*Por Raul Valentim
“Não há fatos eternos nem verdades absolutas.”
Friedrich Nietzsche
Desde os primórdios da humanidade os seres humanos têm se preocupado com a existência de deuses. Ao longo dos séculos e milênios várias correntes de pensamento, sobre este tema, foram surgindo em diferentes contextos sociais e culturais. Os modernos avanços da evolução científica podem e devem ser inseridos nesta desafiante temática. Este é o propósito maior deste artigo.
A humanidade, em sua expressiva maioria, tem optado pela vinculação das crenças em deuses ao contexto das religiões existentes. Um importante aceno religioso que tem sido muito utilizado é a possibilidade de vidas após a morte. A consciência da finitude da vida contribui para esta adesão. As vantagens do pertencimento a comunidades religiosas abrangentes também têm influenciado nas adesões. A fé em textos ou tradições tem sido o encaminhamento principal destas vinculações.
No passado, uma plêiade de pensadores manifestou-se sobre este relevante tema. Os deístas advogaram a existência de um Criador do universo e da vida sem vinculação religiosa. Rejeitavam as crenças apoiadas em revelações advindas de experiências místicas. Outros destacados pensadores e até mesmo cientistas apresentaram e continuam apresentando argumentações sobre a validade racional de textos e doutrinas religiosas.
Todos concordam que provas científicas tanto sobre a existência, como sobre a inexistência de “Deus” são totalmente inviáveis. No entanto, a extraordinária capacidade de raciocínio lógico e de comunicação dos seres humanos vem propiciando condições para criar argumentações lógicas, devidamente respaldadas na ciência, que podem convencer pessoas ateias ou agnósticas sobre a existência de uma entidade que passo denominar de Verdadeiro Autor do Universo e da Vida (VAUV).
Constatações lógicas que considero importantes nessas argumentações: 1) o que sabemos em ciências naturais (física, química e biologia) e o que ainda não sabemos está essencialmente inserido na natureza terrestre e cósmica; 2) cada uma destas três ciências, que se entrelaçam sistemicamente, possui uma matemática inerente, já conhecida ou ainda desconhecida pelos humanos; 3) a biologia imersa nos seres vivos está contida no patrimônio genético da vida, possuindo saberes necessários e suficientes das ciências naturais, especialmente da mecânica quântica, onde os genes primordialmente atuam.
Estas marcantes constatações são muito bem complementadas pela relevante comprovação científica de que os saberes genéticos abarcam também a área comportamental. Especialmente em processos de reprodução de animais, como aves e peixes, pode-se observar que os descendentes herdam, em muitas espécies, comportamentos dos pais através apenas da genética. Destas constatações racionais pode decorrer uma necessária e até mesmo indispensável interveniência idealizadora e criativa do VAUV.
Desde o Big Bang ocorrem fenômenos envolvendo constatações racionais que desafiam a tese do ateísmo: 1) o “nascimento” da física com sua matemática, incluindo a mecânica quântica essencial para o aparecimento da matéria; 2) o aparecimento das interações fundamentais (forte, fraca, gravidade e eletromagnetismo), também com suas matemáticas inerentes; 3) o surgimento da química com propriedades que viabilizam a vida; 4) o surgimento da vida e de sua biologia altamente criativa, dotada de múltiplos propósitos que interagem sistemicamente no nível de células, tecidos, órgãos e sistemas em cada organismo ou espécie, assim como no âmbito ecológico de relacionamentos entre múltiplas espécies.
Exemplificando, sabemos que as tartarugas marinhas nascem de ovos deixados em praias, que possuem nutrientes adequados e suficientes para que as crias tenham condições de sair dos ovos e correr para o mar evitando eventuais predadores, não humanos, que podem saber, geneticamente, quais os locais e as épocas de eclosão dos ovos. Cada tartaruguinha sabe, geneticamente, como nadar e o que deve comer. Seu organismo sabe processar os alimentos ingeridos para ela possa manter-se viva, crescer e alcançar a maturidade sexual para sua reprodução. Cada um destes processos envolve saberes específicos de física, de química e de biologia, com suas respectivas matemáticas, que precisam estar devidamente imersos em seu genoma.
As tartarugas fêmeas sobreviventes espalham-se pelos mares, sabendo que devem voltar à praia onde nasceram para desovar em certas datas apropriadas. Os filhotes machos também sabem que precisam retornar nas mesmas datas para fecundar os ovos das fêmeas nas proximidades do local onde nasceram. A genética destas tartarugas sabe como e quando retornar para assegurar a preservação da respectiva espécie. Cada uma das cinco espécies brasileiras de tartarugas marinhas sabe geneticamente o que precisa ser feito para sobrevivência individual e coletiva.
No caso dos humanos, podemos considerar, como exemplo, o sistema articular formado por mais de 200 articulações envolvendo ossos, músculos, ligamentos, tendões, cartilagens e líquidos lubrificantes. As articulações permitem a realização dos movimentos. O crescimento dos ossos em articulações, como as dos ombros e joelhos, ao longo da vida exige uma complexa matemática, geneticamente coordenada, utilizando saberes especiais de biologia, física e principalmente de química, de forma harmônica.
Considerando que existem cerca da 65 mil espécies de animais vertebrados, com diferentes articulações, parece óbvio concluir que o acaso de mutações genéticas, única alternativa ateia disponível, não pode ser racionalmente aceita, para explicar as condicionantes genéticas observadas tanto nas tartarugas, como em articulações de humanos e dos demais animais vertebrados. A existência e atuação idealizadora, proposital e criativa do VAUV coloca-se como única alternativa racional disponível na realidade científica atual.
*Raul Valentim é professor aposentado do CTC/UFSC
Artigo recebido às 21h:05 do dia 21 de abril de 2025 e publicado às 12h:28 do dia 22 de abril de 2025