Paradoxo dos humanos

Por Raul Valentim da Silva*

A humanidade possui características biológicas ímpares, que permitiram um amplo domínio sobre os demais seres vivos e sobre a natureza física no planeta Terra. Uma destas características é o livre arbítrio que agrega um grau de liberdade de atuação bem maior do que aquele presente nas outras espécies de animais. 

Os humanos desde o nascimento, têm a capacidade de aprender múltiplos idiomas, o que propicia uma comunicação oral com dimensão mundial. Conseguiram também gerar linguagens escritas que permitem uma eficaz comunicação através do tempo e do espaço, capaz de gerar um processo cumulativo de agregação de conhecimentos.

As características próprias dos humanos permitiram grandes avanços nas descobertas da ciência universal, inerente à natureza terrestre e cósmica. Tais conhecimentos propiciaram avanços tecnológicos inimagináveis até um passado recente, como a comunicação instantânea por áudio e vídeo com parceiros situados em qualquer lugar do mundo.  

Os humanos conseguiram organizar sistemas educacionais para suprir crianças e jovens com conhecimentos considerados necessários para uma vida social bem sucedida. Mas tais saberes não têm sido suficientes para evitar processos degradantes em muitas partes da Terra, gerando migrações, fome e mortes.  

A tecnologia oferece condições para produção e distribuição de alimentos e medicamentos capazes de suprir as necessidades de toda a humanidade. Mas os conhecimentos científicos e tecnológicos disponíveis têm sido usados indevidamente para gerar múltiplos sacrifícios, no lugar de trazer felicidade. A guerra na Ucrânia é um bom exemplo da mau uso das imensas potencialidades humanas. 

De outro lado, os demais seres vivos, quando não são severamente prejudicados pelos humanos, têm conseguido uma vida, no geral, bem mais salutar. É fácil encontrar os ipês florescendo, assim como, casais de canários cantando e baleias solitárias ocupadas com suas crias. Os instintos genéticos são suficientes para assegurar uma qualidade de vida vegetal e animal, bem melhor do que aquela vigente entre muitos humanos, em várias partes da Terra.

As interações entre os seres vivos, formando cadeias alimentares, e os mecanismos inatos de reprodução, de crescimento e de preservação da vida, presentes na natureza terrestre, conseguem oferecer condições de sobrevivência das demais espécies que superam a qualidade de vida de muitos humanos, biologicamente privilegiados, em diversas regiões do nosso planeta. 

*Raul Valentim da Silva é professor aposentado da UFSC