*Por Lucas Nicolao
Na última sexta-feira, o conselho universitário se reuniu mais uma vez para discutir uma das recomendações apontadas no relatório final da Comissão Memória e Verdade (CMV) da UFSC. Processo iniciado e conduzido dentro da maior instância democrática da universidade que é o Conselho Universitário (CUn). Um tema justo e importante, pois, como comunidade, temos a liberdade de escolher quem são nossos homenageados. Um tema urgente também, pois se trata de um longo e valoroso trabalho da CMV e do CUn, e as oportunidades para reparações históricas são raras.
A direção do sindicato lançou uma consulta pública de opinião, de forma apressada, 24 horas antes da reunião do CUn. Uma consulta mal divulgada, cuja comunicação de login e senha não chegou a muitos filiados. O resultado é o menos relevante, até porque não saberia o que concluir de uma votação cujo resultado confronta a opinião de 11% dos filiados à de outros 9%, aproximadamente, contando aposentados e docentes da ativa, votada nas condições acima apresentadas. O mais relevante é discutir a gerência sobre nosso sindicato, e a que ele se propõe. Porque é grave a atitude de levantar essa consulta que busca deslegitimar a maior instância democrática da universidade.
A categoria docente já é bem representada no CUn por conselheiros eleitos para tal, e todo o conselho têm se dedicado longamente ao processo. A função da consulta lançada pela diretoria do sindicato é unicamente a de lançar dúvidas sobre o processo e à representatividade do CUn. Tanto que a consulta serviu a quem a encomendou, e foi logo utilizada na reunião do CUn como argumento contra o trabalho do conselho.
É evidente que nosso sindicato está sendo instrumentalizado para fins privados e não sindicais. A instrumentalização acontece através da diretoria do nosso sindicato. O não cumprimento do seu estatuto, que prevê que a reunião do conselho de representantes (CR) ocorra uma vez ao mês, é mais uma evidência da dificuldade da diretoria atual em conviver democraticamente com a categoria à qual pertence. O verniz democrático dado à consulta, apenas por se tratar de uma votação, não esconde a decisão monocrática da diretoria.
Este não é um caso isolado. Ao invés de discutirmos a sobrecarga de trabalho, a perspectiva do orçamento universitário e a garantia dos direitos dos aposentados, o sindicato se dedica de forma mesquinha à política universitária. Pela escolha de poucos, e não pela escolha da categoria filiada, que é a quem pertence o sindicato e é a quem ele deveria servir.
Aos colegas que por conveniência compactuam com a direção e função que seguidas diretorias têm dado ao sindicato, dois alertas: a atuação política local da diretoria é de natureza privada, e não coletiva, e por isso nem sempre lhes será conveniente; e quando um sindicato deixa de atuar enquanto uma associação de trabalhadores em defesa dos seus interesses profissionais coletivos, ou seja, quando se esquece da sua função, se revelará inútil no momento das lutas realmente necessárias em defesa do nosso trabalho.
*Lucas Nicolao é professor do CFM/UFSC
Artigo recebido às 10h35 do dia 16 de junho de 2025 e publicado às 10h53 do dia 17 de junho de 2025