Pura improvisação

A improvisação pode representar uma solução criativa diante de algo inesperado, contudo, pode evidenciar também a falta de previdência. De concreto, quando a improvisação parece vir de agentes públicos ela indica um serviço que tangencia a precariedade. Com efeito, em memorando datado do dia 4 de Julho e enviado aos administradores do EFI, a administração central da UFSC, atendendo a uma solicitação do secretário municipal de Cultura, Esporte e Juventude,  pede aos administradores do EFI que façam o remanejamento na agenda de utilização das salas do quarto e quinto andar do EFI que estão sendo usadas para receber os participantes dos Jogos Escolares Paradesportivos. Ora, me parece impensável que em tão curto espaço de tempo alguém possa transferir aos administradores do EFI a hercúlea tarefa de saber quem ainda está usando as salas de  aula e que espaço alternativo podem ser oferecidos a um professor que ainda tenha que aplicar prova no dia 5 ou 6 de Julho. Assim, corre-se o risco de que o professor e seus alunos, não tendo sido avisados, se encaminhem para uma sala que estará sendo usada como alojamento e assim deixem de realizar a prova. Mas, sejamos honestos, trabalhar nestas condições de imprevisibilidade realmente indica que estamos fazendo um trabalho bem feito? É esta a qualidade que nossos gestores querem para esta universidade?

A improvisação também parece incidir sobre o órgão do munícipio que fez a solicitação de alojamento à UFSC. Com efeito, no memorando #142/2018/GR é dito que o evento ocorrerá entre os dias 3 e 9, mas a utilização do prédio ocorreu ontem dia 4 de Julho, ou seja, como explicar a utilização do EFI numa data posterior ao início do evento? Não precisamos de grande suposições para suspeitar que a solicitação feita a UFSC foi algo inesperado, fruto talvez da  falta de planejamento.  O secretário deve explicações sobre isso!

Agora, analisemos a razoabilidade de se usar as salas do EFI como alojamento. Todos que ministram aulas ali sabem que no inverno aquelas salas são frias e sem aquecimento. Sabe-se também que há apenas um banheiro por andar, sendo apenas uma unidade para cadeirantes (lembremos que os jovens que estão alojados ali são deficientes físicos). O espetáculo lamentável da improvisação se completa do lado de fora do EFI, quando vemos roupas estendidas nas janelas das salas numa situação que revela um desvio de função das instalações para o propósito de alojamento. Será que os pais desses jovens estão cientes das condições a que seus filhos e filhas estão submetidos? Será que vão providenciar cobertores? Se dormirem no chão é preciso que façam antes um bom isolamento com o piso, do contrário, sentirão frio. Se alguém ficar doente por conta do frio a responsabilidade é da administração central, do secretário de cultura, ou do jovem que não trouxe cobertor (mas, foi dito a esse jovem que ele seria alojado nas condições descritas?)

Deixo aqui meu protesto tanto à administração central da UFSC quanto à secretaria municipal de cultura, esporte e juventude não só por acharem que não há precariedade alguma na cessão de salas de aula para fins de alojamento (se acham que  é precário, por que permitiram?), mas, principalmente, por darem um péssimo exemplo de como não se deve deteriorar um espaço público. Agora, sendo jovens, talvez eles não se dêem conta daquilo que está sendo oferecido, mas nós adultos percebemos a forma inapropriada com que estão sendo tratados. De minha parte, não me omito, e assim faço minha voz presente ao menos para dizer que não aprecio improvisações desse tipo.


Marcelo Carvalho

Professor do Departamento