Evasão média de 60% em cursos presenciais da UFSC

*Por Antonio Carlos Mariani

Adota-se neste estudo a definição de evasão descrita em [1]:
evasão de curso: quando o estudante desliga-se do curso superior em situações diversas tais como: abandono (deixa de matricular-se), desistência (oficial), transferência ou reopção (mudança de curso), exclusão por norma institucional;”

O número de matrícula do estudante é utilizado como base para sua identificação, de forma que o reingresso de um estudante no próprio ou em outro curso pode resultar em contabilização duplicada caso ocorra dois desligamentos que caracterizem evasão. Assim, a mobilidade interna também é caracterizada como evasão de curso.

Conforme mencionado em [1], há diferentes fórmulas que podem ser utilizadas para cálculo de índice de evasão, sendo que diferentes métricas resultam em valores que podem ser significativamente distintos. Neste estudo optou-se pela métrica nominada em [1] como “Evasão (Reuni)”, ligeiramente ajustada considerando um fator que chamamos de AMC (Anos Médios para Conclusão), que corresponde ao número médio de anos necessários para os estudantes concluírem o curso. A escolha desta métrica teve como base a opinião de colegas, alguns deles especialistas em estatística, sendo que ela tende a apresentar uma boa aproximação para a taxa real de evasão dos cursos. Assim, a evasão é dada por:
Evasão Reuni ano = 1 – (concluintesano / ingressantesano-amc+1)

No caso da UFSC como um todo, no período de 2000 a 2023 o AMC é de 5,35, resultando em AMC=5 quando arredondado para o inteiro mais próximo. Importante notar que o valor do AMC tende a variar entre os centros e os cursos em função das características próprias de cada curso. Quanto ao número de ingressantes, ele é obtido pela soma de todos os estudantes que ingressaram no ano, independentemente da forma de ingresso (Vestibular, Sisu, transferências internas e externas, retornos, convênios, etc). O ano de 2024 não foi inserido pois não há ainda registro completo dos alunos formados em 2024.2, fato que tenderia a distorcer os resultados.

A imagem abaixo mostra as taxas gerais de evasão da UFSC em cursos presenciais no período de 2004 a 2023, juntamente com um indicador de tendência, neste caso a média móvel de 5 anos. Por meio da média móvel é possível observar uma tendência de aumento nas taxas de evasão próximo dos 20 pontos percentuais nos últimos 20 anos.

Aplicando-se a mesma formulação individualmente para os centros de ensino, obtemos as tendências expressas nas imagens seguintes.

Os gráficos acima refletem apenas as taxas de evasão considerando a quantidade de estudantes que efetivamente ingressaram, ou seja, não considera as vagas que permaneceram ociosas em função de sua não ocupação. Também não refletem fatores correlatos como retenção e reprovação, os quais podem ser analisados em separado.

As imagens mostram que o fenômeno da evasão tem comportamento distinto nos diferentes centros ao longo dos anos. No caso dos campi fora de sede, eles ainda estão em processo de consolidação de forma que a escala de anos é inferior à dos centros da sede. Apesar das taxas relativamente altas, é possível observar tendência de estabilização ou queda em todos eles, em particular no campus de Curitibanos que apresenta uma tendência mais significativa de queda.

Com relação aos centros da sede, observa-se tendências variadas de crescimento, com valores significativos no CCA e no CED da ordem de 35 a 40 pontos percentuais. Num segundo patamar de crescimento estão centros como CCB, CDS, CFH e CSE, com crescimento na casa dos 15 a 30 pontos percentuais, ficando os centros CCJ, CCE, CTC e CFM num terceiro patamar, com crescimento da ordem de 5 a 10 pontos percentuais.

Quando analisados em termos absolutos, dentre os centros da sede nota-se que o CFM é o centro com maiores taxas históricas de evasão, variando entre 70 a 80 pontos percentuais. Já na outra ponta estão o CCJ e o CCS, com taxas atuais de evasão da ordem de 20 a 30 pontos percentuais.

O aumento das taxas de evasão é visível desde meados da década passada, em particular em alguns centros, fato que indica que já naquela época poderiam ter sido disparadas ações para tratamento. Neste sentido, em [2] são listadas algumas causas mais comuns para evasão, assim como sete pontos (ou fatores) que na prática auxiliaram algumas instituições de ensino a baixar a evasão, os quais talvez possam também nos servir de guia nesta tarefa.

Em [2] também são listadas algumas conclusões e recomendações relativas à evasão no ensino superior brasileiro, sendo três delas:

  • “Sem dados confiáveis e organizados de forma setorial e global, com indicadores e metas, não se faz bom planejamento, não se executa e não se avalia”
  • “No fundo, todos os problemas de uma IES passam, necessariamente, pela GESTÃO. A gestão universitária é uma profissão para a qual é preciso treinar os professores e profissionais que a ela se dedicam, ou pensam / se propõem a se dedicar e, por isso, os gestores das IES precisam ser capacitados para entender e combater a evasão! e”
  • “Não se pode ensinar ao aluno a ser um profissional e um cidadão comprometido quando uma IES demonstra amadorismo em seus processos e descuidos em relação ao seu maior compromisso: o aluno, que é a razão de ser de uma IES!”

Olhando tais conclusões e recomendações, pareceria importante avaliar em qual grau elas aplicam-se no contexto da UFSC.

Referências:

*Antonio Carlos Mariani é professor do Departamento de Informática e Estatística (INE/CTC)

Artigo recebido às 12h29 do dia 17 de abril de 2025 e publicado às 14h07 do dia 17 de abril de 2025