FILIAÇÃO NACIONAL EM DEBATE: Prof. Nestor vs. Paulo Guedes

Prof. Nestor tem sistematicamente opinado sobre o que ele considera ser uma perversa reforma da previdência e  avalia que os docentes da UFSC estão numa perigosa acomodação por não se associarem a um sindicato de representação nacional como a ANDES. Assim, é nesta perspectiva que prof. Nestor escreve em seu texto, “Dia do Trabalhador”, o trecho que transcrevo a seguir:

“O 1 de Maio é uma data emblemática para todos os trabalhadores e, com as ameaças que pesam sobre os salários, as contratações, as aposentadorias e o financiamento da própria universidade, a Apufsc não tem uma proposta, um plano de ação, uma mobilização, enfim, algo com que manifestar a apreensão e o descontentamento de muitos dos seus filiados e professores não filiados.”

 

Eu imagino o que um cidadão comum, mas minimamente bem informado, pensaria da insistência do prof. Nestor de falar em perdas salariais e aposentadorias como se ele, um professor na categoria de  titular, realmente ganhasse mal para os padrões do Brasil. Não ganha, e isso o cidadão comum pode facilmente verificar vendo o contracheque dos profs. titulares.

Talvez o prof. Nestor se ressinta do fato de que o equivalente de um prof. titular em universidades dos EUA, ou Europa recebe muito mais do que recebe um prof. titular aqui no Brasil. Pode ser, mas aqui devemos atentar para algo que o ministro Guedes está propondo sobre a remuneração dos servidores públicos ser atrelada ao desempenho. Ora, neste caso, o cidadão comum, antes de conceder com seus impostos  uma remuneração generosa, pensaria em analisar se o desempenho de profs. titulares no Brasil são análogos ao desempenho de seus colegas em boas universidades americanas e européias, afinal, é muito conveniente requerer um tratamento diferenciado diante do público  mostrando credenciais acadêmicas onde nós somos  referências de nós mesmos.

Outra coisa é mostrar ao público que somos tão bons quanto nossos colegas em universidades americanas e européias e, por isso mesmo, merecemos tal remuneração generosa. Mas, voltando ao que Guedes levantou sobre a remuneração  ser condicionada ao desempenho, tal equiparação nos obrigaria a ter um desempenho acadêmico similar ao que  é exigido nessas universidades estrangeiras. Ora, se realmente temos tal desempenho e o governo insiste em não dar aquilo que julgamos merecer a solução é simples: basta concorrer a uma vaga nessas universidades americanas ou européias, afinal, Princeton, MIT, Oxford não costumam recusar pessoal bem qualificado. Fica aí a sugestão ao colega titular prof. Nestor que de fato deve ter razões bem concretas para estar enraivecido com as propostas do ministro Paulo Guedes, mas, não fica bem falar insistentemente de salários, de representação sindical etc. quando o público que paga nosso salário, incluindo os alunos que vasculham nosso desempenho no “Research Gate”, esperam que façamos coisas tão relevantes quanto se faz lá fora.

Professor do Departamento de Matemática