UFSC perde quase metade dos trabalhadores da limpeza em quatro anos

Com corte de verbas, mais 38 terceirizados do setor foram demitidos 

O bloqueio de recursos da UFSC levou à demissão de 38 trabalhadores de limpeza na universidade após uma renegociação do valor dos contratos com empresas prestadoras de serviço. Com essas demissões, a equipe de limpeza da UFSC hoje conta com 270 pessoas. Quatro anos atrás esse número era de 500, uma queda de 46% em um período em que o número de estudantes se manteve estável: cerca de 40 mil alunos. 

No total, 95 trabalhadores terceirizados foram demitidos. Além da limpeza, foram despedidos 35 trabalhadores da segurança, 14 cozinheiros do Restaurante Universitário, cinco carregadores e dois jardineiros. O governo federal ainda não liberou todos os recursos para o ano, e a UFSC corre o risco de suspender atividades em setembro.

Uma das principais consequências dos cortes de pessoal é o aumento da carga de trabalho dos que ficam. Denise* é faxineira na UFSC há cinco anos, e trabalha em dois prédios com sete andares no total. Segundo ela, no ano passado, 12 pessoas eram responsáveis pela limpeza dos dois edifícios, mas o ano começou com uma equipe de apenas seis. Com as demissões deste mês, sobraram quatro pessoas para limpar os sete andares. “A gente tem que trabalhar mais e mais. Ficou mais pesado para todo mundo”, diz. 

Já Ângela*, que começou a trabalhar na UFSC em maio, ficou responsável por limpar todos os banheiros dos prédios: são dezoito por dia. “Também queriam que eu ajudasse nos laboratórios, mas eu disse que era demais, que não ia conseguir. Se eles demitirem mais gente eu vou procurar outro emprego. É muito serviço pra pouca pessoa”, diz.

Para compensar a falta de pessoal, a Pró-Reitoria de Administração (Proad) informou que a vai reduzir a frequência com que os espaços são limpos. Entretanto, Ângela diz que na prática não funciona assim. “Aumentou o serviço para todo mundo. E mesmo que tentassem, não ia funcionar: os professores pedem pra gente limpar a sala deles várias vezes por semana. A preferência é dos laboratórios, mas a gente acaba fazendo os dois.”

Mário* também trabalha no mesmo prédio, e ficou responsável pela limpeza de 25 salas por dia, entre salas de aula e laboratórios, além dos corredores. “É muito mais corrido, muito mais serviço pra quem fica”, diz.

Segundo Ulisses Iraí Zilio, diretor do Departamento de Projetos, Contratos e Convênios da Proad, o número de terceirizados na UFSC em geral vem diminuindo desde 2015. “Todo ano acontecem demissões”, diz. Segundo ele, o aumento na tecnologia e na produtividade é um dos fatores, mas esse ano foi atípico: a única razão foi o corte no orçamento. “Com esse número de demitidos a universidade toda é afetada. Não tem para onde fugir.”

Ulisses também explica que o modelo de contratação da universidade está mudando. Cada vez mais, trabalhadores terceirizados com regime exclusivo na UFSC, ou seja, que trabalham oito horas por dia na universidade, são substituídos por não exclusivos. “Isso significa que eles são contratados como seria hoje com um técnico de elevador, por exemplo. Ele vem, cumpre o serviço e vai para o próximo.” As vantagens para a instituição, além de deixar o serviço mais barato, é a falta de vínculo empregatício. “Assim a UFSC não vai mais ser citada em processos trabalhistas contra as empresas, como acontece hoje”. Para os trabalhadores, é mais um sintoma da precarização.

Victor Lacombe

*Para proteger a identidade dos trabalhadores, os nomes adotados na reportagem são fictícios