Ataque ao conhecimento é a maior ameaça global na era da pós-verdade, diz pesquisadora

A pandemia de covid-19 deixou uma coisa clara: é muito difícil coordenar o comportamento de uma sociedade inteira, mesmo quando se trata de uma questão de vida ou morte, mostra reportagem da BBC

Pense na reação das pessoas à vacinação. Para que o mundo derrote o novo coronavírus, a maioria da população precisa concordar em tomar a vacina, e poucos governos democráticos optariam por torná-la obrigatória.

No entanto, ainda existe uma hesitação significativa em relação à vacina no mundo todo. Se esse grupo fosse grande o suficiente, uma das nossas rotas mais promissoras para acabar com a pandemia estaria comprometida. A recusa desses indivíduos afetaria todo mundo, até quem foi vacinado.

Esse tem sido um tema recorrente na pandemia: em vários momentos, autoridades de saúde pública e políticos tentaram persuadir as pessoas a adotar comportamentos que beneficiam tanto a si próprias quanto suas comunidades, desde o distanciamento social até o uso de máscaras.

Muitas pessoas aderiram, mas algumas foram mais resistentes às recomendações. Informações falsas sobre vacinas e máscaras, tratamentos ineficazes e rumores infundados sobre as origens da covid-19 tornaram extremamente difícil coordenar o comportamento dos cidadãos.

Esta resposta fragmentada a um grande evento mundial demonstra uma tendência preocupante que é um mau presságio para outras crises que poderemos enfrentar no século 21, de futuras pandemias às mudanças climáticas.

Na era da pós-verdade, está se tornando cada vez mais difícil garantir que todos estejam bem informados. Em outras palavras, mesmo que estivesse claro como salvar o mundo, um ecossistema de informações degradado e não confiável poderia impedir que isso acontecesse.

Em um relatório recente publicado pelo Instituto Alan Turing, no Reino Unido, os cientistas argumentam que essa mudança é nada menos do que uma ameaça à própria segurança global.

Os termos “segurança nacional” ou “cibersegurança” são familiares. Mas defendemos que mais atenção deve ser dada à “segurança epistêmica” – porque sem ela, nossas sociedades perderão a capacidade de responder aos riscos mais graves que enfrentaremos no futuro.

Se a segurança doméstica diz respeito a garantir que nossos pertences estão seguros, a segurança financeira se propõe a manter nosso dinheiro seguro, e a segurança nacional trata de manter nosso país seguro, então segurança epistêmica significa manter nosso conhecimento seguro.

Episteme é um termo filosófico grego que significa “saber”. A segurança epistêmica, portanto, envolve a garantia de que realmente sabemos o que sabemos, que podemos identificar alegações sem fundamento ou que não são verdadeiras, e que nossos sistemas de informação são robustos a “ameaças epistêmicas”, como notícias falsas.

No relatório, são analisados potenciais contra-medidas e áreas de pesquisa que podem ajudar a preservar a segurança epistêmica em sociedades democráticas. São eles: escassez de atenção; filtro bolha e racionalidade limitada; adversários e desajeitados; e erosão da confiança.

Leia na íntegra: BBC Brasil