Covid-19 e a UFSC: do impensado à inoperância

Por José Fletes, Samuel Lima, Douglas Kovaleski e Paulo Belli

Ninguém imaginava ou previa que seríamos afetados por uma crise pandêmica dessa dimensão e seríamos obrigados a praticar o isolamento social. A Covid-19 impactou sistemas de saúde, economias e sociedades, mundialmente. Por isso foi correta a suspensão das atividades na UFSC em 16 de março e também está sendo acertada as ações de pesquisadores e especialistas em oferecer à sociedade seus conhecimentos científicos e soluções práticas no enfrentamento à pandemia.

Mas se no início a paralisia total das atividades de ensino foi correta, passados algumas semanas ou dias é pouco compreensível que a instituição não tenha aproveitado desse tempo para realizar algumas atividades de preparação ao retorno acadêmico para o chamado “novo normal”. Para tanto, poder-se-ia ter tirado proveito das várias experiências no país e fora dele, obviamente considerando as condições de retomada de cada setor.

Das instituições de ensino, particularmente as grandes universidades, tem se cobrado que realizem o ensino remoto (EnRem), usando tecnologias digitais de comunicação (TIDC). As universidades paulistas estão utilizando esse modelo, mantendo os cursos funcionando. E isso exige infraestrutura de rede lógica, programas, computadores ou TVs tanto aos alunos quanto aos professores. Destes se exige ainda uma mínima formação para transformarem conteúdos e atividades à processos didático-metodológicos não presenciais. O processo de ensino e aprendizagem, nesta modalidade de atividades pedagógicas virtuais, é complexo e exige uma série de cuidados que precisam ser rigorosamente discutidos e planejados, envolvendo tanto as esferas acadêmicas quanto as instâncias diretivas da UFSC, desde o CUn.

É verdade que as universidades há anos vêm sendo sucateadas, por meio dos cortes de verbas praticados pelo MEC, não tendo como manter, repor, adquirir e atualizar seus equipamentos e sua rede lógica. Agora que precisam praticar a Educação a Distância não conseguem. Outro aspecto importante para operar o EnRemo é a composição socioeconômica dos alunos das universidades públicas. Via o sistema de cotas, nelas frequentam em média 50% de alunos de baixa renda, muito dos quais não têm computadores e muito menos rede de internet em casa.

Mas se os alunos tivessem computador e internet em casa, a UFSC teria como oferecer ensino remoto? Seus professores estariam preparados para atuar nesse modelo de ensino? Muito provavelmente, não. A maioria deles não sabe utilizar as ferramentas tecnológicas e preparar didaticamente os conteúdos das disciplinas para o EnRemo. Passaram-se cerca de dois meses e esse precioso tempo se perdeu. A administração central, particularmente a PROGRAD e a Secretaria de EaD, pouco ou nada fizeram.

Planejar o retorno ao novo normal, quando as condições sanitárias permitirem, exigirá um novo calendário acadêmico e, especialmente, o remodelamento pedagógico das atividades de ensino. Isso, inclusive, muito provavelmente exigirá algum financiamento do MEC. O uso do EnRemo, em até 40%, está previsto na legislação curricular, mas se nada for feito, o problema original de formação permanece e esse “novo normal” poderá ser praticado com práticas didáticas adaptadas do velho esquema das aulas presenciais. Os “novos” arranjos pedagógicos, muito mais abrangentes que o uso do EnRemo, se não forem amplamente discutidos poderão comprometer a qualidade do ensino como aumentar a exclusão social e vir a se constituir em uma tragédia acadêmica. Se existe, precisamos todos conhecer uma proposta inicial da reitoria.

O excesso de zelo em antecipar discussões sobre o retorno às atividades de ensino quando ainda estamos no pleno da pandemia, não deve ser confundido com inoperância e paralisia da universidade, pois em muitas outras frentes a UFSC não parou. Uma boa medida é a transparência e a boa informação junto a sociedade e a comunidade universitária, caso contrário a imagem que se passa ou é de incompetência de gestão e do descompromisso social da instituição, reforçando a narrativa injusta e oportunista de quem quer destruir esse patrimônio do povo.

Prof. José Francisco Fletes (INE/CTC)
Prof. Samuel Pantorja Lima (JOR/CCE)
Prof. Douglas Francisco Kovaleski (SPB/CCS
) Prof. Paulo Belli (ENS/CTC)

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