Por Armando Lisboa*
Quando adversários no campo político “já não conseguem lembrar-se de que, na realidade, são complementares, eles lembram aqueles alces estúpidos das florestas canadenses, que, ao brigarem, emaranham-se pelos chifres e acabam morrendo imobilizados. Numa luta assim, os dois protagonistas são perdedores” (Todorov).
A sede da Apufsc encarna a memória coletiva de nosso sindicato, a conexão com nossa rica história. Sua demolição, anunciada no ano do cinquentenário, será o evento que definirá, depreciadamente, a intensa programação destas efemérides. Este anúncio nos desafia e está prenhe de significados, a começar pelo moral.
Perder coisas é parte da jornada. Mas, o modo como esta questão é tratada junto às entidades de classe da UFSC denota existir dois pesos e duas medidas. Botar assim por terra um ícone da história docente, da forma como noticiada, é desacreditar ainda mais nossa já debilitada energia para as lutas que enfrentamos. Diante da forma humilhante deste processo, não o contestar e permanecer passivo terá um impacto devastador: é perder também a dignidade, ou seja, “é cortar o tendão da melhor força” (W. Benjamin).
Pior. Diante da notícia oficial da derrubada, não foram poucas as reações raivosas de colegas às manifestações da Diretoria da Apufsc denunciando o caso. Como se não bastasse ser guiado pelos ressentimentos das feridas e confrontos ad intra, comuns em toda categoria, agora somos tragados de vez pela diminuta trama da contagem de votos para Reitoria. Dividimo-nos ainda mais (ao invés de nos unirmos), como se tivéssemos sem rumo e visão da floresta. Projetos e futuro não importam. Apenas a pura competição pelos recursos (cargos).
Em verdade, a Apufsc nasceu das tramas dos bastidores da Reitoria da época. Mas, ela se ergueu gigantemente, liderando inclusive a fundação do sindicato nacional docente. A malformação inicial logo foi aprumada com a liderança de Maciel e Gunther, Piacentinis e Magaly, Lorenzetti e Irmgard, Doroti e Bernadete, Bartira e Albertina.
A queda de braço em torno da Reitoria volta a nos engolfar na luta fratricida, mas numa escala maior e inédita por aqui. Um lado que a ambiciona sem êxito, se entrincheira no sindicato para acumular forças. Outro, com dificuldades de conquistar a hegemonia sindical, capitaliza as ações da Reitoria (demolição) para atacar a Diretoria sindical. Como um “presente” a melar o cinquentenário, parece até que a demolição foi selada quando do resultado das últimas eleições da Apufsc… Se fosse outro o cenário, as resistências à demolição seriam maiores?
Apequenamo-nos ainda mais com esta batalha em campo aberto, pois ela leva pelo ralo a arquitetura que nos aglutinou no último meio século. Ou avançamos na UFSC para um nível mais alto de política – vide as lições de Pepe Mujica – ou sucumbiremos como aqueles alces.
Aliás, o espaço dos blocos modulados, alocado junto ao CFM, também completa 50 anos. O fato é que a Apufsc cuidou do seu prédio ao longo destas décadas. A “sobrevivência” da nossa sede escancara que alguém não fez seu dever-de-casa… Todavia, sinal de uma cultura gerencial/política corrompida, ninguém é responsabilizado, como se fosse um problema distante, gerado por uma abstração (seja em Brasília, seja na própria UFSC) …
Nos anos em que presidi a Apufsc, diante do acúmulo de “pequenos problemas” (tipo “infiltrações”), convidei colegas sócios da Engenharia Civil (Tuing e João Wilson), que generosamente sugeriram e acompanharam reformas pontuais. Vale a pena conversar com o Henrique, que lá trabalha há 40 anos, pois ele tem a memória viva da evolução das condições físicas da nossa casa.
*Armando Lisboa é professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais do Centro Socioeconômico (CNM/CSE) da UFSC e ex-diretor da Apufsc-Sindical (2006-2010)
Artigo recebido às 11h22 do dia 19 de maio de 2025 e publicado às 12h17 do dia 19 de maio de 2025