Governo estuda usar Sistema S para pagar bolsas de pesquisa

Parte das bolsas e até mesmo todo o aparato de fomento à pesquisa pode ser transferido ao sistema produtivo

 

O governo Jair Bolsonaro estuda uma medida para usar o Sistema S para pagar as bolsas de pesquisas, informa  a Folha de São Paulo. Cerca de 84 mil bolsas vigentes correm o risco de serem cortadas em outubro por conta da insuficiência de recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Hoje, a política de financiamento federal a pesquisadores é de responsabilidade da Capes e do CNPq, ligados, respectivamente, aos ministérios da  Educação e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

Segundo a Folha, o governo avalia alguns cenários: desde repassar parte das bolsas —mais ligadas, por exemplo, ao sistema produtivo—, ou até mesmo todo o aparato de fomento à pesquisa. Os planos em discussão envolvem usar recursos hoje direcionados ao Sistema S para arcar com o pagamento de bolsas, inclusive para cobrir o déficit na área neste ano, segundo informações reservadas de integrantes do alto escalão dos ministérios da Ciência e da Educação. Neste ano, a iniciativa envolveria aporte de R$ 819 milhões.

Esse valor é referente ao déficit de R$ 330 milhões do CNPq em 2019 e ao orçamento bloqueado da Capes sobre o qual ainda não há definição. A Capes sofreu um congelamento neste ano de R$ 819 milhões, mas já enxugou R$ 300 milhões do orçamento previsto ao cortar 6.198 bolsas no ano, além de redimensionar o cronograma de programas.

O governo avalia encaminhar uma medida provisória para o Congresso Nacional para implementar as mudanças, o que aceleraria o trâmite legislativo. Não está descartado que o sistema S possa integrar o orçamento total para a pesquisa para os próximos anos, em valores em torno de R$ 4 bilhões no ano, de acordo com conversas dos bastidores.

O Sistema S é composto por nove entidades ligadas à indústria, entre elas o Senai e Sesc. Seus recursos vêm da contribuição compulsória das empresas, de forma proporcional a seu faturamento, e, em 2018, atingiram R$ 17,1 bilhões.

A possível mudança já preocupa integrantes da cúpula acadêmica do CNPq e Capes, segundo relatos ouvidos pela Folha sob condição de anonimato. O ato pode representar um possível esvaziamento das duas agências. 

Capes e CNPq contam com estruturas de interlocução com o sistema de pós-graduação das universidades, que respondem pela grande maioria da produção científica brasileira. A Capes ainda é responsável pela avaliação da pós-graduação no país, cujos indicadores orientam repasses. Questionadas pela reportagem, os dois órgãos não responderam à reportagem até a publicação desta reportagem. 

O CNPq informou que segue “na expectativa de uma definição sobre a suplementação orçamentária” mas não comentou sobre os planos envolvendo o sistema S. A Capes não respondeu à reportagem da Folha. 

Confira: Folha de São Paulo