“A questão que precisa ser pautada agora é como fazer um lockdown bem feito”, diz professor de saúde pública da UFSC

O momento crítico da pandemia de covid-19 em Santa Catarina, sob o ponto de vista científico, esteve em discussão em encontro promovido pela Apufsc nesta quinta-feira (4). Participaram da transmissão os professores da UFSC Oscar Bruna Romero, do Departamento de Microbiologia e especialista em Doenças Infecciosas e Vacinas e Antônio Boing, do Departamento de Saúde Pública e vice-presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).

Os docentes comentaram a fala recente do secretário de Saúde de SC, André Motta, que em entrevista à Globonews afirmou que “lockdown não funcionou em lugar nenhum do mundo”.

Para o professor Antônio Boing, é indiscutível a necessidade do isolamento total neste momento em que o estado ultrapassa 7,7 mil mortes e atinge uma ocupação de mais de 96% dos leitos de UTI. “A discussão séria não é se deve ou não ter lockdown. A questão que precisa ser pautada agora é como se faz um lockdown bem feito com uma saída planejada, para que se consiga fazer uma abertura segura com vigilância epidemiológica adequada”, afirmou.

O especialista apresentou durante a transmissão uma série de estudos científicos que atestam a eficácia do lockdown na redução da contaminação e mortes por covid-19, quando adotado em países como Portugal e Reino Unido.

Quanto aos impactos econômicos das medidas restritivas, Boing expôs um estudo publicado na revista Plos One, que analisou a quarentena no estado de São Paulo. A pesquisa conclui que não há evidências de que municípios mais rigorosos nas políticas de circulação de pessoas tiveram pior desempenho econômico. O professor citou ainda a análise do Fundo Monetário Internacional (FMI) de que “lockdowns suficientemente rígidos podem pavimentar o caminho para uma recuperação mais rápida, reduzindo a necessidade do distanciamento social e possivelmente tendo efeitos positivos gerais na economia”.

Durante o debate, o professor Oscar Romero criticou a posição de gestores de saúde em “responsabilizar os indivíduos” pelo agravamento da pandemia. “É o governo quem coleta os dados e que consegue analisá-los, com a ajuda de cientistas que são os que mais possuem experiência para essa análise. Mas aqui se ignora isso”.

Romero chamou atenção para as variantes do coronavírus que estão surgindo e as possíveis consequências da vacinação tardia. O pesquisador, que trabalha há 30 anos com desenvolvimento de vacinas, destacou que a Coronavac é o único imunizante atualmente disponível baseado no vírus completo. “Todas as outras são vacinas recombinantes de uma única proteína do vírus. Se ela mudar, todas essas vacinas não nos servem para absolutamente nada”, alertou.

Imprensa Apufsc