esclarecer esses eventos.

“Com a prisão e  confissão de Pedro Albuquerque, militante que abandonara a área de guerrilha e fora preso em Fortaleza, órgãos de segurança tiveram a certeza da presença de guerrilheiros na região do Araguaia. Enviaram, então, uma equipe para localizar a área onde os guerrilheiros estavam instalados.

Ao encontrarem a casa de João Pereira, um mateiro que morava nos confins da Picada de Pará da Lama, a 100 km de São Geraldo, esse ofereceu o filho de 17 anos, João Pereira, para guiar a equipe em seu deslocamento no interior da selva. Com certa relutância a equipe aceitou o oferecimento.  O rapaz guiou a equipe por uma manhã, das 5 horas até o meio-dia.

Descoberta a colaboração do jovem, integrantes da guerrilha do PCdoB, em 29 de junho de 1972, foram a casa de seu pai, prenderam-no e, no quintal, na frente de seus genitores, cortaram primeiro uma de suas orelhas, depois a outra, seus dedos, suas mãos e, finalmente, acabaram com a tortura do menino. Mataram-no com uma facada. Somente o pai assistiu a morte do filho. A mãe, há muito, já perdera os sentidos.

A tortura e a morte do rapaz deveriam servir de exemplo para que nenhum outro mateiro auxiliasse as autoridades na busca dos guerrilheiros.

Segundo relatório de Angelo Arroyo, um dos chefes dos guerrilheiros da região: “A morte desse bate-pau causou pânico entre os demais da zona”

Observação: “bate-pau”, termo usado para designar o guia, o mateiro.”

 

Curiosamente, um repórter do Estado de São Paulo, mais interessado em divulgar a causa da morte de um integrante da guerrilha do Araguaia do que a morte do jovem João Pereira, acaba mencionando em reportagem publicada em

http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,assassinato-de-campones-desatou-caca-a-guerrilheiro,1563554

 

que um homônimo João Pereira de 21 anos foi morto por um integrante do PCdo B com um tiro.

Relatos como esses são postos em dúvida pelo cel. Lício que não só confirma em depoimento na Câmara o relato dado no livro “A Verdade Sufocada”

https://www.youtube.com/watch?v=gaE26ApPwhY

como também escreve em seu blog, em tom indignado,

https://liciomaciel.wordpress.com/2013/11/15/os-crimes-de-genoino/

“Por que nunca entrevistaram o Antonio Pereira Filho, irmão mais velho do João Pereira? Maior prova de revanchismo reside aí: eles só entrevistam moradores sedentos de grana. Não existem mais repórteres tipo Euclides da Cunha ou os donos de jornais é que murcharam? Estão mortos e não sabem. Ou comprados, irremediavelmente desmoralizados.”

Lamentavelmente a comissão da (meia)verdade nunca se interessou pelo resgate da verdade nesse caso envolvendo o brasileiro João Pereira e de tantos os outros, algo embaraçoso para a narrativa de esquerda, mas que em nome da verdade continuará sendo contestada.

 

[3] Aos que dominados pelo espírito pós-moderno acreditam ser impossível a objetividade e que, portanto, não há análise alguma que se denomine objetiva (acaso seria essa assertiva demonstrável?), eu desconsidero a crítica seguindo os princípios expostos em “Objectivity in Biblical Interpretation” de Thomas Howe, princípios que se aplicam em um domínio muito além do estudo das Escrituras.