8 de março: mulheres na ciência têm pouco a comemorar

Elas enfrentam uma corrida de obstáculos à parte além de cumprir aos requisistos exigidos de homens e mulheres para ascensão na carreira

Na ciência e na docência, a carreira formal é a mesma para todos. Homens e mulheres são submetidos às mesmas exigências de alta produtividade e competitividade. Mas um grupo consegue avançar mais rápido e em maior número.  O outro tem de enfrentar uma corrida de obstáculos invisíveis, que compõem um verdadeiro “labirinto de cristais” – conceito que vem sendo usado para definir as dificuldades que as mulheres encontram para avançar na carreira científica e que nada têm a ver com competência e talento.  

Embora sejam maioria entre estudantes do ensino superior e na pós-graduação, elas ainda são minoria na docência universitária. Na UFSC, por exemplo, as professoras representam 41% do corpo docente, e os professores, 59%. Isso porque o labirinto de cristais se impõe mesmo antes do início da carreira. “Para se tornar um docente, você precisa ter uma trajetória meteórica: sair da graduação, encarar mestrado, doutorado, e isso requer algum tipo de apoio, que as mulheres nem sempre têm. Pelo contrário: elas é que servem de apoio para os pais, companheiros, filhos”, diz a professora Cristina Scheibe, uma das fundadoras do Instituto de Estudos de Gênero (IEGE) da UFSC.  

A desigualdade é evidente nas diversas esferas da vida acadêmica. Na composição do Conselho Universitário, por exemplo, as professoras representam um terço do total de 85 docentes que contribuem com as decisões do órgão máximo da universidade.

A dinâmica do trabalho científico e da docência afeta particularmente as profissionais que são mães. Uma pesquisa recente realizada com cientistas brasileiras indica que elas tiveram uma queda drástica na produção de artigos acadêmicos até o quarto ano do nascimento do primeiro filho.  

“Além disso, tem todo o machismo da nossa sociedade, que acha que as mulheres são as responsáveis por uma série de trabalhos, que não é só o doméstico, mas de gestão da família e até de algumas funções acadêmicas”, diz Cristina. “Elas sofrem assédios de todo tipo, às vezes sem nem se dar conta.”

Matéria publicada no Boletim Mural da Apufsc, edição 832