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*Por Fábio Lopes da Silva

A UFSC é uma universidade à deriva, em queda livre. Quem ainda se sente organicamente ligado a ela que comece a se preparar para o impacto com o solo. Desde o fim do isolamento social, os professores, em sua imensa maioria, mal frequentam seus locais de trabalho. Quando muito, vêm à instituição, dão suas aulas e, ato contínuo, voltam às suas casas, às suas conchas, às suas bolhas.

Os servidores técnicos-administrativos, por seu lado, estão indo pelo mesmo caminho. Pior: nisso, são autorizados por portarias de teletrabalho e redução de jornada, documentos que, na prática, declaram que a dispersão, o absenteísmo e o desengajamento são agora, por incrível que pareça, políticas instituicionais.

Já os alunos procuram cada vez menos os nossos cursos. Quando neles ingressam, crescentemente acabam por abandoná-los. Os que ficam na instituição até o diplomar-se tampouco se sentem compelidos a permanecer nos campi para além do horário de suas atividades regulares. O tempo em que a UFSC era um espaço vibrante, solar, parece pertencer a uma outra era geológica.

Tudo isso obviamente configura um empobrecimento radical da vida política, da vida pública, da vida institucional e da vida intelectual. Não há como medir palavras: trata-se uma destruição da universidade perpetrada não por governos autoritários ou fascismos mas pelos próprios membros daquilo que um dia mereceu o nome de comunidade universitária. Esperem para ver o que será de nós quando um presidente hostil aos valores progressistas chegar ao poder e encontrar prédios vazios, tristeza, desorganização e abandono. Como tenho dito por aí, a única coisa que pode dar errado no modo como temos agido em relação à UFSC é Lula não se manter na presidência pelos próximos 250 anos.

Bem sei que boa parte dos fatores que explicam esse escabroso movimento centrífugo na universidade escapa ao nosso controle. O ensimesmamento e o niilismo são parte de uma cultura global, ça va sans dire. Não obstante, há muito o que poderíamos fazer mas não fazemos. De resto, mesmo que um destino funesto para nós estivesse selado, o que mais restaria senão continuar lutando até o fim?

Deveríamos estar discutindo formas de atrair as pessoas de volta aos campi, de conter a evasão discente, de refazer os laços da UFSC com o ensino médio e fundamental, de reposicionar a universidade no seio da sociedade catarinense e brasileira. Deveríamos estar refletindo sobre o fato de que a UFSC – que foi criada para formar elites – já não pode exercer mais esse papel mas tampouco sabe exatamente que novo lugar ocupar e que nova função desempenhar na cena nacional.

Nada disso, no entanto, está em pauta. Basta assistir a uma reunião do Conselho Universitário para que se constate que os dirigentes e conselheiros da UFSC temos agido como se deslizássemos suavemente sobre os trilhos da mais confortável normalidade. Talvez esperemos algum milagre de São Lula ou de algum deus ex machina. Talvez até percebamos que há algo de muito errado no ar mas nos sintamos impotentes para lidar com isso. Talvez – e acho que é essa a alternativa mais provável – simplesmente tenhamos perdido a fé no futuro e, embora saibamos que o que está em curso é o Baile da Ilha Fiscal, seguiremos dançando até a orquestra parar.

Por vezes, ao explicar a colegas e discentes que, se nada for feito, coisas como o desaparecimento de cursos inteiros de graduação vão acontecer muito em breve, tenho a sensação de que o efeito é o mesmo que se produziria seu eu lhes dissesse que o sol vai colapsar daqui a dez bilhões de anos.

Fábio Lopes da Silva é diretor do CCE/UFSC