Fernanda Nascimento: “A docência não está apartada da sociedade”

Ela atuou como professora substituta de Jornalismo, Identidade e Gênero na UFSC

“Não podemos dissociar qualquer conhecimento técnico de uma discussão mais ampla acerca das estruturas da nossa sociedade”. Esse é o pilar que norteia as aulas lecionadas pela professora Fernanda Nascimento, do ensino médio e superior do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). Natural de Canoas, Rio Grande do Sul, a docente tem doutorado em questões relacionadas à gênero, sexualidade e comunicação. 

Entre 2018 e 2020, Fernanda atuou como professora substituta de Jornalismo, Identidade e Gênero, e Jornalismo e Cultura Brasileira na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Os conteúdos trabalhados promoviam discussões acerca de temáticas relacionadas a gênero, sexualidade e mídia.

Atualmente, no IFRS, ela busca criar novas metodologias que possam levar o debate sobre esses assuntos a aulas que costumam ser mais técnicas e práticas. “Eu oriento os alunos a produzirem conteúdo audiovisual, mas busco sempre incluir produções que dizem sobre gêneros, sobre sexualidade, sobre raça. Para mim, essa discussão sempre esteve e precisa estar presente”.

Fernanda Nascimento com seu livro “Bicha (nem tão) Má – LGBTs em Novelas” (Foto: Divulgação)

Com 34 anos, Fernanda tem mestrado, doutorado, e pós-doutorado e produziu o trabalho de pesquisa “Sapatões e mídia: Produções de identidades a partir de práticas de recepção“, em que ela investiga a influência da cultura da mídia na construção de identidades.

O trabalho realizado também explica a forma como ela reconhece sua sexualidade. “Eu sou sapatão, então sou uma mulher lésbica. E essa denominação sapatão, ela vem de uma apropriação de um xingamento, que faz parte de um movimento de vários grupos sociais de se apropriarem de palavras com conotação negativa para ressignificar sua própria experiência”, explica.

Durante a jornada acadêmica, Fernanda se sente realizada com tudo que alcançou, mas ressalta os desafios que precisou enfrentar. O fato de ser uma professora LGBT negra fez com que tivesse uma cobrança maior consigo mesma para atingir o reconhecimento que sempre buscou. A falta de referências, como docentes LGBTs, foi um entrave também para a pesquisadora. “A docência não está apartada da sociedade, que é uma sociedade machista e sexista. É evidente que esses problemas que temos estão ligados à desigualdade de oportunidades e ao fato de não termos o mesmo tipo de escuta. A norma social presente não permite uma igualdade em relação à legitimidade das nossas falas, nas oportunidades dentro dos departamentos de ensino, e na respeitabilidade possuimos”, avalia.

Representatividade e diversidade são temas que Fernanda busca propagar semanalmente durante as aulas que leciona, mas o interesse no assunto veio durante a graduação, quando ainda integrava os movimentos estudantis em jornalismo na Pontifícia Universitária Católica (PUC). Ela explica que os movimentos promoviam discussões sobre o combate às opressões e a democratização do acesso à comunicação, o que levou a docente a produzir reportagens sobre a temática. Envolvida no assunto, ela decidiu realizar a pós-graduação visando desenvolver estudos e pesquisas sobre essas questões para entender como eles se estruturam e se organizam e a relação com o papel da comunicação.

Ser professora não foi algo planejado por Fernanda, mas foi um processo de descoberta durante a sua graduação e pós-graduação. As discussões sobre gênero, sexualidade e raça, em conjunto com outras discentes, a motivaram. “Eu lancei um livro sobre LGBTs e telenovelas e iniciei dando muitas palestras. Acabei falando em muitos lugares. E quando me tornei professora substituta no Jornalismo da UFSC, essa minha aptidão à docência ficou muito evidente. É um prazer para mim, porque sempre me entusiasma discutir essas situações em sala de aula e colaborar na formação dos alunos”.

Filipe Melo
Imprensa Apufsc