Mãos in/visíveis pautam a UFSC

*Por William Barbosa Vianna

Parece que vivemos um clima pós-eleitoral e de eterna pré-campanha no melhor estilo bolsominion. A volta da pandemia e enfrentar o pífio preenchimento das vagas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) não é urgente e sim a antecipação injustificada de sessão especial do Conselho Universitário (CUn), que costuma ocorrer por ocasião do aniversário da UFSC em dezembro, cuja correria deixou a impressão de que algo seria urgente e surtiu efeito midiático, por exemplo, no Estadão: “Gilberto Gil: UFSC aprova título após Câmara de Florianópolis negar duas vezes homenagem ao cantor”. Só não ficou claro o motivo e a motivação da foto da pastinha, se o título ainda será entregue após aprovação (sic), se foi algum rito antecipado e/ou dispensado a todos os candidatos a doutorado honoris causa da UFSC ou foi um momento especial.

Mas, assim como no BBB 23, que os jogadores confinados na casa enxergam na tela de sua caverna platônica pode não corresponder à realidade percebida pela sociedade, podemos apenas estar confirmando a visão equivocada de que a nossa UFSC não é bem um ambiente acadêmico de excelência para o qual valha a pena as famílias, a maioria catarinenses, se sacrificar para manter numa cidade com um dos maiores custos de vida do país quando parecem se sobressair pautas político-ideológicas e partidárias.

Já ensinava um grande professor de Gestão da Qualidade do CTC: “Só a concorrência gera qualidade”. E pelo jeito a nossa falta de qualidade real e/ou percebida e a falsa ideia de que aqui se faz de tudo, menos ensinar e aprender, parece mesmo estar mesmo alimentando muito bem a concorrência, para alegria e o lucro das faculdades privadas e dos cursos a distância, e evidenciando a ineficiência dos mantras sobre as “mãos invisíveis do mercado” para reduzir a evasão. São os próprios estudantes que nos trazem suas expectativas com bom humor: “…esses professores não pagam minhas contas, não vão dividir o seu salário comigo e muito menos arrumar emprego pra mim, o que eu preciso é aula”.

Na pandemia, quem não tinha visto ou sentido na pele a situação econômica das suas famílias precisou lidar diretamente com a necessidade de colocar comida na mesa, trabalhar e estudar, e assim a percepção sobre o papel da universidade no fomento da empregabilidade e na preparação profissional se intensificou. Mas não para os seguidores de suas imagens narcísicas projetadas na tal caverna platônica, que continuam vivendo como se “a copa do mundo é nossa” ou do “tá tudo dominado”, e o que se vê são reuniões pra fazer reunião. E a categoria docente parece dormente em exercer o necessário controle social, talvez com medo de mãos invisíveis que atuam com as velhas e conhecidas armas da difamação, destruição da imagem funcional, assembleias constrangedoras para depor quem não reza na cartilha, perseguição política a opositores, retaliação ou discriminação sob o manto de alguma suposta impunidade, como disse um conselheiro docente temeroso: “eles possuem um cinturão externo”.

Mas a democracia está em outro patamar e a história de um líder mundial que ficou 580 dias preso por abusos de companheiros e companheiras aloprados que eram seus prepostos em busca de se manter no poder é bem pouco provável que se repita. Aliás, já sumiram da cena pública. Muito antes, pelo contrário, há que se ter esperança no fim desse ciclo, ainda mais por aqui, onde o dano foi muito maior com a tragédia que vivemos em 2 de uutubro de 2017 e refutar o uso político-partidário da imagem de um homem público que nos representa a todos e que só tinha um partido – a nossa UFSC!

Precisamos discutir os reais problemas da UFSC e podemos começar pela Lei Cancellier de Abuso de Autoridade (Lei 13.869/2019) e o que as redes sociais estão mostrando com arte fotográfica impecável e primeiro plano.

O artigo 1° da Lei de Abuso de Autoridade reza que é indevido ao agente público beneficiar-se a si mesmo, benefício esse que compreende qualquer vantagem que se possa obter, seja ela material, moral ou patrimonial. E o exemplo dado pela PGE/MS é: “agente público que pratica determinado ato para ganhar visibilidade em sua rede social obtém vantagem moral”.

E para nós, docentes, um tanto inertes aos nossos reais problemas, é sempre é bom lembrar o que nos ensinou Martin Niemöller, o heroico pastor Luterano que enfrentou Hitler: “Quando os nazistas vieram buscar os comunistas, eu fiquei em silêncio; eu não era comunista; (…) quando eles me vieram buscar, já não havia ninguém que pudesse protestar”.

*William Barbosa Vianna é professor associado do Departamento de Ciência da Informação da UFSC