Negros são maioria pela primeira vez nas universidades públicas, aponta IBGE

Instituto credita mudança ao sistema de cotas; ainda assim estudantes negros continuam sub-representados

O número de estudantes negros nas universidades públicas passou, pela primeira vez, o de brancos , segundo a pesquisa “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”, feita pelo IBGE e divulgada nesta quarta-feira (13), com base na Pnad Contínua. Em 2018, o Brasil tinha mais de 1,14 milhão de estudantes autodeclarados pretos e pardos, enquanto os brancos ocupavam 1,05 milhão de vagas em instituições de ensino superior federais, estaduais e/ou municipais. Isso equivale, respectivamente, a 50,3% e 48,2% dos mais de 2,19 milhões de brasileiros matriculados na rede pública.

Esta é a primeira vez que os negros ocupam mais da metade das vagas nas universidades públicas. Em 2016, primeiro ano em que a pesquisa trouxe um módulo específico sobre educação, havia uma ligeira diferença: 49,5% dos estudantes eram negros e 49%, brancos.

Segundo o IBGE, o avanço dessa parcela da população é resultado do sistema de cotas, que desde 2012 reserva vagas a candidatos de determinados grupos populacionais. A partir de 2016, segundo regras estabelecidas pelo Ministério da Educação (MEC), ao menos 50% das vagas disponíveis no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) são reservas para atender critérios de renda, cor ou raça.

De acordo com o IBGE, nas universidades privadas também houve aumento da presença de negros, em função de programas como Fies e Prouni. Em 2016, 43,2% das vagas nessas instituições eram ocupadas por pretos e pardos. Dois anos depois, esse número passou para 46,6%, o equivalente a 2,93 milhões de estudantes.

Sub-representação

A despeito da melhora dos indicadores, os pretos ou pardos, que são 55,8% da população brasileira, permanecem sub-representados. Em 2018, apenas 35,4% dos negros com ensino médio completo chegavam ao ensino superior (público ou privado). Entre os brancos, esse número era de 53,2%.

Outro obstáculo é refletido pela taxa de conclusão do ensino médio da população preta ou parda (61,8%), que é menor do que a taxa da população branca (76,8%). Essa taxa é obtida a partir do número de pessoas com 3 a 5 anos acima da idade esperada de frequência no último ano do ensino médio (de 20 a 22 anos de idade) que concluíram esse nível.

Quanto maior o nível de instrução, maior a renda. Embora o estudo comprove essa máxima, ele mostra também que mesmo quando a população negra conclui o ensino superior, ela ainda ganha 45% menos do que a população branca.

Isso fica claro também pelas posições alcançadas no mercado de trabalho: os brancos ocupavam 68,6% dos cargos gerenciais, contra apenas 29,9% dos negros, em 2018.

Leia na íntegra: O Globo