Uma biologia racionalmente teísta

*Por Raul Valentim

Especialmente nos séculos XVII e XVIII renomados pensadores, conhecidos como deístas, analisando o cosmos e seu funcionamento harmonioso, chegaram à conclusão que deveria haver um Criador ou Organizador do Universo. Com os conhecimentos científicos hoje disponíveis esta conclusão torna-se bem mais lógica e facilitada. A mecânica quântica, a física e a química, bem como as quatro interações fundamentais, com suas respectivas matemáticas, podem ser racionalmente utilizadas como eficientes instrumentos reveladores desta tese.

Os avanços da biologia e especialmente da genética criam novas oportunidades para utilizar os conhecimentos científicos como mecanismos racionais de constatações reveladoras da efetiva existência de um Autor do universo e da vida. As evidências empíricas estão disponíveis em todos os recantos da Terra. O corpo humano, que tem sido mais estudado, pode ser suficiente para gerar convencimentos. Mas a diversidade de seres vivos, com suas características peculiares, facilita bastante esta tarefa.

Características reveladoras das obras do Criador podem ser encontradas nas localizações apropriadas de órgãos como ouvidos, olhos, narizes, bocas, línguas das milhões de diferentes espécies de animais que existem e que já existiram na Terra. As formas adequadas destes órgãos é outro desafiante ponto para possíveis alternativas de criação ateísta. As suas funcionalidades, sistemicamente organizadas, indispensáveis para a manutenção e reprodução da vida, agravam as dificuldades não teístas. Os processos bioquímicos, que em cada ser humano envolvem cerca de 37 trilhões de células em constante renovação, tornam inviável qualquer artimanha criativa ateia.

Os relacionamentos entre órgãos como ossos, músculos, tendões em diferentes articulações de diferentes animais, com seus comandos centralizados, configuram dificuldades criativas que inviabilizam totalmente alternativas de geração ateísta. A criação dos mecanismos de recuperação da saúde nos casos de ferimentos ou doenças, que asseguram a preservação da vida animal, também geram incontornáveis desafios racionais ateístas. Os processos de crescimento, harmonicamente realizados, partindo da célula zigoto, também tornam inexequível quaisquer alternativas de criação ateísta.

Todos esses argumentos teístas, altamente diversificados, tornam-se bem mais relevantes quando se constata que os seres vivos utilizam amplamente saberes científicos de mecânica quântica, física, química e de suas respectivas matemáticas. A absorção pelos vegetais da energia proveniente do Sol e sua transformação em energia química, viabilizando a vida animal, é uma comprovação deste saber científico inerente à biologia. Toda a dinâmica física e bioquímica observada na natureza, envolvendo uma imensa diversidade de enzimas, corrobora com essa importante constatação. Todos os conhecimentos científicos em biologia que foram descobertos pelos humanos são saberes inerentes aos seres vivos.

Os relacionamentos entre seres vivos dentro de cada espécie e entre diferentes espécies, envolvendo comportamentos inatos indispensáveis para a manutenção da vida, geram novos desafios para a criação ateia da vida terrena, altamente diversificada. Os diferentes cantos das múltiplas espécies de pássaros propiciam acasalamentos indispensáveis para a respectiva preservação. As vocalizações diferenciadas e os reconhecimentos individualizados exigem a utilização de múltiplos saberes científicos. A tese principal é que existe uma ciência universal que foi incorporada pela biologia no processo de criação das espécies.

A constatação racional mais desafiante para o ateísmo biológico encontra-se na genética. Os óvulos e os espermatozoides, de micrométricas dimensões, detêm informações sobre todo o futuro biológico do ser vivo gerado pelo zigoto resultante da fecundação. As células, que compõem os tecidos que formam os órgãos, sabem, em cada momento, o que fazer, como e onde fazer o que precisa ser feito. Os propósitos diferenciados são utilizados para os corretos acionamentos. Um diminuto ovo que compõe a ova de uma tainha sabe executar tudo que for necessário para gerar e manter viva uma descendente que vai poder gerar uma nova ova.

*Raul Valentim é professor aposentado do CTC/UFSC

Artigo recebido às 15h12 do dia 24 de junho de 2025 e publicado às 15h24 do dia 24 de junho de 2025